SOBRE IMPEACHMENT, INTERVENÇÃO MILITAR, PROTESTOS E AS REGRAS DO JOGO DEMOCRÁTICO
Se você planeja ir a algum dos protestos agendados no dia 15 PARA PEDIR O IMPEACHMENT da presidente que a maioria dos eleitores brasileiros acabou de reeleger, a sua pretensão é tão estúpida e e o seu propósito é tão antidemocrático que duvido que qualquer argumentação racional e moral possa exercer qualquer efeito sobre sua consciência. Não é com você, portanto, que eu falo.
Se você está pensando em ir exercer o seu direito democrático de demonstração política para berrar pelo RETORNO DOS MILITARES ao controle do Estado brasileiro, violando, de um só golpe, todas as instituições da democracia liberal e o direito de a maioria escolher quem governa o país, também não há o que possa lhe dizer que você já não o saiba: você é um detestável autocrata, inimigo da democracia, amante de tiranias e ditaduras e o quero bem longe de mim.
Se você, então, planeja reivindicar impeachment ou intervenção militar com base no argumento de que já vivemos sob uma DITADURA COMUNISTA BOLIVARIANA, de que o Brasil já é igual à Venezuela e se encaminha para ser uma Cuba (mas você bem queria que fosse um Paraguai para sapecar um impeachment relâmpago na presidente), então o seu caso é ainda mais grave: ou você ou é um delirante e alucinado cuja mente se desapegou da realidade, ou é um ignorantão político do nível samambaia que acreditaria até se lhe dissessem que Dilma é venusiana, ou, enfim, você é simplesmente um canalha, embriagado de má-fé, que sabe que o que afirma não tem o menor cabimento, mas criou uma fantasia que lhe é conveniente para arregimentar uns otários para a sua causa.
Fora essas "razões", entretanto, respeito qualquer outra razão para que você vá protestar, no domingo ou no resto do ano. Na democracia, são válidas todas as razões para se discutir política, mobilizar-se, demonstrar ao sistema político o seu sentimento, protestar contra agendas, políticas e comportamentos. Exceto aquelas que violem ou acintosamente neguem as regras do jogo democrático e os princípios da democracia liberal. Você, por exemplo, não pode achar que as ruas sejam um modo de aferição da vontade do povo melhor do que as urnas, que, aliás, acabaram de se expressar. Você não pode imaginar que a sua vontade, mesmo unida a milhares, talvez milhões de outros que gritam nas ruas, possa imperar sobre a maioria, mesmo que tenha certeza de que a maioria é estúpida e está errada. Você não pode sacar do poder, no urro e no berro, uma presidente que acabou de ser eleita, só porque nem ela nem o seu partido lhe apetecem. Respeitadas as regras da democracia, contudo, todo o resto é legítimo. Proteste, manifeste-se, grite mesmo. Mas jogue limpo, dentro das regras do jogo, como todo mundo sob o contrato social democrático.
Altman: 'hoje é dia de lutar contra o golpismo'
"A hora do combate chegou", diz o jornalista Breno Altman, colunista do 247 e editor do Opera Mundi; ele afirma que o ato promovido nesta sexta-feira pela Central Única dos Trabalhadores em defesa da democracia e da Petrobras será decisivo para romper "o cerco midiático e institucional determinado pela reação oligárquico-burguesa"; ele lembra ainda que não se trata de uma manifestção pró-Dilma; "Não é obrigatório gostar do governo Dilma para descer ao asfalto ou à terra batida nessa hora dramática. Os próprios organizadores da mobilização exigem imediata mudança da política econômica", diz ele; "Poderão estar juntos todos aqueles que estão dispostos a lutar contra o retrocesso, o golpismo e os bandos que ameaçam a democracia"
247 - "A hora do combate chegou", diz o jornalista Breno Altman, sobre as manifestações convocadas pela Central Única dos Trabalhadores para esta sexta-feira, no artigo "Hoje é dia de lutar contra o golpismo".
"O movimento tem caráter suprapartidário e de defesa da democracia. As pessoas não estão sendo chamadas a apoiar o governo da presidente Dilma Rousseff, mas para garantir a legitimidade de seu mandato constitucional", diz ele.
"Quem atender ao convite da Central Única dos Trabalhadores, também se somará à indignação contra a campanha nacional e internacional que tem como alvo a Petrobras. As grandes corporações, os governos imperialistas e a oposição de direita mal escondem seu interesse em sucatear e privatizar a estatal, manipulando as investigações sobre desvios na empresa em favor de suas intenções."
Altman lembra ainda que a manifestação não é pró-Dilma. "Não é obrigatório gostar do governo Dilma para descer ao asfalto ou à terra batida nessa hora dramática.Os próprios organizadores da mobilização exigem imediata mudança da política econômica, com a retirada das medidas do ajuste fiscal, e adoção de uma agenda unitária que represente as aspirações e reivindicações das camadas populares."
Trata-se, sim, de defender o regime democrático. "Não há outro caminho para romper o cerco midiático e institucional determinado pela reação oligárquico-burguesa", afirma. "Com firmeza e generosidade, a partir desta sexta-feira poderá nascer uma frente ampla dos trabalhadores da cidade e do campo, do mundo da cultura e da produção, capaz de ser a coluna vertebral dos que não admitem o país andando para trás."
Leia a íntegra no blog de Breno Altman, em parceria com o 247.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
comentários sujeitos a moderação.