O golpe ainda não vingou. Se vai vingar, só saberemos mais adiante. Mas, desde já, é possível mensurar o que acontecerá no país se um bando de parlamentares envolvidos até o pescoço em corrupção – e processados por isso – cassarem o mandato de uma presidente contra quem não pesa nem mesmo acusação de desvio ético.
No próximo dia 31, quando o golpe de 1964 completar 52 anos, haverá uma manifestação gigantesca contra o golpe parlamentar que se avizinha. Será, sem sombra de dúvida, a maior manifestação com esse fim que o país já viu.
A resistência ao impeachment aumentou muito. Até setores da esquerda que torciam o nariz para defender o governo Dilma estão se posicionando contra. Até o PSOL, partido de esquerda que mais condescendeu com o golpismo, dividiu-se irremediavelmente. Pode-se dizer, hoje, que a maioria se posiciona contra o impeachment.
Grande parte da imprensa internacional enxerga o golpe como o que ele é, um golpe. Não estamos falando de qualquer veículo. The New York Times, The Guardian, Los Angeles Times, L’Humanité… Espalhou-se pela imprensa internacional a suspeita de que não há normalidade no processo que pretende jogar no lixo 54 milhões de votos.
Ao mesmo tempo, centenas de juristas condenam esse processo. Ministros do Supremo veem abusos nas investigações e violação do Estado Democrático de Direito.
Se o golpe vingar, o Brasil deverá mergulhar em uma tempestade de greves e paralisações. O Congresso ficará em pé-de-guerra. E quanto mais a situação da economia não evoluir, mais difícil será ao governo Michel Temer conseguir apoio para governar.
Os grupos de mídia formuladores de mais um golpe no país já tratam de preparar o terreno, ou seja, o espírito das pessoas para o fato de que a economia não irá reagir com a simples substituição de Dilma por Temer. É claro que durante algum tempo tentarão atribuir o caos na economia ao PT, a Lula, a Dilma, mas essa desculpa tem prazo de validade.
Concomitantemente aos problemas econômicos, o plano de um eventual governo Temer é desmontar o estado de bem-estar social edificado pelos governos do PT. O Congresso conservador, agora com o apoio do Planalto, tratará de suprimir direitos trabalhistas, colocando a massa trabalhadora em pé-de-guerra.
O pré-sal será entregue às petroleiras estrangeiras. A privatização da Petrobrás é uma possibilidade concreta.
Mas o pior de tudo está nas perspectivas. A estratégia usada para derrubar Dilma e jogar fora os 54 milhões de votos que a elegeram permanecerá pairando sobre a República. Nenhum governo estará seguro de que chegará ao fim, o que tornará o Brasil um país imprevisível, o que, vejam só, é o que há de pior para o capitalismo.
O capitalismo requer previsibilidade. Sem ela, não se anima.
O grande dano que o golpe causará à imagem do Brasil, porém, está no fato de uma presidente contra quem nunca terá pesado uma única ação na Justiça e nem mesmo uma investigação ter sido cassada por um Congresso cuja maioria de seus membros está sendo investigada e/ou processada por corrupção.
Se o golpe se concretizar, o Brasil estará com a sua imagem maculada para sempre. Será visto como uma republiqueta com instituições débeis e suscetíveis a arranjos políticos improvisados como o que terá resultado na derrubada de um governo legítimo e na mudança brusca das regras do jogo.
A instabilidade político-institucional fará deste país um alvo para saqueadores internacionais, que virão para cá pilhar o que puderem no menor espaço de tempo possível e irão embora. Não contem com investimentos de médio e longo prazos, não contem com fé neste país.
Os efeitos desse golpe irão perdurar por gerações. Os corruptos que terão derrubado Dilma para se safar das investigações irão interrompê-las e os órgãos de controle fortalecidos pelos governos do PT serão sumariamente desmontados.
O Brasil voltará a ser uma fazendona, com uma elite minúscula e uma massa descomunal de cidadãos comendo o pão que o diabo amassou.
A consequência mais imediata do aumento da pobreza e da desigualdade que se seguirá ao golpe será o correspondente aumento da violência e da criminalidade. Com a ascensão dos Bolsonaros da vida, tentarão combater o problema com violência policial e encarceramentos, o que só fará aumentar esse problema.
Este país irá mergulhar em um mar de violência, criminalidade e carestia.
Durante 13 anos, os brasileiros se acostumaram a melhorar de vida mês a mês, ano a ano. De 2003 a 2014, os salários e o nível de emprego só aumentaram e a pobreza e a desigualdade só caíram. É isso que os brasileiros querem de volta. Eu não queria estar na pele dos golpistas quando o povo descobrir que eles não trarão isso de volta.
E que, muito pelo contrário, farão a vida deste povo voltar ao que era antes de o PT chegar ao poder.
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PS: aconteça o que acontecer, este Blog estará sempre aqui externando suas posições, analisando o cenário e divulgando aquilo que o fascismo tupiniquim não quer que seja divulgado. Como este espaço nunca dependeu do poder para existir, se esse poder mudar de mãos nada mudará por aqui.
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