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domingo, 23 de janeiro de 2011

Declaração de guerra do Nobel da Paz




Reproduzo artigo de Domenico Losurdo, publicado no sítio Voltaire:

Transmitido ao vivo através das principias redes de televisão do mundo, o discurso pronunciado pelo presidente do Comitê do Nobel, Thoebjoern Jangland, durante a entrega do Prêmio Nobel da Paz a Liu Xiabo, é um verdadeiro manifesto de guerra.



Seu conceito fundamental é tão claro como grosseiro e maniqueísta: “As democracias [capitalista] não fazem guerra entre si e nunca farão. Portanto, para que a causa da paz triunfe uma vez por todas é preciso fazer propaganda da democracia em escala planetária”.

Quem fala assim está ignorando a história. Ignora, por exemplo, a guerra entre Grã-Bretanha e Estados Unidos, 1812-1815, dois países “democráticos” que formam parte da “pragmática” e “pacífica” estirpe anglo-saxônica. Aquela guerra alcançou tal grau de fúria que Thomas Jefferson chegou a comparar o governo de Londres com o “satanás” e declarou, inclusive, que a Grã-Bretanha e Estados Unidos estavam travando uma “guerra eterna” e que ela somente acabaria com o “extermínio” de uma das partes.

Ao identificar a causa da paz com a da democracia capitalista, o presidente do Comitê do Nobel embeleza a história do colonialismo. Nela o que se vê é que muitos países “democráticos” promovem o expansionismo recorrendo à guerra – à mais brutal forma de violência e, inclusive, à prática com caráter genocida.

Não se trata apenas do passado. Através de seu discurso, o presidente do Comitê legitimou a “posteriori” a primeira guerra do Golfo, a guerra contra a Iugoslávia e a II guerra do Golfo, desencadeada pelas potencias “democratas” em nome da “democracia”.

O maior obstáculo à propaganda universal da democracia é representado hoje pela China, que constitui ao mesmo tempo o foco mais perigoso da guerra. Lutar por todos os meios para uma “mudança de regime” em Pequim representa uma nobre empreitada a serviço da paz. Esta é a mensagem transmitida ao mundo inteiro em Oslo, precisamente no momento em que toda uma frota de guerra estadunidense está “treinando” a pouca distância das costas chinesas.

Um ilustre filósofo ocidental e “democrata”, John Stuart Mill, defendeu em sua época as guerras do ópio desencadeadas contra a China como uma contribuição à causa da liberdade, incluindo a liberdade do “comprador” à frente “do produtor ou do vendedor”.

Esta é a nefasta tradição colonialista seguida pelos senhores da guerra em Oslo. O manifesto do presidente do Comitê da Paz deve soar como um toque de alarme aos ouvidos dos verdadeiros defensores da paz.

* Domenico Losurdo é filósofo, historiador e professor da Universidade de Urbino (Itália).

* Tradução de Sandra Luiz Alves.

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