Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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quinta-feira, 1 de março de 2012

ABERTURA CHINESA: LIÇÕES A APRENDER



UM POUCO MAIS DE FOCO, POR FAVOR"a eleição refere-se ao futuro de São Paulo e às necessidades de seus cidadãos e não à carreira solo de José Serra" (Fernando Haddad, candidato a prefeito da capital)**"Viveremos e venceremos": Chávez, no twiter, após operação em Cuba**ilusões lácteas:' derrubar Assad levará o Irã a transformar suas centrais nucleares em fábricas de leite?"(Robert Fisk responde, nesta pág)* *Espanha vai para as ruas: 70 mil estudantes protestam em Barcelona contra o arrocho** o novo sujeito histórico?: "A classe trabalhadora ainda pode revolucionar o mundo mas ela não está mais no chão das fábricas. Agora, os "trabalhadores de Marx" só podem ser encontrados nas ruas dasgrandes cidades globais"( David Harvey; leia  a reportagem de Marcel Gomes, nesta pág)

 
Em 68 dias, de 21 de dezembro último a esta quarta feira, 29 de fevereiro, o Banco Central Europeu injetou mais de um trilhão de euros no sistema bancário da União Europeia, a taxa de juros de 1% ao ano, com prazo mínimo de 3 anos para pagar. Se os banqueiros e acionistas decidirem não emprestar à produção dissolvente, nem ao consumo esfarelado pelo desemprego e o arrocho laboral, que outro destino lucrativo poderiam dar à chuva de dinheiro barato? Uma hipótese matemática: a taxa de juro real hoje no Brasil (descontada a inflação) é da ordem de 5%. Se um banqueiro espanhol, digamos, apenas transferir a captação feita junto ao BCE para o mercado de títulos do país terá de volta remuneração suficiente para pagar o juro do seu papagaio e ainda embolsar um lucro suculento, sem risco.Na China, mesmo com planos de abertura financeira isso seria impossível.Uma lição a aprender? (LEIA MAIS AQUI)

Occupy Wall Street revela poder da 'nova classe trabalhadora'

De passagem pelo Brasil para três conferências e lançamento de um novo livro, o renomado geógrafo marxista inglês aponta as relações históricas entre o capital e o processo de urbanização, relaciona o processo de acumulação das corporações ao mercado imobiliário e vê os movimentos urbanos, da Comuna de Paris ao Occupy Wall Street, como um vetor poderoso para luta pelo socialismo e a justiça social.

São Paulo - Sim, a classe trabalhadora ainda pode revolucionar o mundo em direção à justiça social e ao socialismo. Mas, não, ela não está mais no chão das fábricas. Agora, os "trabalhadores de Marx" só podem ser encontrados nas ruas das grandes cidades globais.

É com essa análise, ao mesmo tempo crítica e cheia de esperança, que o renomado geógrafo inglês David Harvey conduz as conferências que profere no Brasil nesta semana, na PUC-SP, na USP e na UFRJ.

"Precisamos redefinir quem é a classe trabalhadora e, para mim, é aquela que produz vida urbana", disse ele, na noite de terça (28), a jovens que lotaram o auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP - e para muitos outros que não puderam entrar e o assistiram por um telão instalado no pátio.

Como argumentos para sua reflexão, ele relaciona a força dos protestos de Seattle contra a Organização Mundial do Comércio, em 1999, a mobilização em Mar del Plata contra a Alca, em 2005, e o movimento Occupy Wall Street, que estimulou ações semelhantes em outras cidades do mundo.

Longe de ser uma novidade, o próprio geógrafo inglês lembra outros movimentos anti-sistema que também tiveram características urbanas, como Comuna de Paris, em 1871. "É a revolução de caráter urbano mais clássica", afirma ele, sobre o movimento revolucionário que tomou a capital francesa por três meses e lançou um governo popular.

Trajetória teórica
Convidado pela Boitempo Editorial para lançar seu novo livro, "O enigma do capital" (240 páginas, R$ 39), Harvey ainda retoma nas conferências conceitos desenvolvidos ao longo de sua trajetória intelectual.

Entre eles, as dinâmicas financeiras que resultam na criação das regiões metropolitanas (sub-urbanização) e o enriquecimento das corporações com a especulação imobiliária (acumulação por espoliação).

Sua experiência como geógrafo e especialista em estudos urbanos o faz ver como previsível a forte relação entre as crises financeiras do capitalismo e o mercado imobiliário - para ele, o histórico destino prioritário dos excedentes do capital.

É dessa maneira que Harvey enxerga o mercado imobiliário contemporâneo, que, do dia para a noite, ergue novos condomínios, bairros e até cidades inteiras. Foi assim nos Estados Unidos do pós-guerra, e é assim hoje na China e até em algumas regiões do Brasil.

Sub-urbanização
Diante da crise econômica dos anos 30, o governo dos Estados Unidos investiu em obras de infra-estrutura e na construção civil em geral para reaquecer a economia do país.

