A imagem acima simboliza uma afronta que é feita diariamente à maioria do povo brasileiro, maioria essa que o IBGE, a partir do Censo de 2010, diz que passou a ser composta por afrodescendentes.
O censo revelou que o contingente de pessoas que se declaram negras e pardas superou o das que se declaram brancas. 91 milhões se dizem brancas (47,7%), 15 milhões se dizem pretas (7,6%), 82 milhões se dizem pardas (43,1%), 2 milhões se dizem amarelas (1,1%) e 817 mil se dizem indígenas (0,4%). Negros e pardos, portanto, somam 97 milhões.
O pior é que grande parte dos que se dizem brancos, não é. Tem pele morena mais clara, mas com evidentes traços negros. Por que isso? Simplesmente porque uma carteira de identidade que diga que o indivíduo é negro ou pardo equivale a uma condenação.
Corte para uma cena típica neste país. A casa é a de uma família negra – homem, mulher e uma filha. É fim de tarde e a jovem de quinze anos se acomoda ansiosamente no sofá, diante da televisão. “Vai começar Malhação”, diz à mãe.
A cena chama atenção e perturba porque um pensamento vem à mente: será que a garota não se sente incomodada por não se ver representada na novela das cinco, das seis, das sete ou das oito, dia após dia?
Dirão que sempre há um negro e até um mestiço nas novelas, ainda que na propaganda isso seja muito mais raro. Mas como é possível que essa maioria da população não se incomode ao ver que nessas novelas é praticamente todo mundo branco?
Vejamos, abaixo, outro exemplo de novela com elenco “nórdico”, a das seis, também da Globo, uma tal de “A vida da gente”. Dê uma boa olhada no perfil étnico do elenco, leitor, e reflita se é mesmo a vida “da gente” que está na telinha.
Antes de prosseguir, há que constatar que essa situação não vige só na Globo, mas em todas as concessões públicas de televisão, no teatro, no cinema… A menos que seja uma trama de mocinhos e bandidos. Aí os negros aparecem mais, mas não como mocinhos…
Em alguma parte do país existe um povo como o dessa ou o de qualquer outra novela? Nem no sul há população tão branca. Pior ainda onde as emissoras ambientam a maioria de suas novelas, ou seja, no Rio ou em São Paulo.
E se isso ocorresse só nas novelas, não seria nada. Cristiane Costa, leitora do blog, envia comentário que mostra como o racismo paira sobre esta sociedade majoritariamente afrodescendente.
Há, sim, bonecas negras. Mas não é fácil achar. E a maioria é de brancas e loiras. Meninas negras brincam com bonecas brancas assim como meninos negros brincam com bonecos brancos de super-heróis, por exemplo.
É só? Claro que não. A publicidade é ainda mais racista. É raro ver uma propaganda com uma família negra. Pode ser de banco, de plano de saúde, de loja de departamentos, de supermercados…
Pode-se dizer, no entanto, que quem movimenta a economia é a massa, aquela massa que o IBGE diz que é majoritariamente negra. Depois vêm outras etnias. Essa etnia que aparece nas novelas, na publicidade ou em brinquedos não deve chegar nem a 10% da população.
Por que, então, uma população tão discriminada não boicota o supermercado, o banco ou o plano de saúde que retratam este povo como se fosse norueguês ou sueco e escondem o verdadeiro povo brasileiro?
Apenas porque essa maioria étnica aprendeu a se submeter a coisa muito pior. Submete-se a ganhar menos e até a não poder freqüentar determinados ambientes, tais como casas noturnas e, sobretudo, clubes.
Um amigo está entre os raríssimos negros de classe média alta. Mora em um dos bairros mais elegantes de São Paulo, um bairro quase totalmente branco em que, apesar de residir ali há quase vinte anos, quase não tem amigos.
O amigo negro tentou várias vezes associar a família a um clube e jamais conseguiu. Dizem-lhe que não há títulos disponíveis para venda apesar de ele saber que é mentira porque antes de se apresentar pessoalmente pede informação por telefone e lhe dizem o oposto.
Ao ser perguntado sobre por que não denuncia isso, baixa os olhos e deixa escapar, de forma quase inaudível, que “seria pior”. E muda de assunto.
A pergunta, então, torna-se recorrente: se, como diz o IBGE, a maioria do povo brasileiro é negra ou descendente de negros, por que essa maioria não se revolta com uma situação tão absurda de legítima discriminação racial?
Não há estudos sobre isso apesar de que todos sabem a razão da submissão étnica que flagela a maioria dos brasileiros: trata-se de uma herança histórica, de uma história de submissão negra ao senhor branco.
Daí as pessoas negras vibrando com novelas brancas e que continuam dando dinheiro a empresas que as discriminam nas propagandas. Até porque, não há alternativas de entretenimento ou consumo que não passem pelo cordial racismo brasileiro.
