Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Dilma dá ótima entrevista, mas JN edita pautas negativas para ela


A presidenciável Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, voltou à bancada do Jornal Nacional, da Rede Globo, na noite desta segunda-feira (18). Nos 11 minutos e 30 segundos nos quais Dilma respondeu às perguntas do casal de entrevistadores Willian Bonner e Fátima Bernardes, a candidata petista dialogou com sorriso no rosto e respondeu, com tranquilidade, todas as perguntas incômodas feitas pelos apresentadores. Foi uma entrevista esclarecedora e excelente para a candidata.

Desta vez, não se observou a agressividade que Bonner demonstrou na primeira entrevista, em 9 de agosto, durante o primeiro turno. O casal Global foi enfático nas perguntas --como deve ser-- e Dilma foi serena, objetiva, mas igualmente firme nas respostas. Como era de se esperar, Dilma foi questionada sobre a questão do aborto e sobre o caso Erenice.

Bonner questionou a candidata também sobre as declarações do deputado Ciro Gomes sobre o suposto preparo de José Serra e os problemas do PMDB.

Dilma reafirmou o que tem dito em outras entrevistas, nos debates e na propaganda eleitoral gratuita. Sobre a questão do aborto, disse que não se pode tratar o assunto como caso de polícia e sim como um problema de saúde pública.

Sobre o caso Erenice Guerra, lembrou que denúncias feitas durante o governo Lula são sempre investigadas e, quando constatada a culpa, os envolvidos são punidos. Já no governo de seu adversário, José Serra, as denúncias são abafadas. Dilma lembrou o caso do ex-presidente do Dersa, Paulo Preto, que mesmo sendo alvo da operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, jamais foi investigado pelo governo paulista.

As considerações finais da candidata também foram perfeitas. Com humildade, Dilma pediu votos pela continuidade de um projeto que está dando certo e mudando o Brasil.

Veja no final da matéria a transcrição, na íntegra, da entrevista.

Pauta negativa na sequência

Mas o Jornal Nacional é o Jornal Nacional. E logo depois da entrevista, o jornal bateu feio na candidatura de Dilma. A mão pesada do editor foi notada na reportagem requentando denúncia vazia da revista Época sobre o diretor da Eletrobras, Valter Luiz Cardeal Cardeal, aliado de Dilma. A edição da matéria chegou a ser mais grosseira que a agressividade de Bonner na entrevista de agosto. Cardeal emitiu uma nota esclarecendo as denúncias e mostrando, com fatos concretos, que não havia nada de irregular. Mesmo assim, o JN sequer citou a nota.

Depois do programa eleitoral gratuito, o JN apresentou o "dia" dos candidatos. Como tem feito diariamente neste segundo turno, cobriu a agenda de Serra de forma a dar visibilidade para as propostas do candidato. Parecia uma inserção do programa eleitoral tucano.

Quando chegou a vez da agenda de Dilma, o JN agiu de forma calhorda e alegou que a candidata não teve "comprimissos públicos" nesta segunda-feira. Assim, o Jornal tentou justificar a não cobertura do dia da candidata. Mas havia material de sobra para uma matéria, pois Dilma deu entrevista coletiva no Rio de Janeiro e na qual havia jornalistas da Globo presentes. Novamente o JN "escondeu" Dilma propositalmente para prejudicá-la.

Nesta terça-feira (19), será a vez de José Serra ser entrevistado pelo Jornal Nacional. Será interessante observar como será o tratamento editoral da "pauta" política do JN.

Da redação,
Cláudio Gonzalez



Veja, abaixo, a íntegra da entrevista em vídeo. Abaixo, leia a transcrição das primeiras perguntas e respostas e, mais tarde, a íntegra.



Fátima Bernardes: Boa noite, candidata.
Dilma Rousseff: Boa noite, Fátima. Boa noite, Bonner. Boa noite você que nos acompanha.

Fátima Bernardes: A entrevista terá dez minutos com tolerância de um minuto para que a candidata conclua uma resposta sem ser interrompida e mais 30 segundos para a mensagem dela aos eleitores. O tempo começa a ser contado a partir de agora. Candidata, a senhora liderou grande parte da campanha e esteve muito perto de vencer no primeiro turno. Como a senhora explicaria a decisão do eleitor de levar essa disputa pra um segundo turno?
Dilma Rousseff: Olha, Fátima, eu acho que o eleitor queria uma oportunidade a mais para poder refletir e para poder, cotejando as propostas, ter uma opção agora com mais clareza. Agora, a verdade é que nós, eu sou muito grata aos eleitores que votaram em mim, porque eu tive 47 milhões de votos e veja que coisa curiosa: eu acredito que eu seja a mulher mais, a segunda mulher mais votada da história do planeta, a primeira sendo a Indira Gandhi.

