EMIR SADER
A pesar da obsessão de juízes marajás de acumular condenações sem fundamento contra Lula, a direita se prepara para enfrentá-lo nas eleições. E retoma a mesma busca iniciada em 1989: procurar o anti-Lula, quem quer que ele seja, venha de onde venha.
Naquele momento, no desespero de encontrar candidatos anti-Lula e anti-Brizola, a direita se jogou nos braços aventureiros de Fernando Collor. Fracassado Collor, cooptou a FHC para dar continuidade a seu modelo neoliberal.
Desde então o tucanato tem oferecido os candidatos sucessivamente derrotados por Lula e por Dilma. Marina funcionou, em algum momento da campanha de 2014, como a anti-Dilma, mas foi rapidamente desmascarada na sua demagogia e Aécio voltou a ser a esperança branca da direita brasileira.
Agora, apavorada pelo governo desastroso de Temer, duvidando que Moro e seus comparsas consigam tirar Lula da jogada, a direita brasileira reinicia sua árdua busca do anti-Lula. Posição que provisoriamente ocupa Marina, de plantão enquanto a campanha não se aquece e seu desempenho pífio atente fortemente contra ela.
A direita mostrou consciência de que Lula é o candidato favorito, por isso tenta tirá-lo da vida política ou, caso não consiga, a construção de um anti-Lula é sua tarefa mais importante e árdua. A tática é a de, por um lado, mediante denúncias diárias contra Lula, forjar um nível de rejeição que dificulte a vitória dele no segundo turno, dado que todos aceitam que no primeiro turno ele é amplamente favorito. Temem que na campanha, com Lula percorrendo o país, retomando sua relação direta com o povo, recordando as realizações do seu governo, contrapostas agora às desastrosas medidas do governo Temer, ele supere facilmente a rejeição e possa triunfar até com mais folga que nas eleições anteriores.
Quem pode ser o anti-Lula esta vez? Os candidatos tucanos tradicionais caem cada vez mais nas pesquisas, mesmo Alckmin. Marina tem voo curto. Juristas não têm nenhuma possibilidade de obter grande votação além dos setores de classe média. Será uma busca dura por figuras novas, apoiando-se na vitória de personagens vitoriosos nas eleições municipais, assumindo a linha da não política, da anti-política.
Um novo Collor é impossível. Jornalistas têm mostrado pouca capacidade de aguentar campanhas eleitorais densas pelos debates e propostas nacionais que requerem. Será uma busca de caras novas, sem rejeição, como elemento de força, para se contrapor à rejeição que pretendem poder manter contra Lula.
As propostas interessam menos. Atualmente campanha é campanha, governo é governo. O caso de Mauricio Macri, na Argentina, é significativo. No único debate na TV com seu opositor, ele negou absolutamente tudo que se lhe imputava que iria fazer, para depois fazer tudo o que ele negava. Na campanha os candidatos orientados pelo marketing tratam de dizer aquilo que as pesquisas dizem que os eleitores gostariam que ele dissesse. Um candidato de direita não pode revelar seus objetivos reais, porque se desgasta rapidamente. O caso de Marina nas eleições de 2014 foi significativo. Ela dizia que manteria as políticas sociais dos governos do PT, mas seu guru econômico desmentia, ao fazer afirmações que se contradiziam frontalmente com a manutenção das políticas sociais.
Lula se torna a variável fundamental do futuro do Brasil. Ou ele é candidato e tem grandes possibilidades de se eleger de novo presidente do Brasil, retomando um modelo de desenvolvimento econômico com distribuição de renda, aprovado sucessivamente pelos brasileiros nas últimas quatro eleições. Ou ele é impedido de se candidatar e apoiará um candidato que represente essa retomada, igualmente com grandes chances de ser eleito. Enquanto isso a direita tenta tirá-lo da campanha eleitoral, tenta forjar sua rejeição e tenta encontrar o anti-Lula.
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