Setores do PT articulam o lançamento da terceira candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. O evento seria na próxima sexta-feira (20/1) durante reunião do Diretório Nacional do partido, em São Paulo. É uma boa ideia. Talvez não no contexto pretendido inicialmente, mas certamente em outros contextos possíveis.
Antes de prosseguir, porém, quero avisar ao leitor que vou me valer, aqui, de um recurso estilístico conhecido como nariz-de-cera, ou seja, um longo preâmbulo ao tema central, determinado pelo título do post.
Nos últimos dias, foi anunciada proposta de setores do PT e de movimentos sociais de que o ex-presidente seja lançado candidato ao terceiro mandato com a plataforma de desfazer todos os atos do governo Michel Temer – em especial, o teto de gastos, a reforma da Previdência e eventuais retrocessos nos direitos trabalhistas.
A ideia é usar a força de Lula junto ao eleitorado, mensurada nas últimas pesquisas de opinião, como catalisador para uma “revolução” democrática com o objetivo de derrubar o governo Temer, convocar novas eleições e uma constituinte.
O grupo que planeja esses feitos não tem força para isso. A ideia vem da tendência petista Mensagem ao Partido, que defende uma espécie de “refundação” que boa parcela do PT rejeita por entender que passaria a ideia de “confissão” petista de que o partido fez realmente tudo de que os adversários o acusam.
Além disso, a tendência petista Mensagem pretende lograr o feito que seria derrubar Temer e convocar diretas já com apoio de um grupo que, por mais aguerrido que seja, não tem expressão para tanto. Qual seja o grupo, as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, o PCdoB, o PDT e o PSOL, além do próprio PT.
É mais ou menos o mesmo grupo político que não conseguiu nem barrar o golpe, de forma que derrubar os golpistas não está nem em cogitação pois precisaria deles todos para chegar aonde pretende.
Há outras iniciativas para resolver o problema para o Brasil em que se constituiu esse golpe. Uma delas é bancada por um pequeno grupo de petistas que almeja devolver o mandato de Dilma Rousseff, roubado descaradamente por uma maioria conjuntural de congressistas.
A ideia baseia-se em conseguir que o STF mande reintegrar Dilma ao cargo. Até ministros do STF antipáticos ao golpe dizem que isso é sonho de uma noite de verão. Decorreria uma crise institucional sem precedentes se o Judiciário fizesse tal interferência no Legislativo.
E esse não é o único problema. Há outros quase tão grandes quanto esse. Muitos outros.
Claro que Temer pode cair por si só, por atingir um nível de impopularidade insustentável. Ele mesmo havia dito que Dilma não resistiria no cargo com os 13% de popularidade que tinha. Pois pesquisa Datafolha divulgada em dezembro mostra Temer com 10%. E uma pesquisa Vox Populi mostra com 7%.
Temer também poderia cair se a chapa dele e de Dilma Rousseff na eleição de 2014 fosse cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral, mas depois que a presidente legítima foi derrubada a “pressa” que a Corte tinha se esvaiu.
Contudo, essa “alternativa”, esse plano B para Temer ser retirado do cargo se sua impopularidade continuar caindo – do jeito que vai, ele será o primeiro político do mundo a ter 100% de impopularidade – ficará em aberto e, assim, os capas-pretas da nação poderão acelerar a cassação da chapa eleitoral a qualquer momento.
Ao contrário do que disse Temer, porém, é possível, sim, um presidente governar com baixa popularidade. Temer está governando. Tem apoio no Congresso e a mídia quase não o incomoda.
Contudo, além da incompetência temerária ainda tem o problema do envolvimento do presidente da República e de boa parte de seu governo em escândalos de corrupção denunciados no âmbito da Operação Lava Jato. Mais uma vez, porém, há uma contrapartida: a Lava Jato só se interessa em prender Lula e outros petistas.
A possibilidade de a Lava Jato, julgada pelo STF, tirar Temer do cargo, portanto, deve ser próxima de zero… Se não for negativa.
Enfim, caro leitor, chegamos ao xis da questão: o Brasil é hoje um gigantesco caldeirão de incertezas que borbulham com força cada vez maior ao passo que a situação criada pelo golpe vai ficando mais insustentável. E essa insustentabilidade não para de crescer porque a economia já não aguenta mais não saber minimamente para onde o país vai.
