A julgar pelos editoriais dos grandes jornais, sim. Nesta quarta-feira, Folha, Globo, Estadão e Gazeta do Povo publicaram editoriais falando em "estragos", "desmonte", "ingerência política" e "agonia" na maior empresa do País. Pareceu até jogo combinado
247 - Será que os donos dos grandes jornais brasileiros ou seus editorialistas falam entre si antes de definir a agenda do dia seguinte? Às vezes, o jogo parece combinado e todos os jornalões saíram com editoriais muito parecidos sobre a Petrobras, que divulgou lucro de R$ 21 bilhões neste ano. Leia abaixo:
FOLHA DE SP - 06/02
Estatal aumenta sua dívida líquida em mais de 40%, premida pelos investimentos bilionários do pré-sal e pela sujeição a ditames do Planalto
O mau resultado no balanço da Petrobras estava previsto, mas nem por isso causa menos apreensão.
O lucro líquido caiu para R$ 21,2 bilhões, valor 36% menor que o de 2011. A produção de petróleo e derivados decepcionou, com média de 1,974 milhão de barris por dia em 2012 -uma queda de 2,35% em relação ao ano anterior.
A despeito do lucro contabilizado, o fluxo de caixa -uma vez deduzidos os investimentos- tem sido negativo. Apenas no último trimestre de 2012 o movimento da empresa consumiu R$ 11,7 bilhões.
A sequência negativa de resultados vem de longe. Decorre, em boa medida, da gestão anterior da empresa, politizada e refratária a critérios de eficiência.
A troca de comando no governo da presidente Dilma Rousseff, com a saída de José Sergio Gabrielli e a ascensão de Maria das Graças Foster, foi bem recebida por investidores, que veem disposição na nova presidente para consertar estragos.
A tarefa será árdua. Estão programadas várias paralisações de plataforma para manutenção no primeiro semestre, por exemplo, o que reduzirá produção e receitas.
A causa principal da lucratividade menor foi, paradoxalmente, o aumento da demanda por combustíveis. Vendas internas de gasolina e diesel cresceram 17% e 6%, respectivamente, no ano. Como a produção caiu, a Petrobras foi obrigada a importar ambos a preços maiores que os praticados no país.
O governo não autoriza reajuste completo dos preços, como forma de contrabalançar outras pressões inflacionárias. Com isso, dificulta à Petrobras cumprir seu ambicioso programa de investimentos -só neste ano estavam planejados desembolsos de R$ 97,7 bilhões.
Para manter o programa, a empresa se endivida. A deterioração de suas finanças é evidente. A dívida líquida (já excluídos os valores em caixa) chegou ao fim de 2012 em R$ 147,8 bilhões, perante R$ 103 bilhões no ano anterior.
A fim de conter a sangria de recursos, a Petrobras decidiu cortar pela metade os dividendos distribuídos aos detentores de ações ordinárias. Elas caíram mais de 8%, ontem, no pregão da Bolsa.
A despeito das expectativas quanto à capacidade da direção de arrumar a casa, o fato é que a situação da companhia não parece estar sob controle. Longe disso.
O governo errou ao definir um modelo de exploração do pré-sal que sobrecarrega a petroleira, por obrigá-la a participar de todos os campos. Continua em erro ao represar preços de combustíveis.
A decantada afinidade entre a presidente da República e a presidente da Petrobras, como já se apontou aqui, pode fazer mais mal à empresa do que beneficiar o país.
O GLOBO - 06/02
Mais transparente, a administração de Maria das Graças Forster está sujeita acríticas que podem ajudar a companhia a melhorar seus resultados
Como maior companhia aberta brasileira, os balanços da Petrobras são sempre aguardados com grande atenção pelo mundo financeiro, especialmente o que está diretamente voltado para o movimento das bolsas de valores. Os números divulgados oficialmente acabaram confirmando que 2012 não foi bom para a empresa — ainda que os resultados do quarto trimestre tenham sido um pouco mais favoráveis do que os projetados pelos analistas do setor —, devido à série de problemas que a Petrobras herdou no ano passado, difíceis de serem superados.
As ações caíram ainda mais — desde 2010, antes desta nova queda, já haviam retrocedido 36%. Justifica-se, porque o lucro de R$ 21,2 bilhões foi 36% inferior ao de 2011, e o pior resultado nos últimos oito anos.
A Petrobras investe o equivalente ao dobro de todas as inversões feitas pelo governo federal. A atividade da companhia é vital para a economia brasileira, ao responder por 95% da produção nacional de petróleo e deter o controle das onze unidades de refino que fornecem grande parte dos combustíveis e demais derivados consumidos no país. O grupo Petrobras também opera a rede de dutos e terminais portuários pela qual trafegam produtos distribuídos pelo Brasil afora.
