A intervenção brasileira foi ovacionada com risos e palmas pelos demais chefes de Estado presentes. Caberia a Dilma, ainda, contrapor ao caquético catecismo da subordinação comercial o ponto de vista estratégico de uma América Latina cada vez mais encorajada a buscar seu próprio caminho e, mais que isso, definitivamente convencida de que esse caminho de soberania e desenvolvimento não cabe no acostamento estreito destinado historicamente à região pela Casa Branca. Em um improviso mais de uma vez aplaudido, ela despertou o orgulho latino-americano diante de um Obama entre sonolento, ausente e blasé. (LEIA MAIS AQUI)
“É inaceitável outra Cúpula das Américas sem Cuba”
Na abertura da Cúpula das Américas, realizada na cidade de Cartagena, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pediu que fosse deixada para trás a teimosia ideológica na questão cubana e que fosse superado um “anacronismo da guerra fria”. Além disso, afirmou que uma nova reunião de cúpula da região sem a presença de Cuba seria inaceitável. Os governos dos EUA e do Canadá, que se opuseram à presença de Cuba na reunião, acabaram isolados.
José Antonio Román – La Jornada
Cartagena - Após inaugurar a sexta Cúpula das Américas, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, pediu que fosse deixada para trás a teimosia ideológica na questão cubana e que fosse superado um “anacronismo da guerra fria”. Além disso, afirmou que uma nova reunião de cúpula da região sem a presença de Cuba seria inaceitável. E, da mesma forma, seria inaceitável uma nova cúpula com um Haiti prostrado na pobreza extrema.
Diante da maioria dos mandatários da região, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o primeiro ministro canadense Stephe Harper, que se opuseram à presença de Cuba neste encontro continental, Santos ecoou, assim, a controvérsia surgida na véspera entre os chanceleres, que não chegaram a um acordo sobre o documento final da cúpula. Os dois países da América do Norte rejeitaram incluir no texto a necessidade de incorporar Cuba em futuras reuniões.
Sem nunca citar os Estados Unidos, o presidente anfitrião pediu aos países do continente para que deixassem para trás os paradigmas do passado, criassem pontes e fossem criativos para superar as dificuldades do hemisfério, entre elas a situação de Cuba. O isolamento, o embargo, a indiferença, o olhar para outro lado, já demonstraram sua ineficácia, acrescentou.
Santos sustentou ainda que no mundo de hoje não se justifica esse caminho, que não passa de um “anacronismo que nos mantém presos à era de uma guerra fria superada há várias décadas”. É hora, defendeu, de superar a paralisia provocada pela teimosia ideológica e de buscar consensos mínimos para que esse processo de mudança que também está ocorrendo na ilha chegue a um bom termo, pelo bem do povo cubano.
Para o presidente colombiano, é inaceitável que Cuba não participe da próxima Cúpula das Américas. Não podemos também chegar à próxima cúpula invocando um espírito hemisférico se antes não somos capazes de contribuir, coletivamente, para que o Haiti entre com vigor na senda do crescimento e da superação da pobreza extrema, acrescentou. Ele pediu ainda que em vez de impulsionar agendas próprias, os países do hemisfério, que queiram ajudar, façam sua a agenda do próprio governo haitiano, que conhece melhor do que ninguém as necessidades de seu povo. “Tem faltado o mais importante nos gestos de boa vontade para ajudar o Haiti: conhecer o que quer e o que realmente precisa o povo haitiano”.
A cúpula continente iniciou com a cantora colombiana Shakira, que cantou o hino nacional de seu país diante de um auditório repleto, onde estavam os 31 presidentes da região, no centro de convenções desta histórica cidade cercada de muralhas. Além do de Cuba, somente os presidentes da Venezuela,
Nicarágua e Equador, por diferentes motivos, não participaram do encontro.
Também participaram da sessão de abertura o secretário geral da Organização de Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, e a secretária executiva da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), Alicia Bárcena, que fizeram um balanço da situação na região e concordaram que não deve haver mais países excluídos.
Insulza, sem mencionar expressamente o caso cubano, defendeu o fim das exclusões e destacou os avanços democráticos que a região vive hoje, além dos aportes e da vitalidade que está transformando os países latino-americanos em uma fortaleza econômica desconhecida até agora. Para o secretário geral da OEA, existem grandes diferenças regionais, mas assinalou que essas diferenças devem ser reconhecidas de modo solidário. A melhor solução, defendeu, é ter diálogo, cooperação e tolerância. Enquanto isso, a funcionária da Cepal afirmou que o progresso e o bem estar dos povos do continente americano constituem uma responsabilidade entre Canadá, Estados Unidos, América latina e Caribe. Ela insistiu que a cooperação é essencial para cumprir uma agenda de desenvolvimento econômico com igualdade, daí a importância da constituição da comunidade dos estados americanos e do Caribe, porque isso mudou a forma de nos relacionarmos.