O que está fazendo a recessão se transformar em depressão econômica é justamente isso, o fato de que não se sabe para onde o país vai, já que, ao mesmo tempo em que o governo corre o risco de cair – e, com ele, toda a direção econômica privatista, conservadora e antipopular que imprimiu –, não se sabe se em seu lugar viria um governo de tendência oposta, ou seja, nacionalista, estatista, de direita ou esquerda, que poderia decorrer de uma eleição direta já.
Sem saber para onde o Brasil vai, ninguém vai investir. Nem brasileiros nem estrangeiros. Só um pacto político entre coxinhas e petralhas poderia criar as condições mínimas para o capital acreditar no Brasil, pois saberia que ganhasse quem ganhasse as regras do jogo seriam respeitadas.
Este Blog escreveu isso dezenas de vezes, que o golpe não melhoraria a crise econômica, aprofundaria. Aliás, nem era uma previsão prodigiosa, muito pelo contrário. Era óbvio que um golpe de Estado, mesmo sendo parlamentar, tornaria as coisas incertas no país simplesmente porque os golpeados dessa forma não se conformariam e, ao não se conformarem, manteriam a temperatura política alta.
O mais irônico é que um golpe dado em prol dos interesses do capital gerou nele uma incerteza atroz sobre o rumo do país e, consequentemente, uma total abulia empreendedora, ou seja, disposição zero para investir em ambiente tão conturbado.
Ao se negar a se espalhar na cama que os golpistas prepararam o capital os enfraquece, pois precisavam dele para que o país voltasse a funcionar “normalmente” após a anormalidade do golpe.
Não importa muito o que eu ou você achamos disso tudo que vai acima. Tudo isso está acontecendo no Brasil meio que à base de inércia, por conta do impulso inicial – o golpe.
O que importa é o que vai acontecer e, em menor escala, o que as pessoas comuns como nós poderão fazer para mudar alguma coisa.
A dinâmica da destruição das alternativas políticas tradicionais pela Lava Jato não é boa para o Brasil. Não em um ambiente como o que está posto, de crise econômica e política sem precedentes.
Se o país estivesse funcionando normalmente, se a economia não tivesse sido sabotada para os conservadores dos partidos, da mídia, do empresariado e do Judiciário conseguirem tirar o PT do QUARTO MANDATO CONSECUTIVO que conseguira (com ameaça de conseguir o quinto), talvez fosse proveitosa uma depuração completa da política, um “começar de novo”.
Do jeito que estão as coisas no país, a eleição presidencial de 2018 (se houver essa eleição) pode levar até algum tipo de Bolsonaro ao poder – nem precisa ser ele, mas alguém como ele –, ou algum líder religioso exaltado pelas massas como “escolhido”.
Ou coisa pior…
Um dos cenários possíveis, porém, é o que talvez seja o melhor. Por ter lado, claro que dirão que estou concordando comigo e não com os fatos, mas notem que o que vem adiante é só uma das muitas probabilidades que estão postas.
Não será demais alguém querer que só essa hipótese não seja aventada? Então controlem-se, meus caros reacinhas. Vamos ter que testar uma hipótese da qual vocês não gostam.
A hipótese Lula. Sim, ele não está morto coisa nenhuma. Está tão vivo que não para de crescer nas pesquisas e reduzir sua rejeição. Ao longo de 2016, deixou uma quase “lanterna” da eleição presidencial em primeiro turno e assumiu a liderança em todos os cenários, e sua rejeição caiu consideravelmente, conforme o Datafolha
Após essa pesquisa Datafolha de dezembro, houve uma tempestade contra Lula. Desencadeada pela Lava Jato. Houve uma série de indiciamentos do ex-presidente, de forma que pareceu uma espécie de retaliação.
Na Pesquisa Vox Populi feita simultaneamente à pesquisa Datafolha de dezembro, Lula perdia (por pouco) de Marina Silva no segundo turno. No Vox, Lula derrota a todos tanto em primeiro quanto em segundo turnos. Inclusive Marina.
Chegamos a janeiro e as pesquisas internas dos partidos e da mídia continuam brotando sem parar. Nas mais recentes, Lula aparece em nova alta em relação a todos; aos tucanos, a Bolsonaro, a Joaquim Barbosa, a Sergio Moro etc.
