A matéria de capa da última edição da revista Veja ultrapassou qualquer limite aceitável pelas forças políticas progressistas deste país. E quando cito forças políticas progressistas não me refiro, tão-somente, a partidos de esquerda da base aliada, como PT e PC do B, mas a todos os partidos de esquerda – inclusive os de oposição – e a movimentos sociais.
Apesar de ter sido desmentida publicamente pela defesa do ex-vice-presidente da OAS, Léo Pinheiro, afirmação de Veja de que ele teria autorizado seus advogados a conversar com o Ministério Público Federal para fazer um acordo de delação premiada e, no âmbito desse acordo, apresentar “provas” contra o ex-presidente Lula, a publicação da matéria revela que não há mais o que esperar para as forças democráticas deste país reagirem por meios mais drásticos.
A matéria de Veja foi recebida com frieza pelo resto da grande imprensa devido ao fato de que não passa de matéria requentada. Em sua edição de 27 de abril deste ano, a revista já tinha feito essa afirmação de que Pinheiro iria denunciar Lula. A afirmação não se confirmou assim como a de agora, desmentida prontamente pela defesa do acusado.
Mas as matérias tendenciosas de Veja e do resto da mídia feitas diuturnamente e exclusivamente contra o PT, suas lideranças e seus aliados não são o que dá forma ao golpismo; em várias partes do mundo setores da imprensa comportam-se como partidos políticos. Porém, não encontram ressonância das instituições como acontece no Brasil.
O que configura o golpe político em curso é que, como em qualquer ditadura, a lei passa a ser usada de formas diferentes em situações praticamente iguais, mas com variações de resultados derivadas da orientação política dos envolvidos.
Chegou a hora, portanto, de dizer ao mundo que a democracia brasileira está sendo jogada no lixo e que as instituições estão sendo usadas como armas políticas para derrubar um governo democraticamente eleito.
E não é difícil provar ao mundo o que está acontecendo. Basta mostrar como a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal estão agindo partidariamente, acobertando escândalos envolvendo políticos tucanos e expondo os petistas.
Tomemos o caso das ligações de empreiteiras com políticos petistas e, sobretudo, com o ex-presidente Lula, alvo preferencial de Veja, e do envolvimento delas com políticos tucanos em situações absolutamente idênticas.
Do que se trata a acusação a essas empreiteiras no âmbito da Operação Lava Jato? Havia um cartel que fazia negociatas na Petrobrás pagando propinas a políticos por meio de doações oficiais, entre outras formas de corromper autoridades e ocupantes de altos cargos na empresa.
O que espanta é que as mesmíssimas empreiteiras envolvidas em outros escândalos muito parecidos com o da Petrobrás fizeram altas doações a políticos tucanos e de outros partidos que não o PT, mas, nesses casos, não há uma única ação da grande mídia, do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e muito menos da Justiça no sentido de tratar essas doações como são tratadas as feitas ao PT.
Há alguns meses, surgiu a denúncia de que mais da metade da campanha do governador Geraldo Alckmin (PSDB), ano passado, foi bancada por empresas investigadas por fraudes e formação de cartel em licitações do metrô de São Paulo.
No total, as quatro empresas suspeitas doaram R$ 8,3 milhões, 56% do total arrecadado (R$ 14,7 milhões) pelo tucano.
Três das empresas doadoras já são rés em processos na Justiça: a construtora Queiroz Galvão, a CR Almeida S/A Engenharia de Obras e a construtora OAS S/A.
Executivos de consórcios integrados pela CR Almeida S/A Engenharia de Obras, pela OAS S/A e pela Queiroz Galvão foram denunciados em 2012 por suspeita de fraude e formação de cartel na licitação para ampliar a linha 5-lilás do Metrô de São Paulo. No total, 14 funcionários de 12 construtoras foram denunciados no caso.