Tradução: Katarina Peixoto
Diante da maioria dos mandatários da região, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o primeiro ministro canadense Stephe Harper, que se opuseram à presença de Cuba neste encontro continental, Santos ecoou, assim, a controvérsia surgida na véspera entre os chanceleres, que não chegaram a um acordo sobre o documento final da cúpula. Os dois países da América do Norte rejeitaram incluir no texto a necessidade de incorporar Cuba em futuras reuniões.
Sem nunca citar os Estados Unidos, o presidente anfitrião pediu aos países do continente para que deixassem para trás os paradigmas do passado, criassem pontes e fossem criativos para superar as dificuldades do hemisfério, entre elas a situação de Cuba. O isolamento, o embargo, a indiferença, o olhar para outro lado, já demonstraram sua ineficácia, acrescentou.
Santos sustentou ainda que no mundo de hoje não se justifica esse caminho, que não passa de um “anacronismo que nos mantém presos à era de uma guerra fria superada há várias décadas”. É hora, defendeu, de superar a paralisia provocada pela teimosia ideológica e de buscar consensos mínimos para que esse processo de mudança que também está ocorrendo na ilha chegue a um bom termo, pelo bem do povo cubano.
Para o presidente colombiano, é inaceitável que Cuba não participe da próxima Cúpula das Américas. Não podemos também chegar à próxima cúpula invocando um espírito hemisférico se antes não somos capazes de contribuir, coletivamente, para que o Haiti entre com vigor na senda do crescimento e da superação da pobreza extrema, acrescentou. Ele pediu ainda que em vez de impulsionar agendas próprias, os países do hemisfério, que queiram ajudar, façam sua a agenda do próprio governo haitiano, que conhece melhor do que ninguém as necessidades de seu povo. “Tem faltado o mais importante nos gestos de boa vontade para ajudar o Haiti: conhecer o que quer e o que realmente precisa o povo haitiano”.
A cúpula continente iniciou com a cantora colombiana Shakira, que cantou o hino nacional de seu país diante de um auditório repleto, onde estavam os 31 presidentes da região, no centro de convenções desta histórica cidade cercada de muralhas. Além do de Cuba, somente os presidentes da Venezuela,
Nicarágua e Equador, por diferentes motivos, não participaram do encontro.
Também participaram da sessão de abertura o secretário geral da Organização de Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, e a secretária executiva da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), Alicia Bárcena, que fizeram um balanço da situação na região e concordaram que não deve haver mais países excluídos.
Insulza, sem mencionar expressamente o caso cubano, defendeu o fim das exclusões e destacou os avanços democráticos que a região vive hoje, além dos aportes e da vitalidade que está transformando os países latino-americanos em uma fortaleza econômica desconhecida até agora. Para o secretário geral da OEA, existem grandes diferenças regionais, mas assinalou que essas diferenças devem ser reconhecidas de modo solidário. A melhor solução, defendeu, é ter diálogo, cooperação e tolerância. Enquanto isso, a funcionária da Cepal afirmou que o progresso e o bem estar dos povos do continente americano constituem uma responsabilidade entre Canadá, Estados Unidos, América latina e Caribe. Ela insistiu que a cooperação é essencial para cumprir uma agenda de desenvolvimento econômico com igualdade, daí a importância da constituição da comunidade dos estados americanos e do Caribe, porque isso mudou a forma de nos relacionarmos.
Tradução: Katarina Peixoto
O único meio de enfrentar o tsunami monetário
A Presidenta Dilma Rousseff tem dado um show nas suas relações internacionais. E está dando um show ainda maior na relação com os banqueiros internos. Pela primeira vez na história, um presidente da República que entende do riscado, contornando as ambigüidades de seu próprio Ministro da Fazenda, decidiu enfrentar a máfia bancária tocando no ponto essencial dos spreads exorbitantes, sem paralelo no mundo. O artigo é de J. Carlos de Assis.
J. Carlos de Assis (*)
Quando a presidenta Dilma acusa os bancos centrais dos EUA e da Europa de provocarem um tsunami monetário que afoga em dinheiro barato os países emergentes, o que ela tem em vista, no fundo, é o efeito cambial que isso causa, levando à valorização de nossa moeda, ao aumento de importações e queda de exportações, tendo por conseqüência última a expansão do desemprego. Ela está cheia de razão, portanto. Contudo, é uma ilusão achar que a solução para isso está na mudança da política monetária de EUA e da Europa. Está no nosso próprio quintal.
Tanto o presidente Obama como os líderes da área do euro se impuseram fortes restrições em matéria de política fiscal: Obama, com menos gosto (condicionado pelo Partido Republicano), e a Europa, sob o tacão alemão, francês e inglês, de extremo conservadorismo e ortodoxia fiscal. Portanto, se é para usarem a política macroeconômica para estimular a economia, só têm como alternativa a política monetária, que por sinal não é de governo (é dos BCs) e nem está direcionada para a retomada do crescimento, mas para a salvação do sistema financeiro.
Na medida em que os países industrializados avançados insistem na política de arrocho fiscal, com a única expectativa de aumentar as exportações, a desvalorização do câmbio se manterá como arma voltada contra o resto do mundo num esquema de protecionismo disfarçado pelo câmbio. Não adianta a Presidenta protestar contra isso. Ela tem que tomar medidas concretas para barrar o tsunami na fronteira de nosso quintal. Basicamente, tem que adotar controles de movimentos de capitais mais fortes que os adotados até aqui com o modesto aumento do IOF.