Em face dessa presença marcante na economia brasileira, a companhia nunca fez parte dos planos de privatização executados nas últimas décadas. Porém, não se trata de uma companhia puramente estatal. Parcela considerável de suas ações está em poder de investidores, institucionais e individuais, no Brasil e no exterior. Se por um lado o controle em poder do Tesouro se justificaria pelas funções consideradas estratégicas e missões específicas dentro de políticas de Estado, por outro, a Petrobras está sujeita a obrigações e deveres com o mercado. Não fosse assim, seu capital deveria ser fechado, para que pudesse prestar contas somente à União.
Esse caráter duplo da Petrobras tem sido desrespeitado nos últimos anos. No governo Lula, o uso político-partidário da companhia chegou ao ponto de comprometer a administração, com reflexo negativo visível em quase todas as suas atividades operacionais. No governo Dilma, há uma nova orientação, para que a companhia recupere eficiência — o que possibilitou essa melhora nos resultados do quarto trimestre.
No entanto, a ingerência indevida sobre os rumos da Petrobras não foi inteiramente anulada, pois a empresa está sujeita a uma política de preços para os principais combustíveis que distorce o mercado e lhe causa consideráveis perdas financeiras. Maria das Graças Forster, ex-diretora da área de gás e energia, assumiu a presidência com a missão de recuperar a estatal, e sua atuação de fato tem sido mais transparente. A exposição a críticas, em decorrência dessa maior transparência, fará bem à empresa e a ajudará a melhorar gradualmente seus resultados.
O ESTADO DE S. PAULO - 06/02
Com lucro de R$ 21,18 bilhões em 2012, 36% menor que o do ano anterior e o mais baixo em oito anos, a Petrobrás paga um preço devastador pela sujeição aos interesses político partidários do Palácio do Planalto.
Investimentos mal planejados, orientação ideológica, loteamento de cargos e controle de preços de combustíveis comprometeram a eficiência e a rentabilidade da empresa e a desviaram de seus objetivos principais. Os danos impostos à companhia são parte da herança desastrosa deixada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua sucessora.
Desde o ano passado a nova presidente da estatal, Maria das Graças Foster, vem tentando corrigir seu rumo. Mas a interferência nos preços permanece, os reajustes são insuficientes e a geração de caixa continua prejudicada. Mais dificuldades surgirão neste ano, avisaram ao mercado, nessa terça-feira, dois dos principais dirigentes da Petrobrás. Pelo menos esse dado positivo acompanhou a divulgação das más notícias: a presidente da empresa e o diretor financeiro, Almir Barbassa, falaram sobre a situação e as perspectivas da companhia com uma franqueza incomum durante a maior parte dos últimos dez anos.
Os problemas vão muito além de uma piora temporária das condições financeiras. A produção de petróleo e gás no Brasil, no ano passado, equivalente a 2,35 milhões de barris diários, foi 0,9% menor que a de 2011.
Com a parcela produzida no exterior a média diária alcançou 2,59 milhões de barris equivalentes, volume 0,8% inferior ao do ano anterior. A meta de 2,02 milhões de barris diários, fixada para 2012, continuará valendo para este ano, com possibilidade de desvio de 2% para mais ou para menos. Se o desvio ocorrer, advertiu a presidente, será provavelmente para baixo. Não há possibilidade física, deixou claro a presidente, de um aumento de produção.
As previsões para o ano incluem também, segundo Maria das Graças Foster, mais R$ 6 bilhões de baixas correspondentes a poços secos.
Além disso, nenhum novo projeto deverá ser iniciado em 2013. A empresa continuará empenhada em realizar os investimentos já programados, mas o total aplicado, de R$ 97,7 bilhões, deverá ser R$ 5 bilhões maior que o anteriormente previsto.
A empresa continua analisando a qualidade econômica dos projetos enquadrados em 2012 como "em avaliação". Ao assumir o posto, a nova presidente anunciou no ano passado a intenção de rever os planos e prioridades. Não se anunciou, na ocasião, o abandono de nenhum projeto, mas ficou clara a disposição de submeter o programa da empresa a uma revisão crítica.
Sem perspectiva de maior produção a curto prazo, a empresa terá de continuar importando grandes volumes para atender à demanda crescente de combustíveis. Isso será inevitável mesmo com o aumento da parcela de álcool misturada com a gasolina. A necessidade de maior importação foi uma das causas da redução do lucro no ano passado. O controle de preços foi um complicador a mais. A presidente da empresa reafirmou a intenção de continuar buscando o realinhamento de preços.
Mas isso dependerá de como o governo pretenda enfrentar a inflação. Se insistir na manipulação de pre- ços, os problemas da Petrobrás poderão agravar-se.
Com dificuldades de geração de recursos, a companhia foi forçada a aumentar seu endividamento. Com problemas de caixa, a diretoria decidiu pagar dividendos menores aos detentores de ações ordinárias do que aos demais acionistas, explicou Barbassa. Disso resultará uma economia de R$ 3 bilhões para investimentos, acrescentou.
