E o Caso Lunus, Zé Serra?
Acusações de uso de máquina pública em época de campanha se sucedem a cada eleição, em qualquer esfera de poder.
A prática é evidente, mas, somente alguns, bem poucos, chegam a perder o mandato por conta dela. É o caso do ex-governador da Paraíba Cássio Cunha Lima (PSDB).
Boa parte das denunciados se beneficia da morosidade dos processos e chega até mesmo a se reeleger. E, como se vê, nem a promissora Lei da Ficha Limpa vem conseguindo barrar os fichas sujas.
Entra ano, sai ano e o aparelhamento do Estado está lá. Uns o fazem de maneira explícita, outros optam pela discrição.
Mas, o certo é que a estrutura dos governos continua a servir eleitoralmente a quem ocupa o poder – as vezes com práticas das mais rasteiras.
Ontem, José Serra, candidato do PSDB à Presidência, condenou o fato de o presidente Lula ter usado um evento de governo para elogiar a presidenciável do PT, Dilma Rousseff.
“Usar a máquina governamental em uma campanha do jeito que está sendo usada mostra, basicamente, que a candidata não consegue andar sobre suas próprias pernas”, afirmou.
Serra também acusou o PT de usar a máquina pública para espionar adversários. Para ele, o vazamento de dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Pereira, foi apenas mais um caso.
“Uma coisa ficou caracterizada: foi usado o aparato governamental para a espionagem. E não é a primeira vez”, disse.
Como exemplos, citou a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa e o dossiê sobre a ex-primeira-dama Ruth Cardoso.
Diante do fato, um leitor do Blog que se denomina Antonio Ateu postou, no espaço para comentário, o passo a passo publicado pela revista Istoé em 2002 do famoso Caso Lunus.
O resumo da ópera é o seguinte: "grampos telefônicos ilegais, um dossiê e uso político da Polícia Federal tiraram Roseana Sarney do caminho de José Serra, do PSDB, na disputa presidencial de 2002".
Na época, Serra era ministro da Saúde e Roseana governava o Maranhão pelo PFL, hoje DEM, partido que está na vice do tucano na atual campanha. Veja o passo a passo do Caso Lunus:
Novembro de 2001: A firma Interforte de José Heitor Nunes e Jonathan Sardenberg é contratada para grampear Roseana Sarney, sua família e investigar os negócios da empresa Lunus.
Novembro: Heitor comenta sobre o grampo que está fazendo nos telefones de Roseana. A um interlocutor, oferece, em troca de um valor, informações sobre seu trabalho e o nome de quem encomendou a arapongagem. O negócio não se realiza.
Dezembro: Arapongas espalham que foram contratados pelo PSDB para produzir um dossiê contra a família Sarney.
Fevereiro de 2002: O dossiê contra Roseana fica pronto. Ele tem três partes. A primeira, com as doações para a campanha do PFL. A segunda, com as empresas da governadora e seu marido e suas ramificações com a Sudam. E a terceira, com fotos íntimas. É oferecido a Anthony Garotinho (PSB) para ser usado como arma na campanha. O então governador recusa e procura o senador José Sarney, informando que seu interlocutor se apresentou como emissário do deputado Márcio Fortes (PSDB-RJ), um dos coordenadores da campanha de José Serra.
Fevereiro: Os senadores Sarney e Edison Lobão procuram FHC e contam que agentes da Abin estiveram em cartórios no Maranhão vasculhando as empresas dos Sarney. O presidente chama o general Alberto Cardoso, que nega a participação da Abin.
Dias 20, 21, 25, 26, 27, e 28 de fevereiro: O pubicitário Luís Alberto Marques troca telefonemas com Heitor, que também conversa diversas vezes com Jonathan.
28 de fevereiro: Com ordem judicial, uma equipe da PF se desloca de Brasília para São Luís. Heitor e Marques trocam quatro telefonemas.
1º de março: Às 14h15, depois de pegar os mandados
4 de março: Sarney Filho pede demissão da pasta do Meio Ambiente. Três dias depois, o PFL deixa o primeiro escalão do governo FHC. Marques e Heitor trocam um telefonema.
12 de março: Murad dá coletiva para renunciar ao cargo de secretário de Planejamento do Maranhão. Diz que o dinheiro achado na Lunus era para a campanha de sua mulher. Marques e Heitor trocam mais um telefonema.
Março: O governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), denuncia que também foi grampeado por dois meses. Ele diz que havia sido informado por Sarney de que os arapongas buscavam ligações entre Murad e seu irmão, Carlos Jereissati. Tasso culpa Serra e Márcio Fortes pelo grampo.
20 de março: Às 15h55, Sarney sobe à tribuna do Senado e faz um duro discurso, de 80 minutos. Culpa Serra e o governo pela espionagem contra Roseana e compara o grampo contra sua filha a outro caso mais famoso, o Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon.
27 de março: A PM do Maranhão invade uma casa
13 de abril: Roseana renuncia à sua candidatura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
comentários sujeitos a moderação.