Isso não depende de banco central estrangeiro nem de outros governos. Está na órbita de nossa soberania. Até mesmo o FMI passou a admitir controles de capitais em situações excepcionais, e esta, indubitavelmente, é uma situação excepcional. Não é que seja necessário bloquear todo o dinheiro que tenta entrar. Basta bloquear o dinheiro especulativo. Ou adotar uma espécie de filtro para deixar passar apenas os recursos externos destinados a investimentos produtivos, que certamente ajudam na geração de emprego e renda internos.
Claro que a Bolsa sentirá um baque pois o dinheiro especulativo alimenta a valorização de ações no mercado. Contudo, deveremos hipotecar a saúde da economia brasileira ao conforto de meia dúzia de especuladores no mercado acionário? Há quanto tempo não se ouve falar sobre colocação primaria de ações em nosso mercado, no único momento em que a Bolsa efetivamente contribui para o financiamento de atividade produtiva? Também o acesso de dinheiro externo a aplicações em títulos de liquidez diária, sobretudo públicos, deve ser totalmente eliminado.
A Presidenta tem dado um show nas suas relações internacionais. E está dando um show ainda maior na relação com os banqueiros internos. Pela primeira vez na história, um presidente da República que entende do riscado, contornando as ambigüidades de seu próprio Ministro da Fazenda, decidiu enfrentar a máfia bancária tocando no ponto essencial dos spreads exorbitantes, sem paralelo no mundo. Isso nos anima a esperar medidas igualmente efetivas no campo das relações financeiras internacionais, no qual a questão do controle de capitais tornou-se simplesmente vital.
(*) Economista e professor, presidente do Intersul, autor, com o matemático Francisco Antonio Doria, do recém-lançado “O universo neoliberal em desencanto”, pela Civilização Brasileira. Esta coluna sai também no site Rumos do Brasil e, às terças, no jornal carioca Monitor Mercantil.
Tanto o presidente Obama como os líderes da área do euro se impuseram fortes restrições em matéria de política fiscal: Obama, com menos gosto (condicionado pelo Partido Republicano), e a Europa, sob o tacão alemão, francês e inglês, de extremo conservadorismo e ortodoxia fiscal. Portanto, se é para usarem a política macroeconômica para estimular a economia, só têm como alternativa a política monetária, que por sinal não é de governo (é dos BCs) e nem está direcionada para a retomada do crescimento, mas para a salvação do sistema financeiro.
Na medida em que os países industrializados avançados insistem na política de arrocho fiscal, com a única expectativa de aumentar as exportações, a desvalorização do câmbio se manterá como arma voltada contra o resto do mundo num esquema de protecionismo disfarçado pelo câmbio. Não adianta a Presidenta protestar contra isso. Ela tem que tomar medidas concretas para barrar o tsunami na fronteira de nosso quintal. Basicamente, tem que adotar controles de movimentos de capitais mais fortes que os adotados até aqui com o modesto aumento do IOF.
Isso não depende de banco central estrangeiro nem de outros governos. Está na órbita de nossa soberania. Até mesmo o FMI passou a admitir controles de capitais em situações excepcionais, e esta, indubitavelmente, é uma situação excepcional. Não é que seja necessário bloquear todo o dinheiro que tenta entrar. Basta bloquear o dinheiro especulativo. Ou adotar uma espécie de filtro para deixar passar apenas os recursos externos destinados a investimentos produtivos, que certamente ajudam na geração de emprego e renda internos.
Claro que a Bolsa sentirá um baque pois o dinheiro especulativo alimenta a valorização de ações no mercado. Contudo, deveremos hipotecar a saúde da economia brasileira ao conforto de meia dúzia de especuladores no mercado acionário? Há quanto tempo não se ouve falar sobre colocação primaria de ações em nosso mercado, no único momento em que a Bolsa efetivamente contribui para o financiamento de atividade produtiva? Também o acesso de dinheiro externo a aplicações em títulos de liquidez diária, sobretudo públicos, deve ser totalmente eliminado.
A Presidenta tem dado um show nas suas relações internacionais. E está dando um show ainda maior na relação com os banqueiros internos. Pela primeira vez na história, um presidente da República que entende do riscado, contornando as ambigüidades de seu próprio Ministro da Fazenda, decidiu enfrentar a máfia bancária tocando no ponto essencial dos spreads exorbitantes, sem paralelo no mundo. Isso nos anima a esperar medidas igualmente efetivas no campo das relações financeiras internacionais, no qual a questão do controle de capitais tornou-se simplesmente vital.
(*) Economista e professor, presidente do Intersul, autor, com o matemático Francisco Antonio Doria, do recém-lançado “O universo neoliberal em desencanto”, pela Civilização Brasileira. Esta coluna sai também no site Rumos do Brasil e, às terças, no jornal carioca Monitor Mercantil.
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