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domingo, 27 de abril de 2014

A primeira semana de Dilma, 3 anos e 4 meses depois


É muito, muito arriscado fazer profecias. Essa é a razão pela qual este Blog nunca fez uma. Contudo, este é o momento para rever o que foi escrito aqui 3 anos e 4 meses atrás; mais precisamente, no dia 9 de janeiro de 2011. À época, disseram que aquele texto não passava de “exercício de futurologia”. Vejamos hoje, então.
O post “A primeira semana de Dilma” (2011) não fez uma profecia – até porque, o que pareceu “profetizado” não se concretizou e, se a sorte nos sorrir, não se concretizará. Aquele texto fez, simplesmente, um exercício da mais pura lógica, um exercício mental baseado nos fatos então disponíveis, mas que, à luz dos dias que correm, parece ganhar caráter “profético”.
O resgate daquele texto se faz em momento adequado – talvez o último de 2014, antes das eleições. Aqui se propõe à presidente Dilma e ao seu partido estratégia político-eleitoral a ser encetada nos próximos meses. Uma estratégia que se coadune com o tipo de jogo que seus adversários pretendem estabelecer no período que se avizinha.
Sejamos diretos: só a presidente da República tem como denunciar publicamente a atuação político-partidária dos grandes meios de comunicação, inclusive das concessões públicas de rádio e tevê que, de forma ilegal, vêm trabalhando a favor do PSDB em todos os níveis da administração pública (federal, estadual e municipal) e que, neste ano, por via das dúvidas, colocaram seus pés mastodônticos também no barco do PSB.
Só para contextualizar: a mídia partidarizada faz racionamento real de água em São Paulo virar racionamento imaginário de energia elétrica. Com São Paulo às portas de um desastre ambiental na Cantareira e explosão no preço da água, o que toma as manchetes são futricas sobre o custo da eletricidade, que despencou no Brasil.
Vamos, então, ao texto de 2011. Havia passado uma semana e dois dias desde a posse de Dilma e seus primeiros movimentos induziram a crer que sua atuação política ao longo dos anos seguintes seria o que acabou sendo, com os resultados que todos temos visto e sobre os quais há que refletir enquanto ainda é tempo.
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Publicado no Blog da Cidadania em 9 de janeiro de 2011
Por Eduardo Guimarães
No sábado, completou-se uma semana desde que a presidente Dilma Vana Rousseff tomou posse e começou a governar. Desde a posse até o presente momento, os movimentos iniciais do novo governo – repletos de simbolismo – induzem à crença em uma drástica mudança de estilo na Presidência da República, ao menos do ponto de vista político.
A começar pela diferença entre a posse de Lula, em 2002, e a de Dilma agora. Há oito anos, Lula chegou ao poder passando por uma campanha eleitoral light, em que a virulência da direita foi constrangida pelo estado de miséria em que estava o país; Dilma se elegeu na campanha mais suja e violenta desde a redemocratização, que deixou a de 1989 na poeira.
Já nos discursos de posse de cada um, afloraram os indícios do que seria o governo Lula e do que será o governo Dilma. Lula fez um discurso politizado, com referências à “esperança” ter “vencido o medo” – referência que enlouqueceu de raiva a direita e a mídia – e ao preconceito por ele não ter diploma universitário; Dilma fez um discurso burocrático e despolitizado.
Aliás, enquanto que o discurso de Lula, em 2002, foi de afronta aos inimigos políticos que amealhou nas três campanhas eleitorais anteriores (1989, 1994 e 1998), o de Dilma foi todo no sentido de amainar os ânimos ainda exacerbados ao espantoso durante a campanha eleitoral.
Houve dois momentos isolados de maior emoção no discurso de posse de Dilma e nas duas vezes ela foi às lágrimas. No primeiro momento, ao se emocionar com a afirmação de que era presidente de “todos os brasileiros”, como que propondo a “paz”; no segundo, ao lembrar dos colegas que tombaram diante da ditadura, da qual a presidente garantiu não guardar rancor.
Durante a primeira semana de Lula, declarações sobre “Herança Maldita” e de que “A esperança venceu o medo” exacerbaram o clima político de uma forma que dura até hoje – mesmo depois de ele ter deixado o cargo, continua sendo atacado pela mídia como se ela quisesse lhe dizer que agora pode insultá-lo sem que tenha como reagir, pois não tem mais o palanque presidencial.
A primeira semana do governo Dilma foi fria, do ponto de vista político, e restrita a fotos de reuniões da presidente com sua equipe de governo, sem que se metesse nas polêmicas da estadia de Lula e família em instalações militares e dos passaportes diplomáticos dos seus filhos.
Acostumados que estamos a ver o ex-presidente fazer discursos diários durante anos, com respostas aos ataques da imprensa, com críticas às elites, a potências estrangeiras, de exaltação dos feitos que o seu governo inegavelmente ia logrando, enfim, com a emoção transbordando por cada poro, todos estão sentindo que Dilma pretende despolitizar o seu início de governo.
Haverá que combinar com os russos. Dilma tem imensos abacaxis para descascar, como a questão dos aviões militares que o Brasil tem que escolher ou o caso Cesare Battisti e o projeto do marco regulatório da mídia, nos quais o novo governo terá que se posicionar, em algum momento.
Há vários fatores que explicam a postura de Dilma. Em primeiro, sai de cena a emotividade de Lula para dar lugar à atitude sempre cerebral que marca o perfil técnico da presidente, em contraposição com a formação eminentemente política do antecessor.  E também o fato de que ela ainda parece pretender desfazer a especulação de que seria mais de esquerda do que ele.
A menos que Dilma comece a ceder sem parar às exigências da direita midiática, confrontos surgirão. Se o seu governo não se tornar tucano, terá que enfrentar o debate político. A única manifestação que a mídia não poderá ignorar ou distorcer muito será a dela. Se não se manifestar, seu governo será censurado.
É cedo para dizer que Dilma cometerá o erro de governar o Brasil como uma gerente. Mas se fizer isso, será, sim, um erro. O cargo de presidente é político. Os brasileiros votaram nela seguindo um líder político – o maior da história brasileira, ao lado de Getúlio Vargas. Ninguém segue gerentes. E sem liderar politicamente, ela não se reelegerá.

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