William Bonner: Candidata, quando terminou o primeiro turno, a senhora e alguns dos seus assessores, enfim, partidários do Partido dos Trabalhadores chegaram a dizer que aquela discussão, aquela polêmica sobe o aborto tinha motivado essa decisão do eleitor no fim do primeiro turno. Essa polêmica toda, essa discussão não teria se dado por causa de sua mudança de posição sobre a legislação referente ao aborto? Eu digo isso porque pessoalmente a senhora sempre se manifestou contrária ao aborto. O que a senhora fez em algumas entrevistas, na revista "Marie Claire", na "Folha de S.Paulo", foi dizer que era favorável à mudança da legislação, à legalização do aborto. Não teria sido mais natural num país tolerante como é o nosso que a senhora tivesse admitido publicamente essa mudança de opinião a respeito?
Dilma Rousseff: Veja bem, Bonner, eu acredito que nessa história do aborto houve muita confusão. Há uma diferença, Bonner, entre a posição individual minha como cidadã: eu sou contra o aborto. Sou contra o aborto porque eu acho uma violência contra a mulher, e não acredito que mulher alguma é a favor do aborto. Acho que as pessoas que recorrem ao aborto o fazem em situação-limite. O que é que acontece com o presidente da República? Ele não pode fingir que não existem milhares de mulheres, principalmente, até milhões, pelos dados até publicados pelo [jornal O] "Globo" são milhões de mulheres, três milhões e meio de mulheres que recorrem ao aborto. Nós não podemos fingir que essas mulheres não existem. E mais: não podemos fingir que essas mulheres, elas fazem isso em situações muito precárias, e provoca, recorrer ao aborto provoca risco de vida e em alguns casos a morte. Pois bem, a minha posição sempre foi a seguinte: você não pode colocar essas mulheres, prender essas mulheres. Não se trata de prender as mulheres, se trata de cuidar delas. Porque você não vai deixar três e meio milhões de mulheres ameaçadas a sua saúde. Então são duas posições diferentes. Quando a gente diz que o aborto não é um caso de polícia, no Brasil ele é um caso de saúde pública, o que que nós estamos falando? Nós estamos falando o seguinte: para prevenir para que não haja o aborto, primeira questão, nós temos que tratar a quantidade imensa de gestantes adolescentes que recorrem ao aborto ou porque têm medo da família, da família não aceitar, ou porque já não têm laços familiares efetivos que podem garantir a ela o apoio pra poder ter a criança.

William Bonner: Agora, na semana passada, a senhora divulgou um documento em que a senhora afirmou o compromisso de não propor nenhuma modificação na legislação. Algumas pessoas que defendem o aborto, né, como uma questão de saúde pública, como a senhora mesma já fez no passado, entenderam que esse seu compromisso seria um recuo, uma concessão, digamos assim, excessiva aos religiosos, que entra em contradição com algo que a senhora mesma defendeu. A senhora dizia: é uma questão de saúde pública e é um absurdo, a senhora disse isso para a “Folha de S.Paulo”, é um absurdo que não se legalize a questão. Daí a questão. A senhora não vê essa contradição?
Dilma Rousseff: Não, não vejo. Sabe por que, Bonner? Porque ninguém em sã consciência vai propor prender 3,5 milhões e meio de mulheres. Até porque tem um problema concreto, prático. Eu não concordo com a mudança na legislação. A legislação prevê aborto em dois casos. Prevê no caso de estupro e de risco de vida pra mulher. Então há, necessariamente, uma forma de a gente conduzir isso sem alteração. E acredito que um processo de alteração, por exemplo, por plebiscito, seria muito ruim. Porque dividiria o Brasil de ponta a ponta. Não levaria a uma forma de, eu diria, de acordo e de consenso. Pelo contrário: os países que fizeram isso tiveram péssimas experiências. Então eu fiz uma carta que é uma carta a todos os religiosos, mas é uma carta pública ao povo brasileiro no sentido de que acredito que a legislação.

Fátima Bernardes: Pode ser mantida...
Dilma Rousseff: Pode ser mantida, e não é necessário alterar os termos da legislação.

Fátima Bernardes: Candidata, os institutos de pesquisa atribuíram não a essa questão do aborto, mas ao escândalo da sua ex-assessora Erenice Guerra, essa ida pro segundo turno, ao escândalo envolvendo contratação de familiares, de parentes, e tráfico de influência. A senhora chegou a dizer num primeiro momento que essas denúncias eram factóides, depois a senhora mesma reconheceu que sua ex-assessora errou e que o seu partido investiga os erros. Agora a questão que surge é a seguinte: como é que isso aconteceu num ministério que a senhora comandou, a Casa Civil, e que garantias a senhora oferece ao eleitor de que isso não venha a se repetir no caso de a senhora ser eleita?
Dilma Rousseff: Olha, Fátima, a gente tem de ser muito claro com o eleitor e não tentar enganá-lo. Erros e pessoas que erram acontecem em todos os governos. O que diferencia um governo de qualquer outro governo é a atitude desse governo em relação ao erro. A nossa atitude é: nós investigamos e punimos. Por exemplo, no caso da Erenice: eu não concordo com a contratação de parentes e amigos. Sempre fui contrária ao nepotismo. Jamais deixei que se praticasse.

