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O marketing do espetáculo
Por Alberto Dines
Qualquer avaliação mais consistente sobre "o casamento do século" na sexta-feira (28/4) em Londres ficará incompleta se não for colocada ao lado da "beatificação da década" encenada dois dias depois, em Roma.
As douradas bodas do príncipe William com a plebéia Kate Middleton e a primeira fase do velocíssimo processo de santificação do papa Karol Wojtila fazem parte de um mesmo processo que poderia ser chamado de "marketing do espetáculo".
A monarquia britânica é uma fantasia que ficou escancarada com a morte da rainha Vitória, última figura real efetivamente carismática, em 1901. O toque de romantismo da abdicação de Eduardo 7º (em 1936), os dramas amorosos da princesa Margareth (irmã da atual rainha) e a trágica morte de Lady Di às margens do Sena, em 1997 – episódios intensamente midiatizados e agora esquecidos – confirmam que as monarquias deixaram a esfera do Estado e passaram a funcionar pela lógica das lantejoulas e dos holofotes.
O rei da Espanha, Juan Carlos, é o único no mundo com algum peso político graças à habilidade na transição do autoritarismo para a democracia. O resto é folhetim. Ou fraude.
Deslumbre tropical
"Santo subito", santo já, pediam as faixas na praça São Pedro, em Roma, depois do falecimento de João Paulo 2º, em 2005. A igreja católica perdia terreno para as confissões luteranas, multiplicavam-se os abusos sexuais em confessionários e seminários, o fracasso de George W. Bush na luta contra o "Eixo do Mal" comprometia as façanhas políticas do pontífice polonês que ajudou a romper a Cortina de Ferro.
A beatificação de Karol Wojtila está sendo considerada a mais rápida da história, a canonização e a santificação terão igual velocidade. Santidades reforçam a fé – quanto mais atuais, mais eficazes. A espiritualidade e a teologia saíram de cena, substituídas pela ferramenta da modernidade: a fabricação de fatos. Londres envolveu-os com charmes do novoriquismo e sonhos juvenis. A eterna Roma, mais pragmática, aposta em crenças.
Nossa mídia extasiou-se durante duas semanas no reino das abóboras e abobrinhas, incapaz de perceber que há algo de decadente na velha Albion. Se pudesse ficaria outras duas fofocando e tricotando banalidades em Londres e arredores. Caso clássico de interação entre mediadores e mediados. A cobertura da BBC na noite do casório foi muito mais sóbria do que a cobertura dos deslumbrados telejornais brasileiros.
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