Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 7 de março de 2017

Só eleição não tira país da crise, há que restaurar democracia

temer pensa

Há um movimento de um grupo de militantes petistas que, apesar de não ser grande, tem feito barulho nas redes e conseguiu até levar um ex-ministro da Justiça a um “debate” sobre como obter a volta de Dilma Rousseff ao cargo via Supremo Tribunal Federal.
Muitos têm se irritado com uma suposta “inutilidade” dessa ação, já que (praticamente) todos sabem que a possibilidade de o STF anular o impeachment – com base em seus incontáveis vícios de origem – é muito menor do que zero vezes zero.
Diante da virtual impossibilidade de o golpe ser anulado, perguntei ao dito ex-ministro da Justiça se acreditava mesmo que o STF tiraria Michel Temer do cargo e instalaria Dilma de volta, e ele me respondeu com uma premissa:
— As pessoas precisam ter pelo que lutar
Autores dessa iniciativa estão sendo acusados de adotar um tom dito “impositivo”, do estilo “quem não estiver comigo está contra mim”… Porém, vale a pena refletir sobre parte do que essas pessoas dizem.
O que tenho ouvido de pessoas próximas a Dilma é que ela nem quer voltar à Presidência – por razões mais do que óbvias, pois sabe que, mais uma vez, não a deixariam governar –, mas os militantes da anulação do impeachment afirmam que ela quer voltar, sim…
Independentemente do que Dilma queira ou do que queiram seus apoiadores, o fato é que não existe a possibilidade de seres humanos conseguirem recolocá-la no poder – quiçá alguma força divina, mas há controvérsias.
Todavia, a virtual impossibilidade de anular o ato jurídico-político que derrubou a ex-presidente da República não invalida o fato de que essa derrubada ilegal lançou uma maldição sobre o Brasil.
Muitos analistas têm dito, com boa dose de razão, que só um presidente eleito legitimamente, ou seja, pelo voto direto e em eleições livres, terá legitimidade e força política para fazer com que os agentes econômicos voltem a acreditar no Brasil.
Eles estão certos, mas não totalmente.
Um dos argumentos mais fortes dos fundamentalistas pela volta de Dilma é o de que a sua (dela) derrubada ilegal, levada a cabo sob uma desculpa qualquer, comprometeu a democracia brasileira.
E eles, nesse aspecto, têm toda razão.
Inventar desculpa para derrubar um presidente e conseguir, transforma a democracia brasileira em uma farsa, ou seja, não existe democracia em um país no qual é tão fácil jogar no lixo o voto majoritário de dezenas de milhões de eleitores.
Com efeito, sem democracia sólida não dá para confiar nas regras do jogo.
Os golpistas acharam, em pleno século XXI, que derrubar um governo que não está fazendo o que o capital quer seria salvo conduto para o golpe e proteção total dos rigores da lei para os que atentam contra a vontade popular.
Não é bem assim. Enganam-se os liberais-golpistas de Pindorama. O capital não confia de verdade em países nos quais ele mesmo, capital, derruba governos com tanta facilidade.
O capital até pode rapinar o que houver para ser rapinado nesses países e dar no pé, mas não confia nesse país para nele investir a médio e longo prazos, ou seja, para investir de verdade.
Os liberais-golpistas-midiáticos confundem pirataria com colonização. Acham que violar o instituto sagrado do voto popular derrubando governos legitimamente eleitos não perturba planos de longo prazo no país que for vítima de tal fenômeno.
Ora, você investiria o seu rico dinheirinho em um país no qual você não sabe quem estará governando daqui a seis meses?
Você investiria alguma coisa em um país no qual você não sabe se um político que vencer uma eleição vai levar ou, mesmo levando a vitória, se vai conseguir se manter no cargo?
Enfim, você apostaria em países nos quais as regras do jogo só valem até que alguém, por um ato de força, mude-as de uma hora para outra?
De que adianta eleger Lula, Ciro Gomes ou Bolsonaro se ninguém sabe se, uma vez eleitos, vão conseguir implantar o projeto que conseguirem consagrar nas urnas? E esse é um dos argumentos dos crentes na volta de Dilma.
Segundo os que acreditam na possibilidade de fazer o acovardado STF criar coragem e cumprir a lei – e, aí, eles têm carradas de razão, de novo –, se Lula for eleito em 2018 a maioria de direita que será eleita para o Congresso na mesma eleição não iria deixá-lo governar.
Não tenho a menor dúvida de que qualquer candidato de esquerda que porventura se eleja em 2018 sem conseguir eleger uma bancada forte para atuar em sua base de apoio, não irá conseguir governar e correrá o risco de ser derrubado.
A nova (?) realidade gera novas premissas obrigatórias para todo candidato progressista a presidente.
Os vices, a partir do golpe liderado por Michel Temer contra Dilma, terão que ser muito mais bem escolhidos. Alianças da centro-esquerda com a centro-direita e a direita de aluguel tornar-se-ão inviáveis, o que é ruim para a centro-esquerda…
Hoje, estaria inviabilizada a eleição na qual Lula chegou à Presidência, em 2002. Todos saberiam do risco de ele ser derrubado à primeira crise de popularidade que surgisse por conta de problemas cíclicos nas economias.
Por um lado, é ruim para a esquerda. O Brasil é um país conservador que não resiste a votar em conservadores. Muito eleitor do PMDB, do PP e de outros partidos de direita votou neles para o Legislativo e em Lula ou Dilma para presidente.
Após o golpe de 2016, o que Lula ou qualquer outro candidato de esquerda terá que fazer, em 2018 e para sempre, será dizer ao eleitor, durante as campanhas eleitorais, que, se esse eleitor não votar nos candidatos a deputado e senador aliados a si, se eleito não conseguirá governar.
E poderá ser derrubado.
A possibilidade de golpe, de derrubada de governo legitimamente eleito, de parlamento que não deixa o eleito governar, vai entrar de vez nas campanhas eleitorais. Se, se não entrar, o eleito poderá ter um triste fim.
Diante disso tudo, os devotos da volta de Dilma têm razão ao menos em um ponto: eleger  Lula sem a reparação do golpe contra Dilma não vai adiantar nada.
Isso quer dizer que você é favorável ao movimento Volta, Dilma, Eduardo? Nunca fui contra, mas não acredito nele.
Acredito que sem a reversão do impeachment, a eleição legitima de um novo presidente só será crível para investidores se o eleito conseguir eleger consigo uma sólida base de apoio, alinhada a seu pensamento político-ideológico. Sem isso, não governará.
*
PS: Surgiu dúvida sobre se Lula irá depor a Moro por teleconferência ou presencialmente em 3 de maio. Nesse aspecto, matéria do portal G1, da Globo, afirma que “O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato na primeira instância, agendou nesta sexta-feira (3/3) o interrogatório dos réus na ação penal que envolve um triplex em Guarujá, no litoral de São Paulo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ser interrogado em 3 de maio, às 14h, na sede da Justiça Federal do Paraná, em Curitiba.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Mídia, empresários e PSDB prometeram que golpe consertaria economia

