Aconteceu tudo ao contrário do que a oposição esperava. O último debate, o da Globo, o de maior audiência, aquele que poderia comprometer Dilma e alavancar Serra e Marina e provocar o segundo turno saiu pela culatra para os oposicionistas. Nem o "fator" Plínio funcionou. A candidata do PT teve, sem sombra de dúvida, o melhor desempenho. Para quem lidera as pesquisas, não sair chamuscada já é uma vitória. Vencer o debate então é praticamente selar o destino das eleições no primeiro turno.
As regras engessadas do debate impediram um confronto direto entre Serra e Dilma, restando ao tucano fazer ataques indiretos ao governo federal, numa postura antipática.Segundo informações iniciais, o debate teve média de audiência de 24 pontos na medição do Ibope, tendo liderado a audiência entre as TVs de canal aberto durante os três primeiros blocos.
Marina repete discurso idealista
Para quem passou a semana saltitando "ondas verdes", Marina Silva estava muito apagada na maior parte do debate. Acordou só a partir do terceiro bloco e foi justamente para brigar com Serra. O tucano caiu na armadilha e foi ríspido com a candidata do PV, lembrando que ela não deixou o governo Lula na época do "mensalão". Os marqueteiros já tinham avisado aos candidatos que deveriam fugir de embate ríspido com Marina.
Marina insistiu no debate de estratégias, sem propostas concretas. Repetiu o discurso idealista que atinge uma faixa muito reduzida da população. Seu pronunciamento final foi fraco e a candidata apareceu diante das câmeras da Globo com aparência séria demais, quase triste. Definitivamente, não ajudou a suposta "onda verde" a ganhar musculatura.
Plínio não estava afiado
Plínio teve sua pior performance, a menos engraçada, a menos espirituosa, e justamente no debate de maior audiência. O candidato do PSOL conseguiu retomar a forma só nas considerações finais, quando fez um discurso cativante e ideológico. Mas já era tarde, o debate estava no fim.
Quando tentou provocar os adversários, Plínio usou argumentos equivocados. Ao ser questionado por Dilma sobre funcionalismo público, ele acusou o governo Lula de "privatizar" e "terceirizar" os serviços. Deu a deixa para Dilma rebater, dizendo que quem privatizou e terceirizou foi o governo FHC.
Serra evitou confronto
Serra não conseguiu ir além das críticas técnicas e econômicas ao atual governo. Não teve oportunidade de apresentar propostas interessantes com argumentação palatável ao eleitor indeciso. O tucano precisava desesperadamente de um desempenho acima da média para conquistar novos eleitores. Ou torcer para um desempenho desastroso de Dilma para arrancar eleitores dela. Não conseguiu nem uma coisa nem outra. Em sua fala final, sequer foi aplaudido pela platéia de tucanos presentes no estúdio da Globo.
Dilma manteve a serenidade
Dilma, por sua vez, respondeu a todas as perguntas com serenidade e no episódio que poderia resultar em seu pior momento --quando riram de sua fala sobre doações de campanha--, ela teve presença de espírito suficiente para inverter a situação e acabar a fala recebendo aplausos ao dizer que "lamenta o riso daqueles que têm outra prática".
A candidata petista estava preparada para responder perguntas potencialmente embaraçosas sobre as denúncias envolvendo a Casa Civil, sobre liberdade de imprensa e sobre aborto. Temas com os quais a oposição e a mídia têm atacado a candidata. Mas nem precisou. Preocupados em não adotar posturas agressivas, os adversários de Dilma sequer tocaram nestes assuntos.
Decisão no primeiro turno ficou mais factível
O debate acabou sendo um passeio para a candidata favorita. Dilma fez a natural defesa do governo Lula, mas citou o nome do presidente pouquíssimas vezes, mostrando que a campanha ajudou-a a ganhar personalidade própria.
Muitos analistas políticos passaram a semana dizendo que o debate desta quinta-feira seria decisivo. Se for mesmo, aponta para uma decisão no primeiro turno, a favor de Dilma.
Cláudio Gonzalez
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