Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 20 de abril de 2012

JUROS: A LIÇÃO QUE FICA

* MARIA INÊS NASSIF: "Não foi apenas a oposição que perdeu a credibilidade, mas a banda de música do DEM e do PSDB passou a ser menos crível numa mídia que acuou o governo passado, mas está acuada agora" (LEIA a coluna da Editora de Política de Carta Maior; nesta pág)** Sarkozy despenca: a 2 dias das eleições francesas de domingo, as pesquisas para o 2º turno mostram uma vantagem de 16 pontos do socialista Hollande sobre Sarkozy.
 
A rendição dos bancos ao novo ciclo de queda dos juros  marca um divisor na forma de se fazer política econômica no país. Quebrou-se um lacre político. Rompeu-se uma parede hegemônica ardilosamente defendida durante décadas com argumentos supostamente técnicos.  Em uma semana, o que era uma impossibilidade esférica, condicionada ao atendimento de uma soberba lista de 20 'contrapartidas'  comunicadas a Brasília  com rara deselegância pelo presidente do sindicato dos bancos (Febraban) , Murilo Portugal, reverteu-se em adesão maciça ao corte das taxas.  Como se deu a transumação da inflexibilidade em cordura? O governo e os partidos progressistas não devem temer a resposta que os fatos comunicam: o Estado brasileiro, apesar de tudo, ainda tem poder político e instrumental para reordenar a economia. A maior lição desse episódio é que ele vale também para outras esferas e desafios. (LEIA MAIS AQUI)

 

As eleições e a política redistributiva de Sarkozy

Nicolas Sarkozy seguiu uma política redistributiva de renda. Redistributiva? Sim, para os mais ricos. De 2007 a 2011, redistribuiu, sob a forma de cortes na arrecadação de impostos, 84 bilhões de euros. Destes, 50 bilhões foram para as empresas. 34 bi, para os proprietários de imóveis. Porém desses últimos 34 bi, 19 foram destinados a poupar impostos para os 10% de propriedades mais ricas; 15 bi destinaram-se aos 90 % de propriedades médias e menos valiosas. O artigo é de Flávio Aguiar, direto de Berlim.

Berlim - Tornou-se lugar comum atribuir a possibilidade de derrota de Nicolas Sarkozy nas eleições francesas – cujo primeiro turno se realiza neste domingo – ao cansaço do eleitorado com o estilo “pop star” do seu desempenho, inclusive na presente campanha. Nesta, Sarkozy lembra o título de uma comédia do dramaturgo gaúcho Jozè Joaqim de Qampos Leão Qorpo-Santo (sic), precursor oitocentista do Teatro do Absurdo: Hoje sou um; e amanhã, outro.

Derrotado nas prévias de intenções de voto, Sarkozy pula que nem boneco de mola, ontem criticando os bancos, hoje prometendo salválos da bancarrota, investindo à direita contra os imigrantes ante-ontem, depois de antes proclamar-se ‘o presidente de todos os franceses’, e assim por diante. Além disso o irrequieto presidente francês arroga-se um ar de Luís XV, apregoando algo parecido com a famosa frase atribuída ao monarca (segundo outras fontes à sua amante n* 1, Madame de Pompadour): après moi, le Déluge, depois de mim, o Dilúvio, referindo-se à possibilidade de seu rival François Hollande se eleger.

Esse cansaço existe de fato. Indício dele é até mesmo o conservador ex-presidente Jacques Chirac ter preferido apoiar Hollande a Sarzozy. Ele está presente também nas pesquisas que apontam estarem os eleitores do candidato de centro-direita François Bayrou divididos entre votar em Hollande ou em Sarkozy no segundo turno, com leve vantagem para o primeiro. Mesmo eleitores de Marine Le Pen (14% deles) anunciam preferir Hollande no turno decisivo.

Mas esse cansaço não explica tudo. Assombra a “mansão eleitoral” de Sarkozy o mesmo fantasma que derrubou governos à esquerda e à direita em outros países, mais à esquerda do que à direita: a decepção com as promessas não cumpridas, ou revertidas depois da eleição.

Exemplo: eleito, Sarkozy proclamou que a partir de seu governo os franceses “trabalhariam menos e ganhariam mais”. Sucedeu o contrário. Sarkozy aumentou o limite mínimo de idade para aposentadoria, o que penaliza os mais pobres, que começam a trabalhar mais cedo e têm condições de trabalho e vida mais insalubres. Sua política de contornar ou neutralizar o poder de barganha dos sindicatos contribuiu para abaixar os salários. Para completar esse quadro, o desemprego, que em 2007, quando assumiu o governo, era 7,9% e hoje é 10%: ou seja, quem trabalha menos, na verdade, são os desempregados.

Mas tem mais. Estudo conjunto do “
Think-Tank Terra Nova” e do jornal Libération mostra que Nicolas Sarkozy seguiu uma política redistributiva de renda. Redistributiva? Sim, para os mais ricos.

De 2007 a 2011 Sarkozy (e seu primeiro ministro François Fillon, é bom não esquecer) redistribuiu, sob a forma de cortes na arrecadação de impostos, 84 bilhões de euros. Destes, 50 bilhões foram para as empresas. 34 bi, para os proprietários de imóveis. Porém desses últimos 34 bi, 19 foram destinados a poupar impostos para os 10% de propriedades mais ricas; 15 bi destinaram-se aos 90 % de propriedades médias e menos valiosas.

Como Sarkozy congelou em 50% a alíquota máxima de Imposto de Renda, sua amiga e apoiadora Liliane Bettencourt, da empresa de cosméticos L’Oréal, recebeu uma devolução retroativa avaliada em 30 milhões de euros. Além disso, a dona da L’Oréal envolveu-se numa série de escândalos denunciados na mídia francesa, com membros do governo de Sarkozy. Agora, Hollande promete elevar aquela alíquota para 75%. De passagem, observe-se que esse jogo de alíquotas, em qualquer dos casos, deve causar profundo mal-estar em nossos permanentes críticos do chamado “custo Brasil”, e que apregoam ter nosso país os impostos mais altos do mundo, etc.

No mesmo estudo do Terra Nova/Libé, demonstra-se que a relação dívida pública/PIB da França, hoje em 85%, seria menor do que a alemã (83,5%), caso não houvesse aquele corte na arrecadação de impostos.

Enfim, um dos problemas para a reeleição de Sarkozy é a de que ele, traduzindo os adjetivos para o nosso universo austral, não conseguiu livrar-se da pecha de ser apenas “a mãe dos ricos”.

Até porque “pai dos pobres”, a gente sabe, só houve um.


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