Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Onde está a classe média ? Foi para Miami ?


Aviso fúnebre



Conversa Afiada reproduz texto de Marilia Amorim:

Por onde anda a classe média ?


Em dezembro último, fui a um belíssimo concerto no belíssimo Teatro Municipal do Rio de Janeiro e a sala estava vazia em mais da metade. Nesse mês de janeiro, está acontecendo um festival de jazz na Sala Baden Powell em Copacabana com músicos da melhor qualidade, quase todos brasileiros, e a sala também está vazia em mais da metade.


Como diz um amigo meu francês, brasileiro só gosta de show que tem música conhecida. E que tenha letra e seja cantada, para ele poder cantar junto.


A loja Modern Sound fechou. Para quem não é do Rio, essa era a nossa melhor loja de discos. Digo discos porque ela existia desde os anos sessenta e era uma referência para quem queria encontrar música clássica, jazz e música instrumental.


Ela era um ponto de encontro e de bons papos sobre música. Os vendedores bem informados, conheciam tudo de música e dava prazer conversar com eles. Um deles cantava muito bem e dava umas canjas no Allegro Bistrô, espaço de shows que a loja havia inaugurado nos anos 90.


Por que fechou? Porque não se compra mais cds, “baixa-se” tudo na internet.


Ao lado da Modern Sound, havia sido inaugurada uma filial da excelente livraria Argumento. Mas, pouco tempo depois, essa filial fechou e, em seu lugar, abriu uma academia de ginástica. Pois acabo de saber que a matriz, a Argumento do Leblon, também vai fechar. Outra livraria, a Letras e Expressões, também fechou a filial de Ipanema e a do Leblon.


Quem era o público desses lugares ? A classe média culta, que havia estudado em boas escolas e que tinha, como valor maior, o acesso à cultura. Cadê essa gente? Não falo da nova classe média, a oriunda de classes menos favorecidas, até porque essa acabou de chegar e não pode ser responsabilizada pelo deserto cultural em que o Brasil se transformou.


No lugar desses antigos espaços de cultura, abrem-se shoppings e academias de ginástica. Pelo visto, é lá que a classe média foi parar. Ou então nos restaurantes. Basta ver o número de páginas dedicadas à “gastronomia” dos cadernos de programação cultural dos grandes jornais, como o Rio Show do jornal O Globo. Se fizermos as contas, o assunto que mais dá capa de revista nesses cadernos é comida o que, de certo modo, espelha e ao mesmo tempo forma o gosto e as escolhas da classe média.


Leio nos jornais que o n° de brasileiros que viaja de avião aumentou significativamente e isso é muito bom. De fato, basta passar por aeroportos internacionais para se constatar que a classe média brasileira também gosta muito de viajar para o “estrangeiro”. Mas para fazer o quê ? Compras ?


O crescimento econômico do Brasil é uma excelente notícia e nos deixa cheios de esperança e otimismo. Mas se alguma providência urgente não for tomada (não sei exatamente qual e espero que a ministra Ana Holanda e sua equipe encontrem uma solução) o Brasil vai se tornar uma imensa Miami.


Marilia Amorim

Carioca, possui doutorado em Ciências Humanas e da Educação com a tese “ Le texte de recherche en sciences humaines: une approche bakhtinienne du problème de l’altérité”, na Universiade de Paris-8. Ex-professora do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é atualmente professora do Departamento de Ciências da Educação da Universidade de Paris. É autora dos seguintes livros: “Raconter, démontrer,  survivre: formes de savoir et de discours dans la culture contemporaine” e “Dialogisme et altérité dans les sciences humaines”. Organizou o livro coletivo “Images et discours sur la banlieue” (todos na França). E “O pesquisador e seu outro: Bakhtin nas ciências humanas”. É coautora do livro “Bakhtin: outros conceitos-chave” .


Em tempo: em São Paulo, trava-se uma luta para preservar as salas de cinema Belas Artes, de programação cultural invejável.

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