No Congresso, já tem parlamentar que apoiou o golpe se dizendo arrependido. Um dos golpistas mais furibundos declarou, recentemente, que se arrependeu de votar pelo impeachment porque o governo Temer seria “pior do que o governo Dilma”.
Outros parlamentares golpistas já concordam que se Lula governasse o país este não teria entrado na enrascada em que está, mas não são os parlamentares da atual Legislatura que vão decidir alguma coisa caso a democracia brasileira não seja formalmente interrompida, em um adiamento improvável, porém jamais impossível, da eleição presidencial de 2018.
Observação: coloquem FHC no cargo neste ano por via indireta para ver se ele dá ou não um jeito de conseguir se manter no cargo por no mínimo quatro anos.
Seja como for, se houver eleição daqui a menos de dois anos Lula pode chegar lá como candidato imbatível. Sim, é isso mesmo: im-ba-tí-vel
Ah, Lula vai ser preso ou estará inelegível? Você acha mesmo que é preciso lembrar isso? Acha que eu ou qualquer um que trate do assunto não sabe que tentam prendê-lo para impedi-lo de disputar 2018?
Há que ver se conseguirão condenar Lula. Podem conseguir, sim. Mas para colocarem o líder da oposição na cadeia vão ter que arrumar provas que, até o momento, não existem.
Ou alguém acha que existe alguma prova?
Nem os procuradores da Lava Jato, os acusadores formais de Lula, afirmam que existem provas contra ele. Em setembro, o procurador da República Roberson Pozzobon, que acusa Lula de corrupção pelo sítio em Atibaia e pelo tríplex do Guarujá, declarou:
“Não teremos aqui provas cabais de que Lula é o efetivo proprietário, no papel, do apartamento, pois justamente o fato de ele não figurar como proprietário é uma forma de ocultação.”
Onde é que se propõe colocar alguém na cadeia sem provas cabais? Só nas ditaduras.
Mas como quem pretende tirar Lula da eleição ainda não sabe como vai fazer isso por ainda não ter os instrumentos necessários, as provas, é lícito conjecturar como estará a situação política do ex-presidente em 2018.
Para o colunista da revista Veja, da Folha de São Paulo e da Jovem Pan Reinaldo Azevedo, se Lula não for preso ele vai se eleger presidente em 2018. Em seu blog, em 18 de dezembro, ele concluiu assim um artigo:
“Não existe vácuo na política. Se a ideia é reduzir o país a uma grande delegacia de polícia, todos se igualam. No ambiente de terra arrasada, quem tem mais estrutura e experiência acaba obtendo vantagem ou recuperando o terreno. Agora resta à direita burra torcer para que Lula esteja preso até 2018”
Se Reinaldo Azevedo acha que Lula se elege presidente em 2018 se não estiver preso ou inelegível, quem sou eu para discordar, não é mesmo? E como a Lava Jato não tem provas, segundo ela mesma, é lícito presumir que o ex-presidente tem muita chance de continuar crescendo até um ponto em que surja um clamor popular por sua volta.
A boa notícia, o que está animando setores do PT a proporem já uma terceira candidatura Lula, é que novas sondagens internas dão conta de que ele continua se fortalecendo. Pesquisas qualitativas estariam sugerindo que, conforme Temer vai se associando a má gestão, à piora da economia e à retirada de direitos, a alternativa Lula vai se tornando irresistível devido ao “recall” (recordação inconsciente) do período em que ele governava, um período de grande prosperidade que fez com que ele deixasse o poder com OITENTA POR CENTO DE APROVAÇÃO.
Para tanto, as cretinices e os planos nefandos dos golpistas vão assustando a sociedade.
Reforma da Previdência, reforma trabalhista, redução do SUS, gastos públicos congelados por 20 anos e até a tentativa canhestra de acabar com a internet de banda larga no Brasil passando a cobrar por quantidade de dados, farão Lula subir muito nas pesquisas.
Não haverá Lava Jato sem provas que consiga impedir que o povo clame pela volta do ex-presidente. E para que isso aconteça não precisa muito. Basta deixar Temer e o PSDB governarem. Eles mesmos vão convencer os brasileiros a clamarem nas ruas, nas empresas, nas escolas, na academia, pelos quatro cantos do país, que querem Lula de novo.
Lula já divulgou até a sua plataforma de governo. Se ainda não assistiu, vale assistir.
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