Autor: Fernando Brito
As imagens aí de cima não são da África do Sul, nos tempos do apartheid.
São também do início dos anos 60, quando Mandela já estava preso por sua luta contra o racismo, mas foram tiradas nos Estados Unidos.
É algo que não está sendo devidamente lembrado nestes momentos de reflexão sobre a morte de Nelson Mandela.
O apartheid, nos EUA, tinha outro nome: Leis Jim Crow.
Elas vigiram por mais de 100 anos, entre a abolição da escravatura, em 1860, e 1965, quando foram revogadas nos estados onde remanesciam, por força da decisão da Suprema Corte.
Elas impediam o acesso à escola, ao transporte, aos ambientes públicos e até aos banheiros de pessoas negras em igualdade de condições com os brancos.
1965, repare. Não tem sequer 50 anos.
Até pouco antes, outra lei informal, a de Lynch – origem da palavra linchamento – era aplicada quase que sem punições a negros acusados de qualquer crime, por espancamento ou por enforcamento.
Isso não lembra nada a vocês, não, não é mesmo?
A memória do poder e da mídia são deliberadamente fracas.
Essa discriminação odiosa – que pode estar abolida nas leis, mas permanece no pensamento de parte significativa da elite americana – nunca impediu a imprensa brasileira de aformar que os EUA eram “o país mais democrático do mundo”.
Aqui, em nosso país, não faz 30 anos que a Lei Caó tornou o racismo crime inafiançável.
O que não impede que seja praticado toda hora no Brasil.
Apagar o ódio, como fez Mandela, não é o mesmo que apagar a memória.
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