É bem menos simples do que parece decidir se foi boa ou ruim para a presidente Dilma Rousseff a declaração do ministro Nelson Jobim de que votou em José Serra na eleição do ano passado. Há pelo menos duas formas de entender o fato e nenhuma delas pode ser considerada tão melhor ou tão pior do que a outra.
O primeiro e previsível entendimento é o de que foi ruim para a presidente que ministro de pasta tão sensível tenha achado Serra mais competente do que a candidata do governo que ele integrava. Jobim teria sido imposto a Dilma pelo PMDB, o que faz dela uma líder fraca. Essa visão está sendo inflada pela mídia, pela oposição e por parte da militância petista.
O segundo entendimento é o de que foi bom para Dilma, pois tendo a prerrogativa de escolher qualquer um escolheu alguém com quem não tem afinidades políticas, priorizando supostas melhores condições que Jobim teria para exercer o cargo. Esse ponto de vista, por sua vez, agrada à parcela mais contente da militância petista.
É o mesmo tipo de situação em que a presidente está por conta da crise no Ministério dos Transportes. O governo seria um antro de corrupção e Dilma o estaria “limpando”, mas a mesma Dilma participou ativamente do governo anterior, que tinha o mesmo ministro recém-demitido, e nada fez. Isso apesar do cargo de chefe dos ministros.
Em ambos os casos, Dilma se equilibra entre a imagem de líder sem liderança e a de gestora corajosa e sóbria que prioriza sempre a decisão técnica mais adequada em detrimento das injunções políticas. A grande questão, porém, é: como o povo está vendo tudo isso?
A mídia diz que o povo está gostando da “limpeza” de Dilma. Enquanto isso, nas entrelinhas, vai dizendo que ela está limpando a própria sujeira. Contudo, ontem o Estadão publicou editorial que dizia que, neste governo, é proibido roubar, mas que no anterior era permitido.
A intenção de jogar Dilma contra Lula é mais do que evidente, apesar de que, sempre nas entrelinhas, a própria mídia considera remota a chance de a presidente romper com o padrinho político. Mas então por que está sempre colocando os dois em campos opostos?
Parece óbvio que os alvos desse discurso são justamente aqueles que o estão comprando, a militância ou os simpatizantes do PT mais descontentes com o atual governo. A relação conturbada de Dilma com setores do próprio partido e até da base aliada é que são os alvos. Fica difícil imaginar, no entanto, que o povão esteja dando bola para isso.
O diabo é que a militância é a caixa de ressonância na sociedade. No curto prazo, não deve haver maior problema. Mas essa militância que foi tão requerida durante o governo Lula pode ser de novo lá na frente e, então, pode ter se dividido profunda e irremediavelmente. A economia terá que continuar bem forte, pois.
BLOG CIDADANIA EDU GUIM
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