*Urnas de abril na América Latina: começa nesta 3ª feira a campanha eleitoral que definirá a Venezuela pós-Chávez; Maduro (55,3%) lidera as pesquisas para o pleito do dia 14 de abril (leia a cobertura de Carta Maior, direto de Caracas)
**No Paraguai, golpe contra Lugo evidenciou flancos da esquerda; candidato da direita é o favorito no pleito do próximo dia 21 de abril ( Lorena Soler, especial para Carta Maior, de Assunção)
São graúdos, e contabilizáveis, os interesses que arrendam espaços e gargantas para vocalizar a luta diuturna pela alta dos juros no país. O pleito está marmorizado em cada centímetro da menos imparcial de todas as seções do jornalismo: o noticiário de economia. Daí se irradia para afinar o jogral de vulgarizadores e agregados de orelhada e holerite. Os sabichões que advogam um ‘novo ciclo de alta' da Selic sabem do que estão falando. E não estão falando apenas em adicionar mais 0,25% a ela, na reunião do Copom, do próximo dia 17. O braço de ferro é para reverter um reordenamento estratégico. A pátria rentista não admite que a prioridade do sistema econômico deixe de ser a que sempre foi,desde os anos 90, até o colapso de 2008: a reprodução do capital fictício a taxas de retorno as mais elevadas de toda a economia, sem condicionalidade alguma.Liquidez imediata e risco zero. Nessa espécie de platô marciano, comparado ao relevo habitado pelos que lutam com as incertezas da sobrevivência e da produção, vive uma plutocracia rentista que acha normal pagar, como espeta o insuspeito jornal Valor, R$ 115 reais por um prato de comida. Ou R$ 15 por um prosaico quindim, nos restaurantes dos Jardins, em São Paulo. Os comedores de quindins de ouro dispunham,no final do ano passado, de nada menos que R$ 527 bilhões sob os cuidados de ‘private bankings'. O valor é maior do que todo o investimento previsto pela Petrobrás em seu plano quadrienal para triplicar a produção do pré-sal até 2017 ,quando deve atingir um milhão de barris/dia. (LEIA MAIS AQUI)
ECONOMISTA DO ITAÚ VOLTA A PEDIR JUROS E RECESSÃO
Ilan Goldfajin, que foi diretor do Banco Central no segundo mandato de FHC, quando a inflação era bem maior do que agora, diz que o método do governo Dilma para conduzir a questão inflacionária está equivocado; em vez de conceder incentivos fiscais para estimular o consumo e expandir a oferta, o melhor seria aumentar os juros e frear a a atividade econômica; enquanto esteve no BC, Goldfajn não conseguiu cumprir a meta, mesmo com taxas altíssimas
247 - O lobby pela elevação dos juros é cada vez mais forte. E já nem se esconde mais. Parte, precisamente, do maior banco privado brasileiro, que é o Itaú Unibanco. Nesta terça-feira, o economista-chefe da instituição, Ilan Goldfajn, que é também sócio do Itaú Unibanco, critica a forma como o governo Dilma decidiu enfrentar a inflação. Segundo Goldfajn, seria um erro apostar nas desonerações tributárias, que estimulariam demais o consumo. O correto, na sua visão, seria elevar os juros e frear a economia. Ou seja: é o modelo tradicional de enfrentar o problema pela via da recessão. Em 2002, quando Goldjain foi diretor do BC, a inflação bateu em 12,53%, a despeito de juros altíssimos. Leia abaixo seu artigo:
Não há desinflação grátis
Ilan Goldfajn *
Está ficando claro que o governo quer combater a inflação via desonerações tributárias, pelo menos parcialmente. Para alguns, é a solução ideal. A redução dos impostos leva a uma queda de preços que alivia a inflação, economizando altas exageradas de juros (e seus efeitos colaterais sobre a atividade, o emprego e o salário). Ao mesmo tempo se ataca a elevadíssima carga tributária, um problema estrutural no Brasil. Parece um almoço grátis, contrariando a máxima de que isso não existe em economia. Infelizmente, não é o caso. Vejamos por quê.
Para começar, as desonerações não são de graça nas contas públicas. Sem uma compensação via corte de gastos do governo ou aumento de outros impostos, as desonerações reduzem o superávit primário, como tem sido o caso recentemente. O superávit primário, que já atingiu acima de 4% do produto interno bruto (PIB) no passado, caminha para ficar pouco abaixo de 2% este ano, e em direção a 1% no ano que vem. Mesmo com o benefício de juros menores, a relação dívida-PIB começaria a subir no médio prazo se mantida essa política. A estabilidade da relação dívida-PIB (ou melhor, a sua queda) é uma das razões por que a meta de superávit primário tem sido considerada um dos pilares da política macroeconômica.
