Redação Carta Capital 14 de outubro de 2011 às 15:53h
Depois do episódio do metrô em Higienópolis, no qual moradores do bairro paulistano lutaram contra a construção de uma estação de metrô na região com o intuito de afastar “gente diferenciada” (entenda-se “pobres”), um novo capítulo higienista começa a ser escrito em São Paulo. “É de provocar inveja a qualquer higienista social do Terceiro Reich a demonstração de tal insensibilidade”. A declaração é do promotor público Maurício Antonio Ribeiro Lopes, dada ao jornal O Estado de S. Paulo desta sexta-feira (14), sobre um abaixo-assinado entregue esta semana no Ministério Público por comerciantes e moradores do bairro de Pinheiros, de classe média. Os moradores pedem a manutenção do endereço do albergue Cor da Prefeitura, que abriga pessoas em situação de rua, onde está atualmente, em uma região considerada por eles como menos nobre do bairro.
Com a mudança da Rua Cardeal Arcoverde, 1968, para um outro trecho do mesmo endereço, o 3041, o governo municipal quer oferecer melhores condições para o funcionamento do centro, que terá, no novo prédio, mais quartos. Mas a mudança para o local entre as ruas Simão Álvares e Deputado Lacerda Franco, alvoroçou os ânimos dos moradores dessa área. A iniciativa reuniu 1.200 assinaturas contra a mudança, mas teve um efeito contrário no promotor que recebeu o pedido que chegou a compará-la às tomadas pela Alemanha Nazista.
No pedido, os moradores alegam que com a chegada do albergue “o comércio possivelmente não vai sobreviver, uma vez que a população local será acuada em suas residências e os visitantes de outros bairros vão nos trocar por centros comerciais mais tranquilos”. Eles afirmam não terem sido consultados sobre a abertura do albergue e que “a decisão foi tomada sem a prévia consulta com as Associações de Moradores e Comerciantes do Bairro”.
Num outro trecho, dizem que mesmo que o “efetivo da polícia dobre,vai ser difícil acabar com a insegurança (pois já temos históricos na própria rua Simão Álvares de ataques de cachorros de moradores de rua em crianças e idosos, com BO registrado)”.
Os moradores ainda temem que durante o dia esses moradores se espalhem pelos arredores do bairro de Pinheiros e Vila Madalena.
O promotor Ribeiro Lopes indeferiu o pedido e enviou os nomes de seis pessoas que assinaram a petição para a Delegacia de Polícia Especializada em Crimes Raciais de Delitos de Intolerância. Eles serão investigados por intolerância social, prevista na Constituição (art. 5.º, inciso 41). “Esse pedido é muito revoltante”, disse ele nesta quinta-feira 13 à reportagem do Estadão.
Ao negar a solicitação por meio de um documento, Lopes afirma que a representação “não merece qualquer consideração jurídica por seu cunho estritamente discriminatório, segregacionista”.
Ele diz ainda que “alegar-se que a população fica acuada em suas residências pela instalação do albergue para moradores de rua revela completa perda de referências éticos e legais.”
O promotor compara essa atitude ao protesto dos moradores de Higienópolis contra a instalação do metrô. “Não faz muito e vimos parcelas da mesma aristocracia amaldiçoando a chegada do Metro a Higienópolis. Agora é a vez do albergue de Pinheiros. Se não fizermos nada, um dia impedirão que chegue água, energia elétrica, asfalto a outros bairros da cidade”.
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