No verdadeiro julgamento da história, pouco importa o que cada personagem pensa de si; o fator relevante, de fato, é a posição que ocupa no conflito de interesses que desloca a fronteira do possível na vida de um povo e de uma época. Objetivamente, no Brasil, nos últimos dez anos, essa fronteira se mexeu --não sem contradições, tampouco à margem de tropeços e fortes resistências-- em direção a um horizonte em que a questão social, os grandes interesses coletivos que essa expressão condensa, passou a ser um divisor relevante na equação política nacional. Isso aconteceu à revelia de alguns dos próprios protagonistas que em dado momento estiveram à frente do processo.Vide a condução da política econômica de 2003 a março de 2006. Não importa. O saldo da década --por contraditório e dolorido que seja-- deslocou a relação de forças: o Brasil é hoje o país menos desigual de sua história, ainda que conserve um legado de barbárie em seu metabolismo. Não se trata de uma contabilidade exclamativa; são estatísticas, não apenas as do IBGE; as urnas referendaram esse saldo inconcluso; primeiro, como uma aposta, em 2002; depois como uma repactuação assertiva, em 2006 e 2010. O julgamento que se estende de hoje até a 1ª quinzena de setembro no STF pretende, a rigor, sustentar que esse percurso cuja capilaridade contagiou o relevo, o discernimento, a auto-estima e o imaginário da sociedade, resumiu-se a uma fraude. Um 'mensalão' de R$ 30 mil per capita, pago a deputados da base aliada, teria sido a alavanca dos enfrentamentos que moveram a história a partir de 2003. O fato de que pretendam reduzir a potência desse período a um truque judicialmente reversível, ademais de evidenciar um certo desespero, diz quase tudo sobre a disposição passada, e os planos futuros, dos interesses que, nos próximos 45 dias, tentarão reduzir o saldo de uma década a uma miragem. (LEIA MAIS AQUI)
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