—–
A auto-imagem do negro em sociedades racistas
O censo revelou que o contingente de pessoas que se declaram negras e pardas superou o das que se declaram brancas. 91 milhões se dizem brancas (47,7%), 15 milhões se dizem pretas (7,6%), 82 milhões se dizem pardas (43,1%), 2 milhões se dizem amarelas (1,1%) e 817 mil se dizem indígenas (0,4%). Negros e pardos, portanto, somam 97 milhões.
O pior é que grande parte dos que se dizem brancos, não é. Tem pele morena mais clara, mas com evidentes traços negros. Por que isso? Simplesmente porque uma carteira de identidade que diga que o indivíduo é negro ou pardo equivale a uma condenação.
Corte para uma cena típica neste país. A casa é a de uma família negra – homem, mulher e uma filha. É fim de tarde e a jovem de quinze anos se acomoda ansiosamente no sofá, diante da televisão. “Vai começar Malhação”, diz à mãe.
A cena chama atenção e perturba porque um pensamento vem à mente: será que a garota não se sente incomodada por não se ver representada na novela das cinco, das seis, das sete ou das oito, dia após dia?
Dirão que sempre há um negro e até um mestiço nas novelas, ainda que na propaganda isso seja muito mais raro. Mas como é possível que essa maioria da população não se incomode ao ver que nessas novelas é praticamente todo mundo branco?
Vejamos, abaixo, outro exemplo de novela com elenco “nórdico”, a das seis, também da Globo, uma tal de “A vida da gente”. Dê uma boa olhada no perfil étnico do elenco, leitor, e reflita se é mesmo a vida “da gente” que está na telinha.
Antes de prosseguir, há que constatar que essa situação não vige só na Globo, mas em todas as concessões públicas de televisão, no teatro, no cinema… A menos que seja uma trama de mocinhos e bandidos. Aí os negros aparecem mais, mas não como mocinhos…
Em alguma parte do país existe um povo como o dessa ou o de qualquer outra novela? Nem no sul há população tão branca. Pior ainda onde as emissoras ambientam a maioria de suas novelas, ou seja, no Rio ou em São Paulo.
E se isso ocorresse só nas novelas, não seria nada. Cristiane Costa, leitora do blog, envia comentário que mostra como o racismo paira sobre esta sociedade majoritariamente afrodescendente.
Há, sim, bonecas negras. Mas não é fácil achar. E a maioria é de brancas e loiras. Meninas negras brincam com bonecas brancas assim como meninos negros brincam com bonecos brancos de super-heróis, por exemplo.
É só? Claro que não. A publicidade é ainda mais racista. É raro ver uma propaganda com uma família negra. Pode ser de banco, de plano de saúde, de loja de departamentos, de supermercados…
Pode-se dizer, no entanto, que quem movimenta a economia é a massa, aquela massa que o IBGE diz que é majoritariamente negra. Depois vêm outras etnias. Essa etnia que aparece nas novelas, na publicidade ou em brinquedos não deve chegar nem a 10% da população.
Por que, então, uma população tão discriminada não boicota o supermercado, o banco ou o plano de saúde que retratam este povo como se fosse norueguês ou sueco e escondem o verdadeiro povo brasileiro?
Apenas porque essa maioria étnica aprendeu a se submeter a coisa muito pior. Submete-se a ganhar menos e até a não poder freqüentar determinados ambientes, tais como casas noturnas e, sobretudo, clubes.
Um amigo está entre os raríssimos negros de classe média alta. Mora em um dos bairros mais elegantes de São Paulo, um bairro quase totalmente branco em que, apesar de residir ali há quase vinte anos, quase não tem amigos.
O amigo negro tentou várias vezes associar a família a um clube e jamais conseguiu. Dizem-lhe que não há títulos disponíveis para venda apesar de ele saber que é mentira porque antes de se apresentar pessoalmente pede informação por telefone e lhe dizem o oposto.
Ao ser perguntado sobre por que não denuncia isso, baixa os olhos e deixa escapar, de forma quase inaudível, que “seria pior”. E muda de assunto.
A pergunta, então, torna-se recorrente: se, como diz o IBGE, a maioria do povo brasileiro é negra ou descendente de negros, por que essa maioria não se revolta com uma situação tão absurda de legítima discriminação racial?
Não há estudos sobre isso apesar de que todos sabem a razão da submissão étnica que flagela a maioria dos brasileiros: trata-se de uma herança histórica, de uma história de submissão negra ao senhor branco.
Daí as pessoas negras vibrando com novelas brancas e que continuam dando dinheiro a empresas que as discriminam nas propagandas. Até porque, não há alternativas de entretenimento ou consumo que não passem pelo cordial racismo brasileiro.
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A auto-imagem do negro em sociedades racistas
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