O Supremo não perde por esperar
Saiu no Globo:
RIO – O que era para ser uma simples comemoração pela passagem dos 48 anos do golpe que culminou em 21 anos de ditadura no Brasil, organizada por militares da reserva, nesta quinta-feira, no Centro do Rio, foi marcada por uma grande confusão. Cerca de 350 pessoas, entre eles representantes do PT, PCB, PCdoB, Psol, PDT e outros movimentos sociais de esquerda, bloquearam a entrada principal do Clube Militar, na esquina das avenidas Rio Branco e Almirante Barroso, e tumulturam a chegada dos convidados para o evento. O tempo todo gritavam palavras de ordem, chamando os militares de torturadores, assassinos e covardes. Cada militar que chegava ao local era cercado, xingado e só conseguia entrar no prédio sob escolta da PM.
Um dos militares revidou ao xingamento, pegou o celular de um manifestante, que reagiu. Houve empurra-empurra e o estudante de Ciências Sociais Antônio Canha, de 20 anos, acabou sendo atingido por um tiro de descarga elétrica de uma pistola Taser. Os manifestantes também derramaram um balde de tinta vermelha nas escadarias do Clube Militar, representando o sangue derramado durante a ditadura, e atingiram um segurança do local com ovos.
Nas ruas próximas, vários cartazes com frases como “Ditadura não é revolução”, “Onde estão nossos mortos e desaparecidos do Araguaia?”, além de fotografias de desaparecidos durante os anos de chumbo. Parentes de desaparecidos compareceram ao protesto, como Maria Cristina Capistrano, filha do David Capistrano, jornalista e ex-ativista do PCB.
- Em 1974, ele foi levado para o DOPS no Rio de Janeiro e depois para a casa da morte, em Petrópolis. Desde então nunca mais tivemos notícias dele. Devidoa a casos como este do meu pai, acho importante este tipo de mobilização.
O polciamento do local foi feito pela tropa de choque da PM, que cercou a entrada do Clube. Uma pessoa foi presa após se desentender com um militar. A confusão começou com xingamentos e acabou em socos e pontapés e com o manifestante sendo levado pela PM num camburão, o que provocou mais revolta dos manifestantes. No momento em que o jovem foi colocado no camburão, várias pessoas tentaram impedir que ele fosse levado, cercando o veículo. A PM, então, usou de spray de pimenta para dispersar a aglomeração. Os manifestantes fecharam a Avenida Rio Branco por dez minutos e só liberaram o trânsito após os policiais usarem bombas de efeito moral, cujos estilhaços feriram na barriga a manifestante Miriam Caetano, de 33 anos.
Os militares, que ficaram o tempo todo acuados dentro do prédio, foram saindo aos poucos pela porta dos fundos do local.
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