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caos capa

O impeachment de Dilma Rousseff foi vendido pela mídia, pelos grandes empresários e pelos políticos golpistas (PSDB e PMDB à frente) como panaceia para a crise econômica. Com base nesse estelionato político, grande parte da população apoiou o golpe.
caos 1Em dezembro de 2015, o jornal Valor Econômico afirma que “Empresários querem que processo de impeachment corra de forma rápida” para destravar a economia
Em maio de 2016, o jornal O Globo afirma que “A aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff abre espaço para uma retomada de confiança na economia brasileira”
Em agosto de 2016, a revista IstoÉ afirma que “Empresários aguardam o afastamento definitivo de Dilma Rousseff   para retomar investimentos”
Em setembro de 2016, o Correio Brasiliense afirma que “Para especialistas, PIB do país deve melhorar com impeachment de Dilma”.
Também em setembro, o dono da Riachuelo afirma que “Com impeachment, agonia [da economia] será curta”
Para não me estender muito, fecho as previsões empresariais, políticas e midiáticas de melhora na economia com o impeachment de Dilma com a previsão de um entre uma horda de políticos de direita que afiançaram à sociedade que o golpe resolveria tudo.
Em agosto do ano passado, o senador pelo PSDB mineiro Aécio Neves afirma que “Saída de Dilma é essencial para a retomada da economia”
Ou seja, o apoio de parcela majoritária da sociedade ao golpe decorreu de um estelionato político perpetrado a seis mãos pelo grande empresariado, pela mídia conservadora e por políticos de direita, que prometeram à população que tudo se resolveria como por mágica se a democracia fosse estuprada.
Contudo, muitos avisaram que era mentira. Este Blog, por exemplo, em abril do ano passado escreveu o seguinte:
“(…) A incerteza jurídica que se abaterá sobre um país que tira uma governante honesta e coloca picaretas investigados e processados em seu lugar terá repercussões imensas na vida econômica do país.
(…)
Se o golpe vingar, portanto, sobrevirá uma era de incertezas e de choques violentos na sociedade.
(…)
O que iria convulsionar o país e afundá-lo econômica e institucionalmente seria a forma como os golpistas iriam governá-lo se o golpe passasse. O desmonte de políticas públicas que tanto melhoraram a distribuição de renda e o nível de pobreza é um dos objetivos dos golpistas. E esse desmonte irá ocorrer.
De início, o desmonte do Estado de Bem Estar social edificado ao longo da era petista será levado a cabo timidamente. Com o passar do tempo, o ritmo será acelerado.
(…)
Tudo isso irá gerar um conflito social imenso, de proporções e intensidade imprevisíveis. Após mais de uma década melhorando de vida ano a ano, a maioria pobre dos brasileiros descobrirá que cometeu um erro imenso ao condescender com o golpe (…)”
Mas não foi só o Blog da Cidadania que previu o desastre. Bradando no deserto como esta página, a imprensa séria também avisou a desestruturação da economia que o golpe iria gerar.
caos 2Como se vê na matéria da BBC, foram os analistas internacionais que alertaram o Brasil para a insensatez que seria levar a cabo um longo processo de impeachment após um ano inteiro (2015) de sabotagens, com o Congresso, sob Eduardo Cunha, recusando-se a aprovar qualquer medida de Dilma Rousseff para sanear a economia e ainda criando as tais “pautas-bomba”, as quais criavam despesas no momento em que havia que conter gastos.
Isso sem falar na Lava Jato, que paralisou a Petrobrás e o setor de construção pesada brasileiro, responsável por uma fatia enorme do PIB.
Com a sabotagem e o longo processo de impeachment, a economia afundou. Mas não foi só. Ao passo que a economia afundava, instaurou-se um processo fascista no Brasil, com aumento da intolerância e do ódio.
Sob a “liderança” dos conservadores tucanos e peemedebistas, hordas fascistas se espalharam. Ministros de Estado, governadores de Estado, lideranças políticas de todo o país começaram a pregar contra o “politicamente correto” e a pregar a intolerância.
Na economia, o golpe foi mortal. Da derrubada de Dilma em abril para cá, a economia, em vez de melhorar como os golpistas prometiam, piorou. Basta uma busca no Google para comprovar.
caos 3Mas o caos legado pelo golpe não piorou só a economia (em boa parte, devido ao fato de que ninguém quer investir em país com democracia mambembe). A sociedade está enlouquecendo. Um massacre de presidiários em Manaus abriu a caixa de Pandora.
Políticos de direita como Bolsonaro, Feliciano, membros do governo Temer e o próprio governador do Amazonas começaram a defender chacinas de presidiários
A reação não tardou. Organizações criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC) começaram a promover mais chacinas em presídios e, vendo a comemoração dos setores enlouquecidos da sociedade, já partem para a radicalização.
Enquanto a mídia tucana minimiza o risco, o respeitado diário espanhol El País avisa que a organização criminosa promete promover ataques à população nesta terça-feira, dia 17 de janeiro.
Se vai se concretizar, tudo vai depender das negociações do tucano Geraldo Alckmin com o movimento – desde 2006, os governos tucanos de São Paulo vêm negociando com o PCC para que não promova ataques como o daquele ano.
Enquanto o país afunda por conta do golpe, os golpistas propriamente ditos e sua militância do ódio comemoram a derrubada do PT do poder após 4 mandatos e 13 anos vencendo sucessivas eleições contra os fascistas tucanos. Enquanto o país pega fogo, só conseguem se masturbar com o processo fraudulento que extinguiu a democracia brasileira.
A má notícia é que vai piorar, já que os golpistas pensam que estão abafando.
Menos mal que vão finalmente desencadear uma revolução francesa no Brasil. Esses que comemoram o golpe enquanto berram que são “ricos” vão se arrepender amargamente do que fizeram. O povo irá para cima deles. É só esperar.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Golpe está derretendo antes do que se pensava

