É impressionante como a elite brasileira tem uma visão pessimista de seu país.
Mesmo ganhando dinheiro como jamais ganhou na história não consegue se livrar de sua formação mental de colonizada e não consegue, portanto, ter como estratégia nada que não seja imitar o mundo decadente dos países centrais.
Repete a cantilena anti-estatal, sem atinar com o óbvio de que todas os saltos de desenvolvimento econômico do país – mesmo com todas as suas distorções, algumas cruéis – se deram em períodos onde o Estado interniu fortemente para alavancar a economia: a era Vargas-JK, o período militar do final dos anos 60 e início dos 70 e o segundo governo Lula.
Continuamos a ouvir as mesmas histórias, de que precisamos “fazer o dever de casa”, traduzido isso em cortar investimentos, salários, afrouxar os controles públicos sobre o mundo das finanças, tudo o que não deu certo nos países centrais e está evidente agora. Copiamos o modelo privatizante-neoliberal de Tatcher-Reagan com 15 anos de atraso e, pior, num país que não tinha ainda sequer a solidez que as economias desenvolvidas tinham, então.
Incrível que se use como desculpas para isso o fato de termos gargalos – educação, saúde e infraestrutura – que foram construídos nos quase 20 anos – fim do período Figueiredo, governos Sarney, Collor e FH 1 e 2 – quando o Estado se ausentou do papel de indutor do desenvolvimento econômico.
Pode até ser que não surgissem tantos gargalos, porque a garrafas vazias pouco importa o tamanho de seus gargalos. Se eles surgem com mais evidência agora, é porque se cria, se produz e se consome como não se fazia antes.
De igual forma, como falar que estes gargalos são estatais. Em que área – exceto a telefonia, neste caso muito mais por força dos avanços da tecnologia – se pode dizer que a privatização fez o Brasil dar um salto? Energia? Estradas de ferro? Finanças? Onde?
Ah, por último se diz que o Brasil cresceu – e pouco – por conta de uma situação mundial favorável e muito menos do que poderia, se comparado aos demais países do mundo.
Será?
Nunca, na década que antecedeu à crise de 2008, o mundo tinha vivido uma crise tão profunda, porque localizada nas economias centrais. Nunca os Estados mais poderosos tinham se visto a braços com uma convulsão econômica em suas próprias entranhas.
Aproveitamos menos que os outros emergentes? Talvez, embora não muito, como você pode ver no gráfico publicado no último dia de 2011 pela The Economist. Mas, repare que não foi assim no emprego (o gráfico não mostra, mas este decresceu na Índia) e muito menos na distribuição de renda. ]
O Brasil teve um crescimento contínuo no PIB per capita (de US$ 8,3 mil por habitante, em 2005, para US$ 10,8 mil, em 2010), enquanto o fa China e da Índia decresceu na crise. Na Índia foi de US$ 3,4 mil para US$ 3,5 mil, no mesmo período, enquanto na China foi de US$ 6,8 mil para US$ 7,6 mil.
E, ao contrário das previsões de todos os que pensam no Brasil das elites, o aumento de renda da população a partir do novo salário mínimo vai encontrar o país ansioso por crescer mais.
Por: Fernando Brito
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