Mas não é só. Existe também a denúncia de que sete das nove empresas investigadas na Operação Lava Jato repassaram ao menos R$ 38,9 milhões às campanhas de 19 governadores eleitos e reeleitos. As doações foram feitas pelas UTC, Odebrecht, Queiroz Galvão, Engevix, OAS, Galvão Engenharia e Camargo Corrêa.
Vários executivos dessas empresas estão presos e até hoje não há notícia de que tenha sido levantada uma mínima suspeita contra os governadores que receberam doações dessas empresas em troca de obras em seus Estados.
Confira, abaixo, quem são os governadores que receberam doações das empreiteiras envolvidas no Cartel dos Trens de São Paulo e no Cartel da Petrobrás.
A tese que sustenta essa situação é absolutamente louca: essas empreiteiras fizeram negócios esquisitos com a Petrobrás e, como fizeram doações eleitorais ao PT, a Dilma e contrataram palestras de Lula, todos os petistas e aliados são suspeitos. Porém, essas empresas fizeram negócios com administrações tucanas e desses negócios surgiram escândalos como o dos trens de São Paulo, mas as doações que elas fizeram a Alckmin, por exemplo, não foram postas sob suspeitas.
Isso se dá porque a Operação Lava Jato se auto circunscreveu à Petrobras. É como se corrupção só fosse crime se praticada por petistas e aliados na Petrobrás, mas não fosse crime quando praticada por tucanos e aliados em empresas como o Metrô ou a CPTM.
É óbvio que isso não é possível. É óbvio que a lei está sendo usada de forma diferente de acordo com a posição política das pessoas. E a lei ser usada de uma forma para alguns e de outra forma para outros é a principal característica das ditaduras.
O que há hoje, no Brasil, é uma ditadura da minoria (eleitoral), protagonizada pela grande mídia, pela oposição, por setores mais ousados da Justiça, do Ministério Público e da Polícia Federal. Essa ditadura já declara abertamente seus planos para destruir moral e politicamente a maior liderança política do país, o ex-presidente Lula.
Além disso, a economia está sendo destroçada pelo espalhafato das investigações, que deveriam ocorrer em sigilo, mas que têm cada detalhe, cada frase, cada vírgula vazados para a mídia de forma absolutamente seletiva, de modo a incriminar apenas petistas e aliados, poupando opositores do governo federal onde eles são governo, nos Estados e municípios.
Quem acompanha atentamente a política já sabe que é questão de tempo para inventarem algum pretexto para derrubar o governo e, acima de tudo, desmoralizar e, se possível, aprisionar o único grande líder político de esquerda que o Brasil produziu das últimas décadas do século XX para cá.
Não será fácil impedir esse golpe político-institucional. O poder da mídia aliado ao do capital, ao do Judiciário, ao do Ministério Público, ao da Polícia Federal e ao da maioria do Legislativo, é uma força avassaladora. Do lado dos golpeados, só há uma militância combalida, desanimada e alguns movimentos sociais e partidos de esquerda hesitantes.
Isso tudo, porém, não muda o fato de que a democracia brasileira está sendo posta no lixo. Com a destruição política das lideranças de centro-esquerda, os conservadores irão pisotear programas sociais, “precarizar” as relações trabalhistas, dar caráter fascista à legislação penal etc., etc.
Na visão deste Blog, só resta denunciar ao mundo o que está acontecendo no país. Os golpistas podem até tomar o poder por meio dessa vergonhosa manipulação das leis, mas assumirão esse poder sem legitimidade diante da comunidade internacional.
Bastará apresentar ao mundo os fatos supra elencados, com todas as provas pertinentes, para provar que, neste país, as leis e os órgãos de controle do Estado estão sendo usados seletivamente de modo a acobertar alguns e fustigar a outros. Há que exigir observadores internacionais para fiscalizarem o comportamento da Justiça, do Ministério Público e da Polícia Federal.
Se a hesitação das vítimas desse golpismo ditatorial persistir, o retrocesso político, institucional e social que o Brasil sofrerá terminará em tragédia, em um levante das massas que serão pisoteadas pelas políticas antipopulares dos futuros novos donos do poder. Guarde estas palavras, leitor.
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