Fátima Bernardes: Mas ele aconteceu.
Dilma Rousseff: Sempre pode acontecer. As pessoas podem errar em vários momentos. Não tem como você saber que a pessoa vai errar ou não a priori. O que você tem de garantir é que haja punição. Por exemplo, eu vou te dar um exemplo.

Fátima Bernardes: A senhora acha que houve alguma falha, por exemplo, na estrutura montada pela senhora na Casa Civil para que esse erro pudesse acontecer?
Dilma Rousseff: Veja bem, ninguém controla o governo inteiro. O que você tem de ter garantia, vou repetir, é que havendo o mal feito, você investigue e pune. Nós estamos, nós estamos claramente, já 16 pessoas depuseram no caso da Erenice e a polícia está investigando se houve ou não houve tráfico de influência. Quanto à nomeação de parentes, foram todos, os que estavam ainda no governo, porque a grande maioria não estava, foram demitidos. Veja você, há uma diferença entre nós e o meu adversário. O meu adversário tem uma acusação gravíssima, que é o caso Paulo Vieira de Souza. O Paulo Vieira de Souza está investigado na operação da Polícia Federal chamada Castelo de Areia por propina, porque ele era diretor do equivalente aqui no Rio ao departamento de estradas, e ele cuidava das mais importantes obras do governo do estado de São Paulo. Até agora não houve uma investigação e não houve nenhum processo, pelo contrário: há uma diferença entre quem investiga e pune e quem acoberta e não pune, quem acoberta e cria uma coisa que se chama impunidade, porque a gente tem de perceber isso. Um governo é como uma empresa: ninguém sabe absolutamente de tudo o que acontece na empresa, mas o que que você tem de ter? Você tem de ter mecanismos para, havendo conhecimento daquela atividade, eu quero te dizer: no meu governo, eu serei implacável tanto com essa questão de nepotismo, né, que é a contratação de parentes, quanto com tráfico de influência ou conhecimento de qualquer mal feito relacionado à propina ou outras variantes disso.

William Bonner: Me permita fazer uma questão agora sobre a campanha eleitoral. Nesse segundo turno, o ex-deputado Ciro Gomes se juntou a sua equipe para coordenar a sua campanha na eleição. É curioso, porque há seis meses, o candidato Ciro... o então... o ex-deputado Ciro Gomes chegou a dizer que o seu adversário, candidato José Serra, do PSDB, é mais preparado do que a senhora para ser presidente da República. Sobre o PMDB, que é o partido do seu candidato a vice, Michel Temer, ele disse que era um ajuntamento de assaltantes, palavras dele, e sobre o próprio Michel Temer, o seu candidato a vice, ele chegou a dizer que era o chefe dessa turma. A minha pergunta é a seguinte, candidata: foi a sua equipe que pediu ajuda a Ciro Gomes ou foi ele que ofereceu ajuda a sua campanha?
Dilma Rousseff: Veja bem, eu tenho uma relação muito longa, de há muito tempo com o deputado Ciro Gomes. Nós participamos do mesmo governo e eu sempre disse em todo esse processo que eu respeitava, tinha uma excelente relação com ele e entendia, inclusive, que naquele momento ele estivesse magoado pela circunstância que levou ele a não ser candidato. E eu vou ter sempre, eu sei como é que é a forma pela qual e o temperamento do deputado Ciro Gomes. Ele nos procurou e nós...

William Bonner: Foi ele que procurou? Aí a senhora...
Dilma Rousseff: ... aceitamos prontamente. Por quê? Porque o deputado Ciro Gomes, eu convidei para ir a minha casa, inclusive a jantar. Eu já não lembro se foi janta ou se foi o almoço. Por quê? Porque eu tenho uma relação pessoal, mas nesse momento ele não me apoiou formalmente.

William Bonner: Certo.Dilma Rousseff: Ele foi me apoiar depois, agora, no primeiro turno, a partir do fato que ele foi coordenador da campanha do Cid e que o governador Cid, também pelas nossas relações, me apoiava.

William Bonner: Não, é só porque, para concluir, a senhora tem direito a 30 segundos para se despedir de seus eleitores.
Dilma Rousseff: Ah, já estamos no fim?

William Bonner: Já terminou, já foi aquele minutinho de tolerância.
Dilma Rousseff: Primeiro eu queria agradecer muito ao acompanhamento dos ouvintes e fazer um apelo de forma muito humilde. Eu peço o voto e o apoio de vocês que me assistem, porque eu represento um projeto que transformou o Brasil, que fez com que o Brasil distribuísse renda, que o Brasil criasse um grande mercado consumidor, pagasse o FMI. Mas sobretudo também que nós nos tornamos respeitados lá fora. Eu vou continuar isso, eu assumo esse compromisso com vocês. E eu gostaria muito, se Deus quiser e contar com o seu voto, de ser a primeira presidenta do Brasil.

Fátima Bernardes: Muito obrigada, candidata Dilma Rousseff, pelo seu retorno aqui ao Jornal Nacional.Dilma Rousseff: Muito obrigada, Fátima e Bonner.

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