OAS e Odebrecht: quem ganha com a recusa de uma das delações?
Tereza Cruvinel
Há alguma coisa mal explicada, com um leve jeito de jabuti, na decisão da força-tarefa da Lava Jato de aceitar apenas uma das delações premiadas que vêm sendo negociadas pelas duas maiores construtoras nacionais, a Odebrecht e a OAS. Os advogados delas já foram informados da decisão e o juiz Sérgio Moro voltou a tocar os processos normalmente. A exclusão de uma ou de outra pode significar que alguns agentes políticos serão poupados.Se a excluída for a Odebrecht, por exemplo, não seriam atingidos os mais de 170 parlamentares que apareceriam na delação como recebedores de ajuda financeira. Ou propinas ou doações eleitorais, legais ou ilegais. Tudo isso agora é a mesma coisa. Possivelmente são os mesmos que já figuraram numa lista achada na empresa e que depois sumiu de cena. Se a excluída for a Odebrecht, esqueça-se a promessa atribuída a Marcelo Odebrecht, de fazer revelações sobre caixa dois para a campanha de Dilma Rousseff em 2014. Mas se for a OAS, ficarão de fora aquelas mensagens trocados por celular entre Léo Pinheiro e Eduardo Cunha, em que este reclama do pagamento de R$ 5 milhões a Michel Temer sem descontar a parte dos “outros”. Estes são exemplos óbvios, a partir do já conhecido ou posto em circulação, mas é cartesiana a dedução de que alguns vão se dar bem se uma das delações for dispensada.
A força-tarefa teria apresentado, segundo os advogados, dois motivos para aceitar apenas um dos acordos em negociação. Primeiro, o fato de as duas empresas terem atuado em consórcio em várias obras contratadas pela Petrobrás. Por isso, dariam informações redundantes sobre tais obras consorciadas. Mas isso, longe de prejudicar, só favoreceria as investigações, tirando qualquer dúvida sobre a veracidade do que foi informado.
O segundo motivo decorreria do fato de que, sendo elas, as maiores, estão sendo as últimas a negociar a colaboração premiada. Seria uma espécie de castigo por isso, ainda que resulte na impunidade de terceiros? Os procuradores disseram aos advogados que pelo menos uma das duas grandes empreiteiras terá que pagar pelos crimes descobertos pela Lava Jato, envolvendo políticos de diversos partidos. Estranho este discurso, pois nós, da praia, achávamos que todas iriam pagar. Tanto com as condenações de seus donos e executivos como com o pagamento de multas. As delações, até onde se sabe, atenuam mas não extinguem punições.
Este é o ponto. A informação de que uma das grandes não fará delação solta uma pulga de bom tamanho que já começa a incomodar até os entusiastas da Lava Jato. Por mais que tenham atuado juntas, OAS e Odebrecht são pessoas jurídicas distintas, que fizeram também acordos ilícitos separados com agentes políticos e partidárias. Quem ganharia com a exclusão de uma ou de outra? É pouco compreensível que, para castigar uma das empreiteiras, a Lava Jato prefira não saber o que ela fez, e com quem fez, fixando-se apenas na que serás delatora. Depois dos vazamentos seletivos, estaríamos chegando agora às delações seletivas?
Uma decorrência da decisão de rejeitar uma das delações foi uma competição entre as duas para vazar, pela mídia, as mais bombásticas revelações que fariam, buscando cada qual, com isso, tornar-se a escolhida dos procuradores. E com isso, os candidatos a delatores podem estar dando tratos à imaginação, indo além do acontecido para tornarem-se “atraentes”.
A pulga está solta
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