geddel

Vai se cumprindo a previsão de que bastaria deixar a direita governar para ela se enterrar sozinha. Não poderia dar em outra coisa. O governo tucano-peemedebista fará pelo PT e pela esquerda em geral o que nenhum marqueteiro faria. Só o que está surpreendendo é a velocidade da deterioração do “governo” golpista.
Senão, vejamos o contexto em que tudo isso está sucedendo.
Enquanto a direita militante se masturba com a fictícia imagem mental de Lula preso, ele vai sendo absolvido por sucessivos delatores que não conseguiram oferecer nada mais do que a acusação sem provas que propiciou aos golpistas algumas manchetes espalhafatosas.
Moro, Dallagnol, Globo e cia. acusarem Lula é fácil, provar acusações falsas é que são elas. Moro pode não conseguir nem condenar o ex-presidente em primeira instância, apesar de que falta de provas nunca o impediu de condenar ninguém.
Mas não é (só) no fracasso anunciado em destruir Lula que reside o motivo não para comemoração – pois, fracassando ou não, o golpe terá causado prejuízos ao país que vão levar décadas para ser reparados –, mas para alento.
Este Blog quer reiterar, pela enésima vez, que, assim como o golpe era previsível com base em simples lógica, seu fracasso é igualmente previsível com base na mesma lógica.
Em primeiro lugar, a “inteligência” que justificou o golpe contra Dilma Rousseff vendeu a uma maioria de incautos a ideia estapafúrdia de que um grupo político que durante onze anos fez o desemprego cair, o salário aumentar, a economia crescer e a vida dos mais pobres melhorar de forma inédita, de repente, em um ano e pouco, do nada desaprendeu a governar.
Ora, o povo ficar em maioria ao lado dos golpistas foi uma atitude flagrantemente insensata. Esqueceu que votou no PT por QUATRO eleições presidenciais seguidas e, mais do que isso, esqueceu POR QUE votou repetidamente no candidato a presidente desse partido.
Ou alguém acredita que as dezenas de milhões de pessoas que deram quatro mandatos de presidente ao PT fizeram isso pelos belos olhos de Lula ou Dilma?
Ah, foram enganadas, é? Quer dizer que o primeiro mandato de Lula foi ruim e as pessoas quiseram votar nele pela segunda vez por isso?
Lula deixou o poder em 2010 com 80% de aprovação porque ninguém viu as atrocidades que ele cometeu entre aquele ano e 2002 ou porque os brasileiros julgaram que durante oito anos ele governou bem?
Lula elegeu Dilma em 2010 e ela se reelegeu em 2014 porque os períodos anteriores à eleição de dois anos atrás foram um desastre? Quer dizer que o povo votou pela quarta vez seguida no PT mesmo com seus três governos anteriores tendo sido uma droga?
Como se vê, não há lógica na premissa golpista. Assim como não houve lógica em a maioria da população apoiar a destituição de Dilma, conferindo-lhe, do nada, cerca de 10% de aprovação.
Faltou reflexão a este povo. Faltou tentar entender por que um partido que foi bom no poder durante 11 anos, de repente parou de funcionar. Se a maioria que abandonou Dilma, Lula e o PT tivesse pensado um pouco, veria que havia alguma coisa além das aparências.
Havia, como se sabe, sabotagem – o Congresso parou de votar qualquer matéria do interesse de Dilma, impedindo-a de governar, e a Lava Jato paralisou o setor mais dinâmico e que mais dinheiro movimenta na economia, o da construção pesada, gerando forte recessão, sem falar na crise de confiança dos investidores, que se recolheram vendo incerteza sobre quem iria governar o país.
Porém, como se dizia aqui nesta página antes do golpe, era bobagem pensar que a crise política pararia depois do golpe.
Primeiro erro dos golpistas foi achar que a sociedade aceitaria perder direitos e piorar de vida em troca da satisfação da sanha antipetista de uma sua parcela conjunturalmente majoritária. A vida das pessoas começou a piorar em ritmo acelerado.
Nenhum dos problemas na economia que predispuseram grande parcela da população contra Dilma, Lula e PT refluíu. Muito pelo contrário, a economia vem piorando.
Ao lado da piora da economia, os golpistas, acreditando que a maioria esmagadora do povo se convertera em gado e poderia ser “tocada” para qualquer lado pelo berrante midiático, começaram a propor extinção de direitos trabalhistas, precarização do trabalho formal, redução drástica de programas sociais…
Mas não é só isso. A ousadia golpista foi aos píncaros da desfaçatez. Acreditando que bastava tirar o PT do poder para obter salvo-conduto contra a lei e para roubar à vontade, Temer e cia. caíram na esbórnia.
Michê Temer nomeou um ministério composto em maioria por acusados de corrupção e investigados na Lava Jato. Transformou o governo federal em esconderijo para bandidos.
Temer se esqueceu que a maioria esmagadora dos escândalos dos governos petistas foram causados por conta de o PMDB fazer parte da aliança governista. E achou que bastaria trair Dilma e dar o golpe para tudo ser perdoado.
Talvez até fosse assim, mas a ousadia com que Temer e cia. tomaram o poder os fez ir longe demais. Mal Temer e sua quadrilha haviam assumido e o ministro da Saúde já deu a “singela” declaração de que haveria que reduzir o SUS…
Assim, como quem não quer nada.
Veio outro, o ministro da Justiça, e declarou que, derrubado o PT, o presidente da República não poderia mais ficar exposto a procuradores-gerais da República que não fossem aliados, pois esse cargo permite processar o presidente e qualquer outro político com foro privilegiado.
Alexandre de Moraes, para resumir, propôs a enormidade de que a escolha do PGR passasse a desconsiderar a orientação da maioria do Ministério Público do Brasil, o que se constituiu em meia confissão de corrupção.
O nível tosco dos peemedebistas se viu reforçado pelos tucanos. O PSDB mergulhou de cabeça na aventura temerária. Promoveu lambanças nas Relações Exteriores, ameaçando países vizinhos, dando declarações mal-educadas, avessas ao próprio conceito de Diplomacia.
Como se não bastasse, vem à tona que o moralista José Serra, o queridinho da mídia paulista e da esmagadora maioria de militantes de extrema-direita, tem problemas muito mais sérios que a falta de Educação que fez Katia Abreu lhe atirar uma taça de champanhe no rosto.
Os 23 milhões de reais (ou 34 milhões, se atualizados monetariamente) que Serra é acusado de receber de propina deixam a corrupção mineira parecendo uma brisa – não aquela brisa que você está pensando, mas uma brisa mesmo, um vento suave.
Mas a pá de cal no governo Temer é a queda de seu sexto ministro. Mais do que por qualquer outra coisa, porque esse episódio está permitindo provar definitivamente ao país e ao mundo que houve, sim, um golpe no Brasil.
Michel Temer e Geddel Vieira Lima cometeram crime de concussão. De acordo com o Código Penal, concussão é o ato de exigir, para si ou para outrem, dinheiro ou vantagem indevida em razão da função, direta ou indiretamente.
Trocando em miúdos: há provas materiais (gravações) de que Michel Temer e Geddel Vieira Lima, respectivamente presidente da República e (então) ministro da Secretaria de Governo, cometeram concussão ao pedirem ao (então) ministro da Cultura que tomasse medida ilegal para favorecer um deles.
O que faz o PSDB (Aécio Neves)? Critica o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, autor da denúncia, por ter gravado Temer. Aécio agiu como se o conteúdo da gravação não provasse que o presidente da República pediu a um ministro que tomasse uma medida ilegal para beneficiar um amigo e também ministro (Geddel).
Aécio, em suma, propôs, PU-BLI-CA-MEN-TE, que todos ignorassem gravações que podem mostrar Temer cometendo um crime. Por que? Porque, pela lógica tucana, Temer pode ter prova contra si que ela não vale, enquanto que Dilma pôde ser condenada sem uma única prova.
Eis o ponto: a comparação entre a causa da derrubada de Dilma e o crime de que Temer está sendo acusado (com prova gravada) vai mostrar ao mundo e a muito brasileiro ingênuo e de boa fé que acreditou nos golpistas que Dilma não foi derrubada por conta de crime algum, já que Temer tem um crime mais grave e mais provado contra si e o Congresso não se move para derrubá-lo.
O Congresso já estava ficando mal na foto por não ter convocado Geddel. Agora, vai ficar ainda pior por não ter arroubos moralistas diante de um crime tão tosco quanto o do ex-ministro e de Temer.
Temer vinha fazendo um esforço hercúleo para recuperar a imagem internacional do Brasil após o país ter sofrido um golpe parlamentar e jogado 54 milhões de votos no lixo. O esforço, porém, não vinha sendo bem sucedido. Em fóruns internacionais, o presidente golpista vem sendo tratado com frieza por seus homólogos.
Agora ficou pior. Como explicar à comunidade internacional que o Congresso brasileiro cassou uma presidente por medida administrativa que todos os antecessores tomaram e sem crime de responsabilidade e não se propõe a cassar um presidente que cometeu crime comum de corrupção, e com prova material desse crime?
Pois é, não dá pra explicar. Qualquer pessoa minimamente honesta sabe que agora está ficando claro que Dilma foi vítima de um golpe.
Como um governo tão fraco vai ter condições de tomar medidas como eliminar direitos trabalhistas?
Para Temer praticar as tais “medidas amargas” basta ter maioria em um Congresso em que parcela imensa dos integrantes está envolvida e/ou processada por corrupção?
Até quando o povo ingênuo vai ficar comemorando a queda de Dilma enquanto os golpistas e a mídia que o induziram tratam de reverter os benefícios sociais da era petista?
Ah, o povo quer perder direitos, ganhar menos, ter empregos sem garantias? Sério que você acha isso?
Começo a duvidar de que Temer vá levar até o fim projetos de mudança nas leis trabalhistas, previdenciárias e sobre programas sociais que fez tramitar no Congresso. Ele vai acabar vetando o que ele mesmo e seus amiguinhos tucanos propuseram.
Isso se ele não cair antes, é claro. De minha parte, espero que Temer governe até o último dia do mandato que usurpou de Dilma Rousseff. O povo brasileiro tem que arcar com a responsabilidade pela decisão de uma maioria conjuntural de abandonar o governo constitucional do país à própria sorte, nas mãos desses fascistas.
Sim, eu lamento que a permanência de Temer vá causar tantos males ao Brasil. Talvez ele não consiga tirar direitos ou programas sociais, mas irá desidratá-los, relativizá-los, venderá patrimônio público a preço de banana, fará concessões criminosas a grupos econômicos nacionais e estrangeiros…
Porém, se ele for defenestrado (certamente no ano que vem) todos sabemos que virá o pior dos piores. Todos sabemos que esse Congresso de maioria meliante irá colocar Fernando Henrique Cardoso no poder sem ele ter recebido um único voto.
E o que é pior: duvido que, empossado, FHC não faça o que fez em seu segundo governo, quando fez mudar a Constituição para alongar sua permanência no poder. E às custas de compra de votos.
Sim, voltamos ao primeiro mandato de FHC, voltamos a 1997, há quase vinte anos, quando o PSDB e o PMDB comandavam o país com mão de ferro, quando dispunham dos recursos públicos a seu bel-prazer, quando a mídia era só elogios e não existia corrupção no Brasil, segundo a mídia, já que, até então, o STF nunca havia condenado um político à cadeia.
Porém, a grande diferença é que hoje não dá mais para calar ninguém. Hoje qualquer garoto de oito anos pode colocar alguma coisa na internet que em questão de horas poderá ser lida por milhões e até bilhões de pessoas.
Se há vinte anos um garotinho gravasse com uma câmera a chegada de extraterrestres, haveria um longo caminho até que essas imagens e essa informação virassem notícias. No século XXI, esse garotinho posta o vídeo no You Tube via conexão 4g do local do pouso alienígena e em meia hora centenas de milhares ou até milhões de pessoas ficarão sabendo.
É por isso que o golpe está derretendo. Agora, é preciso que se cumpra a lei em relação a Michel Temer e Geddel Vieira Lima, entre tantos outros. Porém, não se pode desgostar da ironia poética de que os golpistas mesmos estão tratando de fazer Justiça consigo mesmos ao abusarem tanto da sorte e da patientia mostra.

