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terça-feira, 29 de julho de 2014

Krugman e o caso Santander: empresas têm os mesmos direitos das pessoas?

santandecio

O caso da carta do Santander aos seus clientes “top do top” prevendo o fim do mundo se Dilma subisse nas pesquisas provocou muitas discussões, inclusive entre amigos jornalistas.

Parecia que estava em jogo, ali, a “liberdade de expressão” e isso é uma distorção mental que é própria do conservadorismo, que vê o mundo formado essencialmente por empresas e subsidiariamente por pessoas.

Consequentemente, o Estado é o realizador, antes de tudo, dos desejos e aspirações das empresas e, sobrando tempo, das pessoas, que devem ter saúde para ir trabalhar para empresas, transporte para ir ao trabalho e educação para serem bons empregados. Tarefas, aliás, que competem ao Estado.

É claro que as empresas têm o direito de fazerem suas análises e, no caso de um empresa financeira, transmitirem suas análises aos clientes.

Mas não podem, como instituições, distribuir análises de simples especulação com pesquisas, um comportamento que se aproxima do criminoso, ao ponto de incomodar até mesmo o diretor do Datafolha, que insinua o fato de estarem sendo produzidos levantamentos com o único objetivo de abocanhar ganhos com este “sobe e desce”.

O episódio, em si, tem pouca importância.

Vale mais por revelar o quanto o jornalismo – e, admitamos, o pensamento coletivo das elites – está contaminado por uma distorção “empresarialista” da vida social.

As empresas são importantes, essenciais à economia, dignas de respeito, de crédito, de apoio da coletividade, pelos benefícios produtivos que trazem à coletividade.

Mas não são pessoas que podem, na sua vida particular, achar e pensar o que quiserem.

Porque a “elevação” das empresas a pessoas nos leva a uma distorção imensa, porque são elas que detêm o poder econômico e, ao agirem como pessoas – vejam o que acontece nas, infelizmente, doações eleitorais  de empresas a candidatos – interferir na formação da vontade coletiva de modo extremamente desigual e, portanto, extremamente antidemocrático.

Isso não é uma observação que faço por partidarismo ideológico.

Quem duvidar, leia o que escreveu o americano Paul Krugman, Nobel de Economia, em seu último artigo.
“Em decisões recentes, a maioria conservadora na Suprema Corte dos Estados Unidos deixou clara sua posição de que empresas são pessoas, e que desfrutam de todos os direitos de que uma pessoa desfruta.
Elas têm direito à liberdade de expressão, o que significa que podem gastar montanhas de dinheiro para distorcer o processo político em seu benefício. Têm direito a crenças religiosas, o que inclui aquelas que podem significar uma negação de benefícios a seus funcionários.

O que virá a seguir, o direito a portar armas?”

O Santander, ao que se viu, já reivindica o direito de voto.

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