Considero-me uma das pessoas com mais autoridade para falar e escrever sobre o investimento de dinheiro público em mídias tradicionais ou alternativas porque devo ser o único autor da blogosfera que registrou em cartório sua posição sobre o tema.
Em 2007, em assembleia juntamente com mais de cinco dezenas de cidadãos – que podem testemunhar o que digo –, fundei a ONG Movimento dos Sem Mídia e, então, fiz inscrever no estatuto da entidade a proibição expressa de ela receber um único centavo de dinheiro público.
Fui chamado de trouxa para cima – ou para baixo – por criar um tipo de entidade que se caracteriza por se financiar com verbas oficiais e me recusar a recebê-las, mas entendia – e continuo entendendo – que o tipo de trabalho ao qual me propus tem que ser assim.
Como blogueiro, há alguns anos ignorei uma verba que a Secom disponibilizava para blogs. E teria todas as condições para receber meu quinhão, caso o critério de distribuição fosse “técnico”.
Penso, porém, que se a grande mídia tradicional recebe tanto dinheiro público a mídia alternativa tem todo direito de pleiteá-lo. Mas este blog, volto a repetir, não se interessa por esse tipo de financiamento pelas mesmas razões que seu signatário não se interessou quando criou uma ONG.
Por outro lado, penso que se um veículo qualquer – alternativo ou tradicional – for depender de dinheiro público para subsistir, está malparado. Sobretudo se tratar de política.
Explico: suponhamos que um veículo da mídia alternativa, por exemplo, comece a se sustentar por dinheiro vindo do governo do PT e, ano que vem, por alguma dessas infelicidades que a vida nos reserva um político tucano vencesse a eleição presidencial. Então teria acabado a vida de tal veículo, pois certamente o novo presidente lhe puxaria o tapete.
Já quanto à mídia tradicional, o ideal seria que as concessões públicas de rádio e televisão tivessem obrigação de veicular de graça tudo que o governo precisa divulgar, como parte da obrigação inerente à sua natureza de propriedade de todos explorada pelo setor privado.
Já a mídia impressa ou a internet, essas, sim, poderiam ser remuneradas se o governo entendesse que tais meios de comunicação fossem úteis a esta ou àquela campanha publicitária.
Nesse ponto, haveria que existir uma mescla de critérios “técnicos” (audiência) e estratégicos para a comunicação do país. Além da audiência, deveria ser estimulada a criação de novos veículos.
Só o que não entendo é o governo anunciar em veículos impressos como uma Folha de São Paulo ou o Estadão ou a Veja. Tal prática tem cada vez menos sentido. Quem compra jornal certamente tem acesso à internet e, assim, anunciar na rede seria muito mais barato e eficiente.
Eis por que o Brasil precisa de um novo marco regulatório para as comunicações. Todas essas questões deveriam ser regulamentadas em lei.
O que revolta é que a direita midiática vive acusando blogueiros simpáticos ao governo federal de serem financiados por dinheiro público, mas nunca conseguiu dizer quem são além de dois ou três que também atuam na televisão e, por isso, têm uma quantidade enorme de leitores.
A realidade é que 99,99% da blogosfera dita progressista não recebe um centavo do governo federal. Muitos blogueiros, porém, pensam diferente de mim e querem, sim, a parte que lhes cabe nesse latifúndio e tal pretensão é absolutamente legítima.
Este que escreve, friso de novo, entende que a natureza do trabalho que faz nesta página é incompatível com o recebimento de verbas públicas, pois elas não devem ser aplicadas com fins políticos e, como eu já disse mil vezes, tenho lado.
Mas se alguma empresa privada ou pessoa física quiser anunciar aqui e pagar por isso, para mim está ótimo. Ando precisado, pois fazer um blog bem feito e com bom público custa uma bela grana. Só não aceito propaganda da Veja e assemelhados.
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