Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 11 de outubro de 2011

O que nos separa da crise bancária



*CRISE BANCÁRIA NO EURO: agencia de risco rebaixa nota de dez bancos espanhóis, inclusive o Santander

**pesquisas indicam que Cristina Kirchner teria entre 52% e 57% dos votos, o que lhe daria a vitória em 1º turno nas eleições do próximo dia 23

** Slavoj Zizek aos indignados em Wall Street (leia nesta pág)

**  'Ocupe  Copom': metalúrgicos do ABC e de São Paulo lideram mobilização pela queda dos juros com manifesto a ser lançado dia 18/10

Os economistas gostam de usar a figura dos ‘canais de transmissão' para  indicar os mecanismos pelos quais as crises e bonanças se disseminam pelo sistema. A crise  financeira mundial  vive agora seu estágio mais virulento e delicado  --a ante-sala de uma crise bancária, um dos  canais de transmissão mais temidos pelo capitalismo. Seu epicentro são as instituições financeiras do euro sobre as quais desceu o manto da desconfiança. Com razão. Há tres meses, o Dexia, por exemplo, que acaba de falir, foi avaliado como a 12ª melhor instituição européia no teste de stress promovido pelo BCE. Quando ninguém mais confia em ninguém o crédito se retrai porque a chance de um calote aumenta. Esse retraimento já prejudica o comércio internacional, o que ilustra o potencial sistêmico de um colapso na banca do euro. O sistema bancário europeu acumula a nada desprezível soma de 6,5 tri de euros em títulos de solvência questionável numa situação de liquidez arredia como essa. A quem os bancos vão vender as suas carteiras? Estima-se que a metade disso forme atualmente um dos maiores  micos da história do sistema capitalista.
(Carta Maior; 3ª feira, 11/10/ conomistas gostam de usar a figura dos ‘canais de transmissão’ para indicar os mecanismos pelos quais as crises e bonanças se disseminam pelo sistema. A crise financeira mundial vive agora seu estágio mais virulento e delicado - a ante-sala de uma crise bancária, um dos canais de transmissão mais temidos pelo capitalismo. Seu epicentro são as instituições financeiras do euro sobre as quais desceu o manto da desconfiança. Com razão. Há três meses, o Dexia, que acaba de falir, foi considerado a 12ª instituição mais sólida da Europa no teste de stress promovido pelas autoridades do BCE. Quando ninguém mais confia em ninguém o crédito se retrai, o que já está acontecendo no comércio mundial, em prejuízo das exportações. Daí a ansiedade que cerca a chamada 'capitalização' do sistema bancário do euro.

Por conta das anomalias congênitas da União Europeia - um clube que gasta mesma moeda, sem a contrapartida de um caixa único que coordene a entrada e a saída de recursos - a banca do euro acabou assumindo o papel de um caixa de compensação algo temerário. Compra e vende dívida das economias associadas como em qualquer lugar. Com a diferença de que negocia com governos que não tem poder de emissão de euros para garantir seus papagaios.

Isso faz do sistema bancário europeu um entreposto manco que acumula a nada desprezível soma de 6,5 trilhões de euros em títulos de governos de insolvência intrinsecamente questionável numa situação de liquidez arredia.A quem os bancos vão vender suas carteiras, por exemplo? Estima-se que a metade disso forme atualmente um dos maiores micos da história do sistema capitalista.

O calote de fato da Grécia é responsável por uma fatia da ordem de 300 bi de euros desse total. Mas tem ainda a pré-insolvência da Itália, bem como a da Espanha, Portugal, Irlanda e sabe-se lá mais o quê.

O sistema bancário do euro ainda rumina, por exemplo, cerca de US$ 600 bi a US$ 770 bi em ativos tóxicos – papéis sem retorno - adquiridos no ciclo de alta da especulação imobiliária nos EUA.

O potencial de contaminação dessa montanha desordenada de micos e malfeitos rentistas é imenso.

O sistema bancário hoje é o principal amálgama do que se denomina a globalização financeira. Calcula-se que vinte bancos gigantes, cercados de satélites ramificados em órbitas continentais, regionais e nacionais, alicercem a unificação e o domínio da economia mundial nas mãos do capital que se reproduz a juros.

Ocorre que a teia hegemônica é também a corda que pode enforcar o pescoço do sistema. Passivos e ativos dos bancos são negociados diariamente em operações interbancárias nesse circuito global onde o ‘preço’ de cada suposto direito de saque sobre a riqueza efetiva é repactuado ininterruptamente, desde o amanhecer em Tóquio ao anoitecer em Londres.

Evitar o contágio de uma eventual quebra bancária, um Lehman Brothers na área do euro, nessa promíscua cadeia de trocas é quase impossível.

A desregulação promovida a partir dos anos 80 legitimou o vale-tudo de uma verdadeira orgia do dinheiro, com o fatiamento e o reembrulho de papéis os mais díspares, dotados das garantias mais opacas e incertas. O resultado é que hoje ninguém mais sabe ao certo o que tem em mãos, qual é exatamente a solvência de suas carteiras e qual seu fôlego diante de um calote num dos elos da corrente.

O exemplo do Dexia resume, e justifica, a suspeita que paira sobre os demais.

Daí o desespero do mundo capitalista com a lerdeza dos líderes do euro (Merkel e Sarkozy) em deslanchar um programa amplo, massivo e fulminante de ‘capitalização e saneamento’, leia-se, de refundação do braço europeu da globalização financeira.

A dupla franco-germânica anunciou neste final de semana que agora vai. As bolsas festejaram algo precipitadamente. Merkel e Sarkozy pediram um prazo até o final do mês para ligar os tubos da transfusão redentora cujo principal custo é político: na ausência de um caixa fiscal único do clube do euro, o dinheiro terá que sair de quem tem munição em casa. Numa Europa que rasteja na boca do vulcão, esse alguém é a Alemanha e a França.

Desgastados diante do seu eleitorado que teme os sacrifícios domésticos de um resgate dessa magnitude, e com escrutínios pela frente, Merkel e Sarkozy tentam se equilibrar entre o risco político interno e o risco financeiro global. É nesse corredor miseravelmente estreito que se decide um pedaço da sorte de um sistema que vendeu à sociedade a ideia de que a autorregulação dos mercados era a forma mais eficiente, barata, transparente e democrática de alocar recursos para o desenvolvimento. Os ventrílocos dos mercados, entre eles a operosa mídia, insistiran nessa ladainha até a beira do abismo esfarelar-se sob seus pés.

Quando o que restou de chão firme mal apoia o calcanhar, o que se ouve em uníssono é o clamor por uma estatização rápida, irrestrita e imperativa, ainda que dissimulada em eufemismos como ‘resgate’ e ‘capitalização’. Entra em campo a velha e cínica lógica de que a socialização dos prejuízos privados com dinheiro público pode. Mas a socialização dos lucros, via taxação para financiar, por exemplo, a saúde pública, como no caso do SUS brasileiro, é impostômetro. Só serve para alimentar a 'gastança'.
Postado por Saul Leblon às 07:43

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