Golpe está derretendo antes do que se pensava

geddel

Vai se cumprindo a previsão de que bastaria deixar a direita governar para ela se enterrar sozinha. Não poderia dar em outra coisa. O governo tucano-peemedebista fará pelo PT e pela esquerda em geral o que nenhum marqueteiro faria. Só o que está surpreendendo é a velocidade da deterioração do “governo” golpista.
Senão, vejamos o contexto em que tudo isso está sucedendo.
Enquanto a direita militante se masturba com a fictícia imagem mental de Lula preso, ele vai sendo absolvido por sucessivos delatores que não conseguiram oferecer nada mais do que a acusação sem provas que propiciou aos golpistas algumas manchetes espalhafatosas.
Moro, Dallagnol, Globo e cia. acusarem Lula é fácil, provar acusações falsas é que são elas. Moro pode não conseguir nem condenar o ex-presidente em primeira instância, apesar de que falta de provas nunca o impediu de condenar ninguém.
Mas não é (só) no fracasso anunciado em destruir Lula que reside o motivo não para comemoração – pois, fracassando ou não, o golpe terá causado prejuízos ao país que vão levar décadas para ser reparados –, mas para alento.
Este Blog quer reiterar, pela enésima vez, que, assim como o golpe era previsível com base em simples lógica, seu fracasso é igualmente previsível com base na mesma lógica.
Em primeiro lugar, a “inteligência” que justificou o golpe contra Dilma Rousseff vendeu a uma maioria de incautos a ideia estapafúrdia de que um grupo político que durante onze anos fez o desemprego cair, o salário aumentar, a economia crescer e a vida dos mais pobres melhorar de forma inédita, de repente, em um ano e pouco, do nada desaprendeu a governar.
Ora, o povo ficar em maioria ao lado dos golpistas foi uma atitude flagrantemente insensata. Esqueceu que votou no PT por QUATRO eleições presidenciais seguidas e, mais do que isso, esqueceu POR QUE votou repetidamente no candidato a presidente desse partido.
Ou alguém acredita que as dezenas de milhões de pessoas que deram quatro mandatos de presidente ao PT fizeram isso pelos belos olhos de Lula ou Dilma?
Ah, foram enganadas, é? Quer dizer que o primeiro mandato de Lula foi ruim e as pessoas quiseram votar nele pela segunda vez por isso?
Lula deixou o poder em 2010 com 80% de aprovação porque ninguém viu as atrocidades que ele cometeu entre aquele ano e 2002 ou porque os brasileiros julgaram que durante oito anos ele governou bem?
Lula elegeu Dilma em 2010 e ela se reelegeu em 2014 porque os períodos anteriores à eleição de dois anos atrás foram um desastre? Quer dizer que o povo votou pela quarta vez seguida no PT mesmo com seus três governos anteriores tendo sido uma droga?
Como se vê, não há lógica na premissa golpista. Assim como não houve lógica em a maioria da população apoiar a destituição de Dilma, conferindo-lhe, do nada, cerca de 10% de aprovação.
Faltou reflexão a este povo. Faltou tentar entender por que um partido que foi bom no poder durante 11 anos, de repente parou de funcionar. Se a maioria que abandonou Dilma, Lula e o PT tivesse pensado um pouco, veria que havia alguma coisa além das aparências.
Havia, como se sabe, sabotagem – o Congresso parou de votar qualquer matéria do interesse de Dilma, impedindo-a de governar, e a Lava Jato paralisou o setor mais dinâmico e que mais dinheiro movimenta na economia, o da construção pesada, gerando forte recessão, sem falar na crise de confiança dos investidores, que se recolheram vendo incerteza sobre quem iria governar o país.
Porém, como se dizia aqui nesta página antes do golpe, era bobagem pensar que a crise política pararia depois do golpe.
Primeiro erro dos golpistas foi achar que a sociedade aceitaria perder direitos e piorar de vida em troca da satisfação da sanha antipetista de uma sua parcela conjunturalmente majoritária. A vida das pessoas começou a piorar em ritmo acelerado.
Nenhum dos problemas na economia que predispuseram grande parcela da população contra Dilma, Lula e PT refluíu. Muito pelo contrário, a economia vem piorando.
Ao lado da piora da economia, os golpistas, acreditando que a maioria esmagadora do povo se convertera em gado e poderia ser “tocada” para qualquer lado pelo berrante midiático, começaram a propor extinção de direitos trabalhistas, precarização do trabalho formal, redução drástica de programas sociais…
Mas não é só isso. A ousadia golpista foi aos píncaros da desfaçatez. Acreditando que bastava tirar o PT do poder para obter salvo-conduto contra a lei e para roubar à vontade, Temer e cia. caíram na esbórnia.
Michê Temer nomeou um ministério composto em maioria por acusados de corrupção e investigados na Lava Jato. Transformou o governo federal em esconderijo para bandidos.
Temer se esqueceu que a maioria esmagadora dos escândalos dos governos petistas foram causados por conta de o PMDB fazer parte da aliança governista. E achou que bastaria trair Dilma e dar o golpe para tudo ser perdoado.
Talvez até fosse assim, mas a ousadia com que Temer e cia. tomaram o poder os fez ir longe demais. Mal Temer e sua quadrilha haviam assumido e o ministro da Saúde já deu a “singela” declaração de que haveria que reduzir o SUS…
Assim, como quem não quer nada.
Veio outro, o ministro da Justiça, e declarou que, derrubado o PT, o presidente da República não poderia mais ficar exposto a procuradores-gerais da República que não fossem aliados, pois esse cargo permite processar o presidente e qualquer outro político com foro privilegiado.
Alexandre de Moraes, para resumir, propôs a enormidade de que a escolha do PGR passasse a desconsiderar a orientação da maioria do Ministério Público do Brasil, o que se constituiu em meia confissão de corrupção.
O nível tosco dos peemedebistas se viu reforçado pelos tucanos. O PSDB mergulhou de cabeça na aventura temerária. Promoveu lambanças nas Relações Exteriores, ameaçando países vizinhos, dando declarações mal-educadas, avessas ao próprio conceito de Diplomacia.
Como se não bastasse, vem à tona que o moralista José Serra, o queridinho da mídia paulista e da esmagadora maioria de militantes de extrema-direita, tem problemas muito mais sérios que a falta de Educação que fez Katia Abreu lhe atirar uma taça de champanhe no rosto.