Foi a partir desse período que surgiram os grandes subúrbios norte-americanos, que resultaram nas grandes regiões metropolitanas de Nova York, Chicago e Los Angeles.

A partir dos anos 70, o modelo entrou em crise junto à economia do país. Os crescentes déficits do balanço de pagamentos geraram a desvalorização do dólar (alguma semelhança com a conjuntura atual?) e levaram a uma reorganização da economia global.

Em 71, o banco central dos Estados Unidos acabou com a ancoragem do dólar em relação ao ouro, dando ponto final ao sistema de câmbio fixo. O adeus aos acordos firmados na conferência de Bretton Woods, em 1944, gerou um novo ciclo recessivo, agravado pelo primeiro choque do petróleo, em 1973.

A solução encontrada pelo governo norte-americano repetiu a escrita da primeira metade do século: incentivar os investimentos na construção civil.

A Lei da Recuperação Econômica, de 1981, incentivou a aplicação de recursos no ramo imobiliário e em 1983 a Fannie Mae foi autorizada a securitizar hipotecas convencionais. A crise do subprime, duas décadas e meia depois, estava em gestação.

Acumulação por espoliação
Nos subúrbios das grandes cidades norte-americanas, os novos proprietários de casas passaram a ser incentivados a usar mecanismos financeiros artificiais. "Casas que eram compradas por US$ 200 mil logo passavam a valer US$ 300 mil. Os proprietários podiam refinanciar a dívida e, de uma hora para outra, colocar US$ 100 mil no bolso", explica o geógrafo.

A estabilidade social nessas área também é garantida por um rígido controle. Segundo Harvey, nos Estados Unidos a ameaça de demissões passou a ser utilizada pelos empregadores como uma arma contra as mobilizações populares. A cultura conservadora prosperou. "Não é à toa que a maioria tornou-se republicana", afirma.

Mas o previsível estouro da bolha em 2008 ajudou a abrir rachaduras no sistema. Houve manifestações em diversas cidades norte-americanas contra a crise econômica, migrantes se levantaram em protesto a leis xenófobas e o movimento Occupy ganhou ruas e praças do país.

Sobre o Brasil, Harvey deixou poucas palavras. Lembrou que o país consegue, assim como a Argentina e outros "emergentes", escapar da crise por uma razão singular: esses países se aproveitam das exportações de matéria-prima para a China.

Ele lembra, porém, que o governo chinês também segue a tradicional receita norte-americana de estimular o crescimento econômico através da construção civil e da urbanização, o que tende a gerar bolhas passíveis de explosão.

Dessa forma, também o Brasil não estaria imune, em um futuro próximo, de uma crise novamente relacionada à acumulação capitalista através do mercado imobiliário.

Produção de Harvey
David Harvey é um dos marxistas mais influentes da atualidade, reconhecido internacionalmente por seu trabalho de vanguarda na análise geográfica das dinâmicas do capital.

É professor de antropologia da pós-graduação da Universidade da Cidade de Nova York (The City University of New York – Cuny) na qual leciona desde 2001.

Foi também professor de geografia nas universidades Johns Hopkins e Oxford. Seu livro Condição pós-moderna (Loyola, 1992) foi apontado pelo Independent como um dos 50 trabalhos mais importantes de não ficção publicados desde a Segunda Guerra Mundial.

Seus livros mais recentes, além de O enigma do capital (Boitempo), são: A Companion to Marx’s Capital (Boitempo, no prelo) e O novo imperialismo (São Paulo, Loyola, 2004).


Fotos: Divulgação/Boitempo

A nova Guerra Fria já começou na Síria

Foi bom saber, pelo secretário de Relações Exteriores britânico, que “não estamos apoiando a ideia de alguém atacar o Irã neste momento”. Talvez mais tarde, então. Ou talvez depois de o presidente Assad cair, privando o Irã de seu único – e valioso – aliado no Oriente Médio. É disso que se trata, eu suspeito, esse monte de rugidos vociferando contra Assad. Livre-se de Assad e você estará cortando parte do coração do Irã. Se isso vai levar Ahmadinejad a transformar suas usinas nucleares em fábricas de leite, bem, isso já é outro assunto. O artigo é de Robert Fisk.

“Se o Irã obtiver armas nucleares, eu acho que outras nações em todo o Oriente Médio vão querer desenvolver armas nucleares”.

Assim trovejou o nosso amado secretário de Relações Exteriores, William Hague, em um dos pronunciamentos mais ridículos que já fez. Hague parece passar muito de seu tempo representando diferentes personagens, então realmente não estou certo de qual Sr. Hague fez esta declaração.

O erro número um, é claro, é o fato do Sr. Hague não mencionar que já existe uma nação do Oriente Médio que já possui centenas de armas nucleares juntamente com os mísseis para dispará-las. Ela se chama Israel. Mas o Sr. Hague não mencionou esse fato. Ele não sabia disso? Claro que sim. O que ele estava tentando dizer, veja só, é que se o Irã seguir querendo produzir uma arma nuclear, os Estados árabes – Estados muçulmanos – vão querer adquirir uma. E isso não pode acontecer. Não lhe ocorreu mencionar a ideia de que o Irã pode estar tentando desenvolver armas nucleares porque Israel já as possui.

