O Facebook deu-me a oportunidade de reparar – parcialmente, porque a omissão foi imperdoável – um pedaço da história que contei sobre os 30 anos da Passarela do Samba.
Não citei a comandante do Incrível Exército de Brancaleone da Comunicação e Correlatos, porque tudo ia acabar na área de imprensa.
Nesta tropa, eu, orgulhosamente, era soldado raso.
A jornalista Martha Alencar, Coordenadora de Comunicação do Governo do Estado, nos três anos iniciais do primeiro Governo Brizola.
E que ninguém pense que a tarefa insana dos 110 dias do Sambódromo acabou na Quarta-Feira, porque a mesma sanha furiosa era todos os dias, sobre os Cieps, sobre o Cada Família, um Lote, sobre a Fábrica de Escolas, sobre tudo e sobre qualquer coisa.
Marta – a quem só “vi”, nos últimos tempos, num programa radiofônico em que lembramos Brizola – é uma figura essencial naquele período – e em outros – de aventura generosa de nossas vidas.
Paciente, contida, enérgica quando algo é importante, e “sai-de-baixo” quando não tem outro jeito, é uma pessoa a quem devo muito do aprendizado daqueles anos.
Das lembranças daqueles dias, narradas por Martha, só tenho a dizer aos que não viram e não vêem as coisas serem assim: é tudo verdade!
Eu sei que todo mundo diz isso, mas fazer o quê? É tão inacreditável, mesmo…
Trinta anos esta noite!
Martha Alencar
A Rita, como sempre revirando as imagens do passado, trouxe para o Face o flagrante quase bucólico: há trinta anos eu pareço flanar no cenário do sambódromo em mais um dos 110 dias de construção.
Tão afável, tão gentil com a imprensa, a Coordenadora de Comunicação estava se armando com unhas e dentes para a inauguração e a implantação da Passarela do Samba , uma verdadeira operação de guerra comandada por Darcy e Brizola.
Deu no Globo ! Deu no JB ! Deu no Swan! Extra! Extra! Não vai ficar pronta! As arquibancadas vão desabar! As credenciais vão ser falsificadas ! Vai ser um prejuízo, quem vai pagar ? O samba vai atravessar !
A cada golpe, um contragolpe. O Globo publica a foto da arquibancada com uma rachadura? Montamos um espetacular teste de resistência das arquibancadas e convocamos a imprensa. A Globo não vai transmitir? Tem a Manchete. Vai ter derrame de ingressos falsificados? Chama–se uma auditoria internacional para a impressão e emissão de ingressos.
Às vésperas do desfile ocupamos as trincheiras como se estivéssemos no delta do Mekong. Secretários de Estado chegaram a carregar caixas de papelão com material de limpeza para distribuir às equipes . Afinal, banheiros sujos rendem manchetes…. Eu que era uma espécie de ministro do “vai dar merda” fiz a maior quilometragem da minha vida, virando redondo dois dias seguidos, resgatando em qualquer ponto da passarela algum jornalista, fotógrafo ou repórter, ou estagiário, ou cabo-man que se queixasse de alguma obstrução ao livre-trânsito. Já pensou a manchete ???? Vai dar merda, manda a Martha correr lá!
Na grande noite de encerramento o nosso exército Brancaleone sabia que havíamos vencido a guerra. Depois de tentar dar ordem à invasão de câmeras e jornalistas que se equilibravam no alto do arco da Praça da Apoteose para registrar a imagem de Darcy Ribeiro e Brizola sorridentes e bêbados de felicidade, larguei tudo com a sensação de dever cumprido e finalmente acompanhei a minha Mangueira fazendo a histórica volta pelo arco da Apoteose para encantar a avenida.
O samba não atravessou, a arquibancada não caiu, enfim, não deu merda. Hoje a Mangueira vai passar e nem sei quantos coroas no meio da multidão vão lembrar de Darcy Ribeiro e Brizola.
Trinta anos depois , gosto de lembrar e sinto falta, não da minha juventude na época, mas da fé inabalável que a gente tinha naquele projeto para o Rio e para o Brasil.
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