Os 23 milhões de reais (ou 34 milhões, se atualizados monetariamente) que Serra é acusado de receber de propina deixam a corrupção mineira parecendo uma brisa – não aquela brisa que você está pensando, mas uma brisa mesmo, um vento suave.
Mas a pá de cal no governo Temer é a queda de seu sexto ministro. Mais do que por qualquer outra coisa, porque esse episódio está permitindo provar definitivamente ao país e ao mundo que houve, sim, um golpe no Brasil.
Michel Temer e Geddel Vieira Lima cometeram crime de concussão. De acordo com o Código Penal, concussão é o ato de exigir, para si ou para outrem, dinheiro ou vantagem indevida em razão da função, direta ou indiretamente.
Trocando em miúdos: há provas materiais (gravações) de que Michel Temer e Geddel Vieira Lima, respectivamente presidente da República e (então) ministro da Secretaria de Governo, cometeram concussão ao pedirem ao (então) ministro da Cultura que tomasse medida ilegal para favorecer um deles.
O que faz o PSDB (Aécio Neves)? Critica o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, autor da denúncia, por ter gravado Temer. Aécio agiu como se o conteúdo da gravação não provasse que o presidente da República pediu a um ministro que tomasse uma medida ilegal para beneficiar um amigo e também ministro (Geddel).
Aécio, em suma, propôs, PU-BLI-CA-MEN-TE, que todos ignorassem gravações que podem mostrar Temer cometendo um crime. Por que? Porque, pela lógica tucana, Temer pode ter prova contra si que ela não vale, enquanto que Dilma pôde ser condenada sem uma única prova.
Eis o ponto: a comparação entre a causa da derrubada de Dilma e o crime de que Temer está sendo acusado (com prova gravada) vai mostrar ao mundo e a muito brasileiro ingênuo e de boa fé que acreditou nos golpistas que Dilma não foi derrubada por conta de crime algum, já que Temer tem um crime mais grave e mais provado contra si e o Congresso não se move para derrubá-lo.
O Congresso já estava ficando mal na foto por não ter convocado Geddel. Agora, vai ficar ainda pior por não ter arroubos moralistas diante de um crime tão tosco quanto o do ex-ministro e de Temer.
Temer vinha fazendo um esforço hercúleo para recuperar a imagem internacional do Brasil após o país ter sofrido um golpe parlamentar e jogado 54 milhões de votos no lixo. O esforço, porém, não vinha sendo bem sucedido. Em fóruns internacionais, o presidente golpista vem sendo tratado com frieza por seus homólogos.
Agora ficou pior. Como explicar à comunidade internacional que o Congresso brasileiro cassou uma presidente por medida administrativa que todos os antecessores tomaram e sem crime de responsabilidade e não se propõe a cassar um presidente que cometeu crime comum de corrupção, e com prova material desse crime?
Pois é, não dá pra explicar. Qualquer pessoa minimamente honesta sabe que agora está ficando claro que Dilma foi vítima de um golpe.
Como um governo tão fraco vai ter condições de tomar medidas como eliminar direitos trabalhistas?
Para Temer praticar as tais “medidas amargas” basta ter maioria em um Congresso em que parcela imensa dos integrantes está envolvida e/ou processada por corrupção?
Até quando o povo ingênuo vai ficar comemorando a queda de Dilma enquanto os golpistas e a mídia que o induziram tratam de reverter os benefícios sociais da era petista?
Ah, o povo quer perder direitos, ganhar menos, ter empregos sem garantias? Sério que você acha isso?
Começo a duvidar de que Temer vá levar até o fim projetos de mudança nas leis trabalhistas, previdenciárias e sobre programas sociais que fez tramitar no Congresso. Ele vai acabar vetando o que ele mesmo e seus amiguinhos tucanos propuseram.
Isso se ele não cair antes, é claro. De minha parte, espero que Temer governe até o último dia do mandato que usurpou de Dilma Rousseff. O povo brasileiro tem que arcar com a responsabilidade pela decisão de uma maioria conjuntural de abandonar o governo constitucional do país à própria sorte, nas mãos desses fascistas.
Sim, eu lamento que a permanência de Temer vá causar tantos males ao Brasil. Talvez ele não consiga tirar direitos ou programas sociais, mas irá desidratá-los, relativizá-los, venderá patrimônio público a preço de banana, fará concessões criminosas a grupos econômicos nacionais e estrangeiros…
Porém, se ele for defenestrado (certamente no ano que vem) todos sabemos que virá o pior dos piores. Todos sabemos que esse Congresso de maioria meliante irá colocar Fernando Henrique Cardoso no poder sem ele ter recebido um único voto.
E o que é pior: duvido que, empossado, FHC não faça o que fez em seu segundo governo, quando fez mudar a Constituição para alongar sua permanência no poder. E às custas de compra de votos.
Sim, voltamos ao primeiro mandato de FHC, voltamos a 1997, há quase vinte anos, quando o PSDB e o PMDB comandavam o país com mão de ferro, quando dispunham dos recursos públicos a seu bel-prazer, quando a mídia era só elogios e não existia corrupção no Brasil, segundo a mídia, já que, até então, o STF nunca havia condenado um político à cadeia.
Porém, a grande diferença é que hoje não dá mais para calar ninguém. Hoje qualquer garoto de oito anos pode colocar alguma coisa na internet que em questão de horas poderá ser lida por milhões e até bilhões de pessoas.
Se há vinte anos um garotinho gravasse com uma câmera a chegada de extraterrestres, haveria um longo caminho até que essas imagens e essa informação virassem notícias. No século XXI, esse garotinho posta o vídeo no You Tube via conexão 4g do local do pouso alienígena e em meia hora centenas de milhares ou até milhões de pessoas ficarão sabendo.
É por isso que o golpe está derretendo. Agora, é preciso que se cumpra a lei em relação a Michel Temer e Geddel Vieira Lima, entre tantos outros. Porém, não se pode desgostar da ironia poética de que os golpistas mesmos estão tratando de fazer Justiça consigo mesmos ao abusarem tanto da sorte e da patientia mostra.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Senadora Ana Amélia, não se alegre. STF apoiou o golpe de 1964

