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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Os juros no Brasil e os “economistas engajados”

por Luiz Carlos Azenha
Recentemente o Eduardo Guimarães refutou artigo de um ex-economista-chefe da Febraban, publicado na Folha de S. Paulo, sobre a tentativa que ele, ex-assessor da poderosa Federação dos Bancos, sugeriu ser fadada ao fracasso: a dos bancos oficiais brasileiros, de reduzirem o spread (taxa de risco) nos empréstimos como forma de forçar os bancos privados a fazerem o mesmo.
Felizmente, neste caso, o articulista foi identificado, embora sem muita clareza: Roberto Luis Troster, 61, doutor em economia pela USP, é consultor. Foi economista-chefe da Febraban e professor da PUC-SP, Mackenzie e USP.
Consultor de quem?
Na mesma linha, o blog Amigos do Presidente Lula denunciou que os jornalões estariam colocando em dúvida a eficácia da estratégia adotada pelos bancos estatais recorrendo a “especialistas” não identificados.
Um trecho do post, que se refere a texto do jornal O Globo:
Segundo interlocutores ["interlocutores" são os bancos privados que plantaram a matéria no jornalão], os bancos privados avaliam que o spread (diferença entre o custo da captação e o valor cobrado do tomador final) somente cairá com a adoção de medidas de longo prazo, que melhorem as condições legais e tributárias e não apenas corte de juros “na canetada”. Eles acreditam ainda que, mesmo com os cortes significativos nas taxas cobradas pelos bancos públicos, não vão perder clientes, porque há uma resistência natural em trocar de banco.
Pois é bom saber que, fora do Brasil, esse estado de coisas está mudando.
Na edição de março de Le Monde Diplomatique, Renaud Lambert relata que desde janeiro deste ano a Associação Norte-Americana de Economia, AEA, faz uma exigência a seus associados:
Desde o começo deste ano, os artigos publicados nas revistas científicas por membros da associação devem revelar os eventuais conflitos implicando seus autores. Os economistas deverão assim identificar e mencionar as ‘partes interessadas’que lhes tenham pago uma remuneração financeira importante, quer dizer, um valor total ou superior a U$ 10 mil, ao longo dos três últimos anos (comunicado do dia 5 de janeiro de 2012). A medida se aplicará também às somas recebidas pelos “próximos”.
E mais:
Depois do sucesso do documentário Inside Job, de Charles Ferguson, a irritação se tornou palpável. Os emolumentos de alguns conselheiros próximos ao presidente Barack Obama implicados na liberalização do setor bancário tinham levantado questionamentos na opinião pública. Como Lawrence Summers, diretor do Conselho Econômico Nacional (National Economic Council), remunerado em U$ 5,2 milhões, entre 2008 e 2009, pelo fundo especulativo D.E. Shaw e em até U$ 135 mil por suas conferências, mais frequentemente organizadas por empresas financeiras — sem contar seus freelances (generosos) no Financial Times. A cólera cresceu também dentro da profissão. Durante 2011, explica-nos George DeMartino, da Universidade de Denver, “uma série de estudos científicos demonstrou que os conflitos de interesse constituem mais a regra que a exceção”.
A partir disso, um abaixo-assinado de mais de trezentos economistas provocou a decisão da AEA.
No artigo, Economistas engajados, Lambert demonstra que o que vale nos Estados Unidos não vale na França, onde “especialistas” pontificam na mídia sem identificar possíveis conflitos de interesse. Se serve de consolo a ele, podemos dizer que o mesmo acontece no Brasil.
Leia também:
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