Deputado petista diz que entrevista de Roberto Gurgel à Folha, na qual ele afirmou que as evidências contra José Dirceu no processo do mensalão seriam indiretas, foi desastrada e demonstrou incompetência dele nesse caso
11 DE JANEIRO DE 2013 ÀS 05:13
247 – A entrevista concedida pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, à Folha sobre o mensalão foi duramente criticada pelo PT. Gurgel disse que o esquema foi bem maior do que se sabe e que o julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) incluiu apenas aquilo que foi possível comprovar. Para o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) a entrevista foi um "tiro no pé". "Foi uma declaração desastrada e demonstrou incompetência dele nesse caso. [Ele] teve cinco anos para fazer as acusações e deixa no ar acusações sem provas."
Em seu blog, Dirceu classificou como "graves" as afirmações e disse que elas "lançam a suspeita da existência de outros crimes que ele não denunciou". Condenado no julgamento do mensalão, ele aproveitou a entrevista para reforçar os argumentos de que é inocente. "As declarações do procurador-geral da República na edição de hoje da Folha de S.Paulo deixam claro, mais uma vez, que nunca houve provas contra mim na Ação Penal 470, julgada pelo Supremo Tribunal Federal", escreveu Dirceu em seu blog.
Na entrevista, Gurgel diz que “Não é prova direta". "Em nenhum momento nós apresentamos ele passando recibo sobre uma determinada quantia ou uma ordem escrita dele para que tal pagamento fosse feito ao partido ‘X’ com a finalidade de angariar apoio do governo. Nós apresentamos uma prova que evidenciava que ele estava, sim, no topo dessa organização criminosa”, disse o procurador-geral.
Já parlamentares da oposição interpretaram as declarações como "fortes indícios" do envolvimento do ex-presidente Lula.
"Ao dizer que o mensalão foi muito mais amplo, isso pode ser a senha para o envolvimento de pessoas que, até agora, não foram diretamente envolvidas, como é o caso do ex-presidente Lula", disse o presidente do DEM, José Agripino (RN).
"Ao dizer que o mensalão foi muito mais amplo, isso pode ser a senha para o envolvimento de pessoas que, até agora, não foram diretamente envolvidas, como é o caso do ex-presidente Lula", disse o presidente do DEM, José Agripino (RN).
Gurgel confessa a ausência de provas
Por José Dirceu, em seu blog:
As declarações do procurador-geral da República na edição de hoje da Folha de S.Paulo deixam claro, mais uma vez, que nunca houve provas contra mim na Ação Penal 470, julgada pelo Supremo Tribunal Federal.
O procurador-geral confessa que não tinha provas e que se apoiou na farsa de supostos telefonemas e reuniões-relâmpago. No entanto, meus sigilos fiscal, bancário e telefônico foram quebrados – e nada foi encontrado. O procurador-geral não apresentou nem sequer uma testemunha ou prova de qualquer reunião.
Na entrevista, o procurador-geral ainda tenta, sem sucesso, manter algum resquício de coerência em suas declarações ao justificar minha condenação com base no uso equivocado da teoria do domínio do fato. Tal uso equivocado já foi exaustivamente apontado por juristas e acadêmicos ao longo do julgamento.
Indício e provas o procurador-geral tinha contra Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira. E ele se recusou a investigá-los.
São graves as declarações do procurador-geral porque também lançam a suspeita da existência de outros crimes que ele não denunciou. E pior: coloca sobre as costas do Supremo Tribunal Federal minha condenação sem provas como um avanço, quando na verdade é um retrocesso e uma violação de meus direitos constitucionais e das garantias individuais de todos os cidadãos.
Sou inocente porque não cometi crime algum. Não há crime. E por isso não há provas.
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