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EDUGUIM

Na semana passada, na Sessão do Senado destinada à discussão do parecer que analisava a procedência ou improcedência do impedimento da presidente afastada Dilma Rousseff, a senadora Ana Amélia, do PP do Rio Grande do Sul, proferiu uma frase infame que precisa ser rebatida em nome da verdade, da Justiça e do respeito à veracidade da história brasileira.

Ana Amélia disse ter “muita alegria” de “ser golpista ao lado de ministros do STF”. Disse isso porque o presidente do Supremo, Ministro Ricardo Lewandowski, preside o processo de impeachment de Dilma Rousseff. A senadora gaúcha tentou confundir o público transformando a presença dele em plenário em aval ao processo de impeachment.



Ana Amélia, que deve se julgar mais esperta que a esperteza, como quer confundir as pessoas poderia ter dito que, por Dilma estar se defendendo no processo, por seu advogado, José Eduardo Cardozo, frequentar as sessões do Senado que tratam do impeachment, por encaminhar petições e fazer sustentações orais, também está convalidando o processo.

Tanto Dilma não reconhece a seriedade do processo por se defender como Lewandowski não o avaliza ao presidi-lo. Dilma e Lewandowski participam do processo de impeachment porque o Senado, até o momento, não apoiou a tese farsesca aprovada pela Câmara dos Deputados em abril último. Dessa forma, participam sob a premissa de que o Senado pode agir corretamente e rejeitar essa farsa.