Agora, como uma nação que vende bilhões de libras de equipamento militar para países do Golfo Pérsico – para eles se defenderem de planos não-existentes do Irã para invadi-los -, a Grã-Bretanha não está propriamente em condições de advertir sobre a proliferação de armas na região. Eu fui às feiras de armas no Golfo, onde os ingleses mostraram filmes alarmantes sobre uma nação “inimiga” ameaçando os árabes – o Irã, é claro – e falando da necessidade dos países árabes comprarem mais kits da British Aerospace e dos nossos demais mercadores da morte.

Em seguida, a conversa de Hague pratica um assassinato histórico. Ele adverte sobre “o mais grave capítulo de proliferação nuclear desde que as armas nucleares foram inventadas”, que poderia produzir “a ameaça de uma nova Guerra Fria no Oriente Médio”, o que seria “um desastre mundial”. Eu sei que Hague senta-se na sala de Balfour e Eden – dois pseudo-especialistas em Oriente Médio -, mas será que ele tem mesmo que maltratar a história desse jeito? Certamente a rodada mais grave de proliferação nuclear ocorreu quando a Índia e o Paquistão adquiriram a bomba, está última uma nação inundada por grupos ligados a Al-Qaeda, talibãs e duvidosos agentes de serviços de inteligência.

Foi bom saber que “não estamos apoiando a ideia de alguém atacar o Irã neste momento”. Talvez mais tarde, então. Ou talvez depois de o presidente Assad eventualmente cair, privando o Irã de seu único – e valioso – aliado no Oriente Médio. É disso que se trata, eu suspeito, esse monte de rugidos vociferando contra Assad. Livre-se de Assad e você estará cortando parte do coração do Irã. Se isso vai levar Ahmadinejad a transformar suas usinas nucleares em fábricas de leite para criança, bem, isso já é outro assunto. Aqui está a questão central. As vozes poderosas que pedem a saída de Assad aumentam mais de volume na medida em que se recusam a se envolver na sua derrubada. Quanto mais eles se comprometem a não “meter a OTAN” na Síria, cada vez que dizem que não podem haver zonas de exclusão aérea na Síria, mais e mais ficam furiosos com Assad. Por que ele não parte simplesmente para sua aposentadoria na Turquia, acabando com o teatro de uma vez por todas, e parando de envergonhar a todos nós, coagindo seu país com bombas, francos atiradores e milhares de assassinatos, entre eles o de jornalistas.

Desnecessário dizer que Hague também tagarela sobre a Síria, supostamente também não “apoiando a ideia de alguem atacar a Síria neste momento”. E esse é um problema que fede muito para o ministro das Relações Exteriores. Ela estava justamente denunciando o assassinato de Marie Colvin esta semana – eu a vi nos últimos dias da revolução egípcia, avançando, como de costume, em meio ao estouro de granadas de gás lacrimogêneo -, mas centenas de outros seres humanos inocentes foram cruelmente assassinados na Síria sem que isso provocasse um sussurro sequer de Hague. Alguns deles foram mortos pela oposição armada a Assad. O assassinato de alauitas por sunitas está se tornando terrivelmente familiar, assim como a matança de civis por fogo de artilharia do governo sírio se tornou um modelo nesta guerra terrível.

Não, nós não vamos nos envolver na Síria, muito obrigado. Porque a nova Guerra Fria na região, papagaiada por Hague, já começou na Síria, não no Irã. Os russos estão alinhados contra nós lá, apoiando Assad e denunciando-nos. Só que a reação de Putin a uma substituição de Assad é um mistério. Não será uma “nova” Síria, necessariamente, a democracia pró-Ocidente que Hague e outros gostariam de ver.

Os sírios, afinal não vão esquecer a maneira pela qual os britânicos e os americanos silenciosamente aprovaram o massacre infinitamente mais terrível de 10 mil sírios muçulmanos sunitas em Hama, em 1982. Este ano marca o 30º aniversário desse massacre, praticado pelas Brigadas de Defesa de Rifaat Ali al-Assad, tio do atual presidente Assad.

Mas, como Hague, Rifaat também tem seu “doppelgänger” (termo alemão para sósia ou duplo de uma personagem). Longe de ser o assassino de Hama – um termo que ele contesta ferozmente -, ele agora é um senhor simpático e aposentado, vivendo em grande estilo e em segurança muito próximo da mesa de Hague. Na verdade, se Hague sair do prédio do Ministério das Relações Exteriores e dobrar à esquerda ele pode encontrar e conhecer o homem pessoalmente em – onde mais ele poderia viver? – Mayfair (área nobre no centro de Londres). Agora, isso seria um desastre para os assuntos mundiais, não?

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer




 

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