A Petrobrás necessitará de novo aumento de capital, segundo alguns analistas. A presidente da empresa negou essa possibilidade neste ano.
Seja como for, o passo mais importante deve ser a consolidação de um novo estilo administrativo, moldado segundo objetivos típicos de uma empresa de energia. A Petrobrás será beneficiada, também, se as suas encomendas de equipamentos e serviços forem decididas com base em critérios empresariais. Não é sua função assumir os custos de uma política industrial. Ter sucesso como uma gigante do petróleo já é um desafio mais que suficiente.
GAZETA DO POVO - PR - 06/01
Resultado fraco da estatal em 2012 acende o sinal de alerta para a maneira como o governo vem administrando a empresa
Quando o governo Fernando Henrique Cardoso instituiu o Proer – programa de saneamento do sistema financeiro – e iniciou a privatização dos bancos estatais estaduais e alguns federais, o PT e a CUT fizeram uma dura campanha contrária. O próprio Lula dizia que estavam entregando o patrimônio público e diminuindo a capacidade do governo federal e dos governos estaduais de fazerem políticas públicas a favor da população. Os defensores da privatização diziam exatamente o contrário: que o mau uso dos bancos estatais e a destruição financeira de todos eles mostravam que era um perigo ter bancos nas mãos de políticos e governantes temporários, pois eles sugavam recursos do caixa da União e dos estados e eram usados mais para favorecimentos e desvios que para fazer o bem à população.
Os políticos e os governantes, em todos os tempos, nunca ousaram incluir em qualquer proposta de privatização o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobras. Essas instituições tornaram-se intocáveis, a ponto de, nas duas eleições de Lula, seus adversários terem vindo a público para assumir o compromisso explícito de não privatizar qualquer dessas três empresas. Uma exceção de peso foi Roberto Campos, economista, ministro, senador e deputado federal, que passou a vida afirmando que mais cedo ou mais tarde a sociedade iria se dar conta de que até mesmo essas empresas seriam mal usadas pelos governantes, e seria bom privatizá-las.
Até há poucos anos, poder-se-ia afirmar que os governantes não trataram mal o BB, Caixa e Petrobras, e que essas instituições justificariam sua existência como empresas estatais. Porém, nos últimos tempos, algo está indo muito mal na relação do governo com a Petrobras, a ponto de os investidores e os analistas internacionais começarem a temer pelo futuro dessa empresa. Além disso, vale lembrar que o governo induziu milhões de brasileiros a investir em ações da Petrobras, inclusive com o dinheiro do FGTS, sobretudo após o lançamento de novas ações em nome da descoberta das reservas de petróleo na camada do pré-sal.
Tudo parecia ir bem para a Petrobras até há uns quatro ou cinco anos. Ela era uma estrela da Bolsa, seus lucros eram bastante altos e os planos de investimentos eram ousados. Mas, ao nomear executivos amadores para dirigir a empresa, ampliar a interferência da Presidência da República nas decisões estratégicas e deixar os derivados de petróleo sem reajuste por quatro anos, o governo federal começou a matar a Petrobras. Os investimentos foram reduzidos, os indicadores financeiros pioraram, os lucros começaram a minguar, a produção não cresceu quanto se esperava, os investidores nacionais e estrangeiros começaram a desconfiar do futuro da companhia. Enfim, a Petrobras tornou-se uma empresa em decadência. O resultado de 2012, anunciado na segunda-feira – lucro 36% menor que o de 2011 –, reforça essa impressão.
A pior notícia possível era a de que a empresa pudesse estar com problemas de caixa. Pois, no fim de janeiro, a Petrobras começou a atrasar pagamentos a seus fornecedores. Foi a gota d’água para a confirmação de que o mercado começa a desacreditar no futuro da empresa, cujo reflexo é a queda vertiginosa dos preços de suas ações. Há quem diga que, se o governo federal seguir nessa política de interferência excessiva na gestão e no uso político dos preços dos combustíveis, a companhia pode entrar em uma séria agonia financeira.
Esse é um assunto de responsabilidade direta da presidente Dilma Rousseff; é de conhecimento público ser ela quem pessoalmente toma as decisões sobre a Petrobras e sua política de preços. O argumento do governo é de que faz isso para ajudar no combate à inflação. Tal prática equivale aos falidos planos de controle da inflação pelo congelamento dos preços, que nunca funcionaram pela simples razão de que as elevações dos preços representam efeitos de problemas na economia. Em vez de combater as causas, os planos de congelamento agem sobre os efeitos e, por isso, nunca funcionaram em lugar algum do mundo.
É lamentável que a presidente Dilma esteja jogando no lixo o prestígio conquistado pela Petrobras a duras penas. E pior: é lamentável que justamente um governo do PT, partido tão afeito à estatização, esteja dando razão àqueles que pregam a privatização até mesmo da Petrobras e do Banco do Brasil sob o argumento de que, nas mãos do governo, mais cedo ou mais tarde essas empresas serão dilapidadas e deficitárias.
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