Não espanta, porém, que a senadora Ana Amélia veja na simples presença de Lewandowski no Plenário do Senado um aval à tese que desencadeou o processo de impeachment, de que Dilma cometeu crime de responsabilidade. Afinal, ela integra o Partido Progressista, o partido do golpe de 1964, o partido da ditadura militar, sucedâneo da Aliança Renovadora Nacional (Arena). E, como se sabe, ela não considera que houve um golpe em 1964.

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Mas não é só a natureza do partido que a senadora Ana Amélia integra que a levou a proferir tamanha infâmia; é sua ignorância da história do Brasil. Sim, porque o STF estar representado em um processo golpista não significaria nada mesmo que Lewandowski estivesse lá dando apoio ao impeachment – quando, na verdade, ele está lá cumprindo sua obrigação, assim como Dilma faz ao enfrentar o processo –, pois o STF carrega em sua história a mácula de ter apoiado o golpe clássico de 1964.

Aí vai, pois, uma breve aula de história para a senadora Ana Amélia, para que, por algum milagre, pare de proferir barbaridades e de esbofetear a tão maltratada democracia brasileira.
Em 1964, Alvaro Moutinho Ribeiro da Costa presidia o STF. Nessa condição, o ministro participou e deu cobertura ao golpe de Estado que depôs o presidente constitucional João Goulart.

Entre as 3 e as 4 horas da madrugada de 2 de abril daquele ano, Ribeiro da Costa presenciou e deu a bênção “constitucional” à posse do deputado Ranieri Mazzilli na Presidência da República.
A Presidência havia sido declarada vaga, e os golpistas anunciavam que Goulart deixara o país.

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Os golpistas rasgavam a Constituição vigente, de 1946, e o presidente do STF trombeteava que a deposição de João Goulart era constitucional.

Outro episódio do qual o STF não tem motivo para se orgulhar é a deportação de Olga Benario para a Alemanha nazista, em 1936. Alemã, judia, comunista, procurada em seu país, Olga estava grávida. Foi entregue pelo Brasil à Gestapo.

Quem a entregou: o STF, em tabelinha com Getulio Vargas, que dali a um ano cancelaria as eleições e instauraria a ditadura do Estado Novo.

Por maioria, mesmo sabendo da gravidez de Olga, o tribunal recusou habeas corpus e a expulsou. Motivo: ser “estrangeira” e por sua permanência no país supostamente “comprometer a segurança nacional”. Olga Benario foi morta em 1942, na câmara de gás do campo de Bernburg na Alemanha nazista. Tinha 34 anos, quando o STF a enviou à morte.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

O golpe passará. E o Brasil reencontrará seu caminho

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Uma horda tomou de assalto o poder no Brasil. Corruptos, misóginos, antidemocratas, ricos, brancos (e cristãos) se associaram numa extensa coalizão, passando por cima da Constituição e do Estado de direito. 
 
Políticos com extensa ficha criminal associados com perdedores das eleições, entorpecidos pelo ressentimento e cujas delações os colocam próximos à prática do banditismo, e o Parlamento mais pífio e conservador da história republicana promoveram uma “congressada” em dois tempos: primeiro na Câmara, que além de baixa é repugnantemente fétida; agora, na Senado, sob a batuta de políticos que envergonham qualquer parlamento no mundo democrático, salvo exceções em ambas as casas legislativas. Sem crime de responsabilidade  caracterizado, os inquisidores, impávidos, julgam a presidenta impunes; uma ação iliberal, porque sequer as leis são respeitadas.
 
Uma mídia venal, partidária, antidemocrática e antinacional tratou de “vitaminar” a sanha golpista. Manipulações de todas as ordens, mentiras e ódio passaram a pautar o cotidiano de um jornalismo que se transformou ora em entretenimento para esconder ou escamotear os fatos; ora em espetáculo inquisitorial.
  
A justiça, eterna servidora da casa grande, tão corrupta e elitista quanto os demais poderes, tratou de pavimentar os caminhos para a empreitada golpista. A corte mais alta assistiu impávida um bandido comandar a abertura do processo de impeachment; e qual tribunal de ninfas castas, acovardou-se quando um juiz - cujas ações seletivas e discricionárias expôs as vísceras de togados que agem seletivamente e são verdadeiros sepulcros caiados -, violentou a constituição permitindo a exibição, em rede nacional, de um grampo ilegal, a motivar a condenação tácita e pública da presidenta. 
 
Empresários do pato amarelo e seus patinhos associados, patrocinadores de golpes no passado e no presente, injetaram dinheiro sujo para todo o tipo de financiamento dos aventureiros golpistas. Sempre beneficiados pelo modelo econômico (especulação concentradora de riqueza e renda) e tributário (que penaliza o consumidor e isenta os ricos) e pelas benesses dos subsídios governamentais, resolveram que, a partir de agora, o assalto à Nação será escancarado e sem pudor.
 
Segmentos perversos da classe média, que não aceitam uma sociedade justa e igualitária, se agregaram a lideranças religiosas, intelectuais e subcelebridades para contaminar as redes sociais de ódio e espírito de vingança. Criaram heróis nacionais que fazem Hitler retorcer no túmulo de inveja e construíram uma narrativa quase hegemônica a justificar o injustificável.
 
Rezando na cartilha dos interesses norteamericanos, que não aceitam a autonomia dos povos latino-americanos, os usurpadores de plantão estão prontos a entregarem nossas riquezas minerais, como o pré-sal; nossos recursos da biodiversidade e nosso patrimônio imaterial: potências que podem transformar esse país numa grande nação.
 
Os partidos políticos, em sua maioria, se transformaram em gangues ávidas pelo poder a qualquer custo. Fins passaram a justificar quaisquer meios nas relações político-partidárias. Dispensam-se comentários sobre os caminhos trilhados pelos partidos de direita, aqui incluso o PSDB. Em síntese, flertam com o fascismo. Mas, é preciso registar que o PT foi dominado por grupos pragmáticos, políticos de péssima estirpe, interesseiros de todas as espécies que embarcaram quando o partido estava no poder e lá convivem se temor, nem pudor. Mostrou em reiteradas vezes que os ideais de seus fundadores na década de 1980 se transformaram em letra (quase) morta. Aqueles petistas coerentes, pouquíssimos e minoritários, que defendem uma refundação do partido, são vozes que clamam no deserto. O lema “o povo não é bobo, abaixo a rede globo” também poderá ser cantado para expurgar outros atores políticos. As eleições se avizinham...
 
