Minas 247 – Há exatamente duas semanas, o número dois da Odebrecht, Benedicto Júnior, depôs ao ministro Hermann Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral, e denunciou o caixa dois de R$ 9 milhões ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), que foi distribuído para aliados como o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), relator do golpe no Senado, e Dimas Fabiano Toledo, filho do responsável pela notória lista de Furnas.
Benjamin mandou colocar tarjas pretas sobre o nome de Aécio, mas o estrago estava feito. Aécio, que propôs ação no TSE contra a presidente eleita Dilma Rousseff, foi desmoralizado, mas conseguiu uma nota pública de apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que lançou a tese do "caixa dois do bem".
"No importante debate travado pelo país distinções precisam ser feitas. Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa dois para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção", disse FHC (relembre aqui).
Agora, no entanto, Aécio foi delatado pelo número um da empreiteira, Marcelo Odebrecht, que denunciou o pagamento de R$ 50 milhões ao presidente nacional do PSDB, como contrapartida aos investimentos da Cemig, estatal mineira, e Furnas fizeram numa das usinas do Rio Madeira. Parte da propina teria até sido paga em Cingapura a um operador de Aécio (leia aqui).
Será que este caso também se enquadra na teoria do "caixa dois do bem"? O que fará FHC para defender seu pupilo?
Na realidade, FHC deveria apenas se desculpar diante dos brasileiros por ter avalizado o golpe contra a democracia liderado por Aécio – o político com maior número de pedidos de inquéritos na lista de Janot.
Leia, abaixo, a íntegra da nota anterior de FHC:
Lamento a estratégia usada por adversários do PSDB que difundem "noticias alternativas" para confundir a opinião pública.
A imprensa é instrumento fundamental da democracia. Usada por quem não é criterioso presta um mau serviço ao país.
Parte do noticiário de hoje sobre os depoimentos da Odebrecht serve de sinal de alerta. Ao invés de dar ênfase à afirmação feita por Marcelo Odebrecht, de que as doações à campanha presidencial de Aécio Neves, em 2014, foram feitas oficialmente, publicou-se a partir de outro depoimento que o senador teria pedido doações de caixa dois para aliados.
O senador não fez tal pedido. O depoente não fez tal declaração em seu depoimento ao TSE.
É preciso serenidade e respeito à verdade nessa hora difícil que o país atravessa.
Ademais, independentemente do noticiário de hoje tratar como iguais situações diferentes, não é o caminho para se conhecer a realidade e poder mudá-la.
Visto de longe tem-se a impressão de que todos são iguais no universo da política e praticaram os mesmos atos.
No importante debate travado pelo país distinções precisam ser feitas. Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa dois para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção.
Divulgações apressadas e equivocadas agridem a verdade, e confundem os dois atos, cuja natureza penal há de ser distinguida pelos tribunais.
A palavra de um delator não é prova em si, apenas um indício que requer comprovação. É preciso que a Justiça continue a fazer seu trabalho, que o país possa crer na eficácia da lei e que continue funcionando.
A desmoralização de pessoas a partir de "verdades alternativas" é injusta e não serve ao país. Confunde tudo e todos.
É hora de continuar a dar apoio ao esforço moralizador das instituições de Estado e deixar que elas, criteriosamente, façam Justiça.
Fernando Henrique Cardoso
Presidente de honra do PSDB
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