A multidão que tomou as ruas do País neste domingo carregava várias bandeiras, mas uma se destacava: o fim da corrupção, agenda que, em vez de dividir, deveria unir o País. Agora, responda a algumas questões: quem demitiu Paulo Roberto Costa da Petrobras? Quem, volta e meia, enfrenta rebeliões no Congresso Nacional, por não se sujeitar docilmente ao toma-lá-dá-cá da política? Quem, em seu discurso de posse, defendeu a reforma política, com o fim do financiamento empresarial de campanha, raiz de todos os escândalos nacionais? Por último, mas não menos importante, quem é um dos raros nomes da vida pública nacional que não enriqueceu na política? Se você pensou em Dilma Rousseff, acertou
247 - Qualquer que seja o número final das manifestações deste domingo, que ainda devem gerar muita divergência entre governistas e oposicionistas, dois pontos são incontestáveis. Em primeiro lugar, era uma multidão, como raras vezes se viu no País. Em segundo, a principal bandeira comum era o combate à corrupção – algo que deveria ser um fator de união e não de divisão do País.
Considere, agora, critérios objetivos para avaliar em que medida um político é ou não corrupto. O principal deles, o patrimônio pessoal, antes e depois do ingresso na vida pública.
O que fará a presidente Dilma Rousseff depois de 31 de dezembro de 2018, quando terminará seu mandato? (sim, o Brasil é uma democracia consolidada, que não tolera golpes de estado)
Ao que tudo indica, ela deixará o Palácio do Alvorada e irá morar perto do neto, em Porto Alegre, mantendo uma típica vida de classe média. Dilma não sairá da presidência da República com apartamento em Paris, casa de praia, fazenda, aviãozinho particular, nada disso. Também, ao contrário de Lula e FHC, não terá seu instituto. O segundo mandato será seu último cargo público. Dela, poderá se dizer qualquer coisa, menos que enriqueceu na política – o que é uma raridade.
Passe, agora, para um segundo critério: a defesa das instituições. Em meio a um cerco inédito ao PT e ao seu governo, que esconde interesses inconfessáveis, ela manteve a autonomia do Ministério Público e da Polícia Federal, mesmo quando alguns exageros pareciam ter a intenção deliberada de atingir resultados políticos. Na Operação Lava Jato, delegados que a agrediam nas redes sociais, antes das eleições, foram mantidos. Teria sido assim em outros governos, onde órgãos de fiscalização são claramente aparelhados?
Bom, Dilma pode até ser honesta, mas permitiu a 'roubalheira' na Petrobras. Então, responda: quem demitiu Paulo Roberto Costa? Quem demitiu Renato Duque? Sim, foi Graça Foster, que era, até recentemente, a extensão da presidente Dilma na estatal.
Terceiro critério: a relação de um governo com a base aliada. Frequentemente, a presidente Dilma Rousseff é acusada de conduzir mal suas relações políticas. Nos últimos quatro anos, ela enfrentou várias rebeliões no Congresso. Recentemente, perdeu a disputa para a presidência da Câmara dos Deputados, quando o Palácio do Planalto foi derrotado por Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Qual é o motivo? Dilma, ao contrário de outros governantes, não se submete docilmente ao toma-lá-dá-cá da política.
É esse o caminho mais fácil? Não, bem mais simples seria entregar todos os anéis, e também os dedos, ao parlamento. Mas, goste-se ou não, não é o jeito Dilma de governar. FHC, por exemplo, entregou o setor elétrico ao PFL (atual DEM), de Antônio Carlos Magalhães, que, naquele momento, tinha força no parlamento. Resultado: FHC conheceu a paz no Congresso, aprovou até a emenda da reeleição, mas o Brasil conheceu o apagão, em 2001.
Dilma, aliás, viveu seu melhor momento de popularidade quando enfrentou interesses de sua própria coalizão governista e se tornou, aos olhos da opinião pública, a "faxineira". Depois, quando se aproximaram as eleições, essa imagem se perdeu. São as contradições de um regime presidencialista fortemente submetido aos interesses do parlamento.
Por último, o critério mais importante, num país onde a corrupção, em muitos casos é individual, mas é sobretudo sistêmica: quem propõe o melhor mecanismo para solucionar os vícios da política brasileira?
O senador Aécio Neves (PSDB-MG), que bateu na trave na Operação Lava Jato e quase foi denunciado pelo esquema de caixa dois em Furnas, tendo sido citado pelo doleiro Alberto Youssef, disse durante as eleições que, para eliminar a corrupção no País, bastaria acabar com o PT.
Será mesmo? Um dos coordenadores da campanha de Aécio à presidência da República, o senador Agripino Maia (DEM-RN), foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal, acusado de receber uma propina de R$ 1,1 milhão. Outro dos coordenadores, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), já foi cassado por compra de votos. E o Swissleaks, que mal começa a ser desvendado, já revelou a conta de um personagem que foi diretor do Metrô de São Paulo, no governo de José Serra (PSDB-SP).
A presidente Dilma Rousseff já apresentou sua agenda no discurso feito no dia da vitória eleitoral, em 2014. Os pontos centrais são a reforma política e o fim do financiamento empresarial de campanha – ponto de convergência que a aproxima até de lideranças moderadas da oposição, como o governador paulista Geraldo Alckmin, do PSDB.
Portanto, se você foi às manifestações deste domingo, saiba que a presidente Dilma Rousseff é honesta, como até seus adversários reconhecem, não se dobra facilmente ao fisiologismo político e defende mudanças institucionais para fortalecer a democracia brasileira e torná-la imune à influência deletéria do dinheiro privado. Portanto, é ela quem melhor lhe representa – a menos, é claro, que seu interesse não seja propriamente o combate à corrupção.
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