Enquanto isso, o discurso e a prática fascistas vão tomando forma e vigor. O grupo usurpador tem uma agenda violentamente perversa contra os pobres, os trabalhadores, as minorias, o patrimônio público. Enfim, contra o Brasil e os brasileiros. Só aguardam a consolidação do golpe, do jogo jogado, para, de forma avassaladora, colocar em prática a política do desmantelamento do estado e da opressão social. Não medirão esforços para passar por cima daqueles que se colocarem no caminho, porque têm pressa em destruir o pouco que foi conquistado com duríssimo sacrifício pelo povo brasileiro desde a Constituição de 1988.
 
A maioria dos brasileiros ainda não entendeu o que ocorre. Não percebeu que o golpe não é contra uma presidenta, nem contra um partido. Apesar de desejarem destruir Dilma e o PT, os golpistas querem inviabilizar, definitivamente, a possibilidade real da construção de uma nação justa e solidária. Por isso, tanta pressa, tanta sanha, tanta violência, tanta cobiça, tanto ódio.
  
Independentemente de Dilma voltar ao poder, um número cada vez maior de brasileiros já entende: os golpistas escrevem o presente da nossa história. Têm nome e identidade. Mas não têm, como outrora, o controle total da informação. Portanto, não poderão sufocar a verdade. Não passarão!
 
Há muitos sinais de resistência. Os movimentos sociais estão se reativando. Os grupos historicamente oprimidos, como as mulheres, dão sinais de extraordinária vitalidade e engajamento cívico. E, certamente, quando os trabalhadores e os pobres perceberem que o pouquíssimo que conquistaram poderá ser perdido, aí teremos construído o caminho do retorno à democracia.
 
Os golpistas não entenderam que o acesso ao consumo nos últimos anos injetou nos trabalhadores desse país o vírus (ainda inativo) do inconformismo com a pobreza e a miséria. Uma pessoa que acostumou a ter um smartphone e uma TV de LCD, a comer carne, viajar de avião, frequentar shopping e universidade não aceitará nunca mais ser chicoteada pelos capatazes da casa grande. Isso explica o medo dos golpistas em relação a Paulo Freire e tanto desejo pela implementação da malfadada “escola sem partido”. Mas, a escassez (de trabalho, de possibilidades de consumo, etc.) e a miséria ativarão, mais cedo ou mais tarde, esse vírus (até agora) adormecido. A consciência coletiva produzirá distintos níveis de indignação. E a indignação será o instrumento das transformações. Esse é o grande temor dos golpistas.
 
Infelizmente, o pouco de consciência de pertencimento efetivo à Nação, ou seja, de sentimento e vivência da cidadania, veio pelos caminhos tortuosos do acesso ao consumo individualista; muito pouco contribuiu a educação e outras políticas públicas. Mas, seja como for, superaremos essa profunda violência a que fomos submetidos à medida que as pessoas se conscientizarem que a pobreza, a miséria e a desigualdade não são vontade de Deus; são imposições injustas de grupos de elite, inaceitáveis sob o ponto de vista ético, social, político e moral.
 
O precipício momentâneo será de suor e lágrimas. Mas, o Brasil reencontrará a planície da democracia.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Falsificação do Datafolha mostra medo que Senado rejeite impeachment


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Chega a ser um pouco engraçado o tom de surpresa que o laureado jornalista Glenn Greenwald e seu colega Erick Dau imprimiram a denúncia feita no excelente The Intercept – que, a partir de agora, passa a integrar os sites indicados pelo Blog da Cidadania. A matéria em questão, que você confere aqui, é idêntica a centenas de outras que esta página publicou sobre institutos de pesquisa nos últimos onze anos.

Que Diriam Grennwald e Dau da investigação na Polícia Federal que este Blog abriu anos atrás contra o Datafolha (entre outros) justamente por falsificação de pesquisas? Confira, abaixo, matéria do IG publicada à época.

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Seja como for, os jornalistas do The Intercept arrancaram uma bela informação de funcionária do Datafolha que, previsivelmente, em breve deverá estar engrossando a fila do desemprego.

Segundo eles, a gerente do Datafolha Luciana Schong “reconheceu o aspecto enganoso na afirmação de que [só] 3% dos brasileiros querem novas eleições, ‘já que essa pergunta não foi feita aos entrevistados’.
Luciana Schong também teria contado aos jornalistas que qualquer análise desses dados que alegue que 50% dos brasileiros querem Temer como presidente seriam imprecisos, sem a informação de que as opções de resposta estavam limitadas a apenas duas.

Onde quero chegar? Ora, não é surpresa para ninguém que os institutos de pesquisa ligados aos grandes grupos de mídia ou a partidos políticos ou entidades com interesses políticos claros “ajeitem” suas sondagens.

Bem, mas, então, qual é a novidade na manipulação que o Datafolha alega ter feito sob ordens do Grupo Folha?

Não é pouco um instituto de pesquisa manipular desse jeito uma sondagem. Afirmar que só 3% não querem novas eleições ou que o país mudou diametralmente de opinião sobre Temer sem que nada tenha melhorado – até por falta de tempo – não é pouco para uma empresa como o Datafolha, que vive da própria credibilidade.

O fato é que, ao contrário do que diz o Datafolha, é literalmente impossível que a popularidade de Temer e de seu governo não venham a despencar caso o golpe se torne definitivo. Temer já avisou que pretende tomar medidas “impopulares” que, obviamente, vão tratar de reduzir ainda mais a já baixíssima aprovação do governo interino e de seu titular – que, no momento, é de 14%, praticamente idêntica à de Dilma.

A ousadia do Datafolha ou do Grupo Folha – ou de ambos – provavelmente  deveu à percepção de que a aprovação do impeachment pelo Senado corre risco, do contrário o instituto de pesquisa não cometeria uma fraude tão grosseira quanto divulgar a informação falsa de que só 3% querem novas eleições, entre outras falsidades que transparecem da pesquisa.

Muitos petistas, inclusive, dirão que nem é tão bom que Dilma corra “risco” de voltar, pois quem passar os próximos dois anos fazendo o ajuste fiscal e tomando medidas impopulares por certo reabilitará a esquerda e a fará chegar forte a 2018.

Contudo, se Dilma voltar poderá impedir a privataria do pré-sal e a supressão de direitos trabalhistas, medidas temerárias que são o coração do golpe, a grande razão de esse ataque à democracia brasileira ter sido perpetrado.

Para o país será melhor que Dilma volte. Impedirá que todos paguemos pelo desatino da maioria – mas não de todos – que viabilizou o golpe execrando a presidente nas pesquisas, o que permitiu que os golpistas assumissem. Contudo, para a esquerda em geral a volta de Dilma não será boa. A direita continuará sendo pedra e a esquerda, vidraça.