A essencial redução da carga tributária, para ser sustentável e benéfica para a economia, deve ser calcada na queda dos gastos públicos. O espírito da Lei de Responsabilidade Fiscal requeria exatamente isto: que fossem especificadas compensações para quedas permanentes de receita. Na contramão, neste ano a Lei de Diretrizes Orçamentárias permite que as desonerações sejam abatidas da meta (além dos já tradicionais abatimentos do PAC), tornando a meta de superávit primário de 3,1%, na prática, uma meta de 1,9% do PIB.
A redução da carga tributária baseada em piora fiscal tende a ser temporária, já que em algum momento será necessário fazer um ajuste fiscal (isto é, corte de gastos ou volta da carga tributária) para restabelecer a estabilidade da dívida pública no médio prazo e a responsabilidade fiscal.
Mas ter custo fiscal não é necessariamente ruim, desde que os benefícios das desonerações sejam palpáveis. Infelizmente, no combate à inflação os benefícios percebidos das desonerações no curto prazo não se estendem no longo prazo.
A queda do superávit primário equivale a uma política expansionista, que gera aumento da demanda e pressiona a inflação. Afinal, corte de impostos é um clássico instrumento de incentivo ao consumo: quanto mais repassado ao consumidor, maior o incentivo.
Mas não falta consumo no Brasil. Seu crescimento tem sistematicamente excedido a expansão do PIB, principalmente nos últimos dois anos. O Banco Central tem reconhecido nos seus documentos oficiais que o crescimento do PIB tem sofrido de problemas de oferta. Ou seja, o crescimento tem sido limitado pela produção, não pela falta de incentivo ao consumo (ou demanda em geral). Um sinal dessa limitação é que crescentemente a demanda está sendo satisfeita com importações, o que tem piorado sistematicamente a conta corrente no balanço de pagamentos (já alcançando um déficit de quase de 3% do PIB, de um superávit de 2% no passado não tão distante).
Esse descompasso entre o crescimento da oferta e demanda é a raiz da parte mais resistente da inflação. Para além dos choques de commodities e dos aumentos de preços temporários de alimentos (devidos a efeitos climáticos) ocorridos, está ficando claro que a inflação se está estabelecendo num patamar mais alto. Um bom termômetro desse fenômeno é a inflação de serviços, que resiste à queda e se mantém em torno de 8% ao ano.
Ao estimular o consumo, a política de desonerações agrava o descompasso entre a oferta e a demanda e alimenta a inflação no médio prazo.
Poder-se-ia argumentar que reduzir impostos estimula a oferta (aumenta a produção), já que reduz os custos das empresas. De fato, se as desonerações tivessem focado nos custos das empresas, e não nos consumidores, o impacto seria diferente. Com custos menores as empresas produziriam mais. No entanto, as desonerações estão sendo direcionadas aos consumidores. Há uma pressão para o repasse integral dos benefícios aos preços, o que auxilia na inflação de curto prazo, mas não auxilia restabelecer a competitividade das empresas. Sem mexer na competitividade das empresas dificilmente haverá incentivo a maior produção e investimento. A política de desonerações incentiva o consumo, mas não o investimento, na contramão da necessidade atual da economia brasileira.
O peculiar dessa política é que os efeitos no curto prazo são contrários aos efeitos permanentes na inflação. Enquanto no curto prazo a queda dos impostos tende a reduzir os preços e a gerar um alívio temporário, o impacto permanente é de mais inflação. E quanto maior o repasse do benefício tributário pelas empresas aos preços, maior será o incentivo ao consumo. Ou seja, quanto mais bem-sucedida a política sobre a inflação no curto prazo, mais difícil será segurar a inflação no médio prazo.
Há um certo consenso no País sobre os objetivos para a economia. É necessário combater a inflação, reduzir a carga tributária e o custo das empresas e incentivar a produção e o investimento. Mas o diabo está no desenho das políticas. As desonerações tributárias, se repassadas aos preços, aliviam a inflação no curto prazo, mas a pioram no longo prazo, já que incentivam o consumo, e não o investimento. Desonerações focadas nas empresas, financiadas por cortes de gastos públicos, teriam efeito benéfico no longo prazo. Da mesma forma, inúmeras reformas que atacam a complexidade de produzir no País, com impacto direto na produtividade, poderiam incentivar o crescimento no Brasil e, simultaneamente, combater a inflação de forma permanente.
* Ilan Goldfajn é economista-chefe e sócio do Itaú Unibanco.
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