Em artigo exclusivo para o 247, o jornalista Breno Altman, diretor do Opera Mundi, faz a "autópsia" do partido Mobilização Democrática, fruto da fusão entre PPS e PMN e que tem como grande sonho a filiação de José Serra para oferecer um palanque forte ao governador pernambucano Eduardo Campos, em São Paulo; segundo ele, o PPS, nascido de um naco do Partido Comunista Brasileiro e capturado por Roberto Freire, "na pia batismal já abandonou qualquer compromisso com o socialismo" e se transformou em "linha auxiliar da oligarquia"; detalhe: Freire, Campos e Serra tiveram encontro na quarta em Brasília
Por Breno Altman, especial para o 247
Com a criação de uma nova sigla, Mobilização Democrática (MD), encerra-se a história do Partido Popular Socialista, capitaneado pelo deputado Roberto Freire. A fusão com o Partido da Mobilização Nacional, que deu cabo à agremiação, foi engendrada para viabilizar atração de parlamentares sem quebrar formalmente regras de fidelidade partidária, arrastando tempo de televisão e nacos do fundo público para financiamento dos partidos.
A legenda recém-batizada tem objetivo encomendado, segundo declarações do próprio Freire: servir de trampolim para a candidatura presidencial de Eduardo Campos, governador de Pernambuco, entre correntes tradicionalmente vinculadas à coalizão PSDB-DEM. O plano é conquistar deputados e senadores deste setor, além de pescar nas turvas águas do PSD de Kassab. De quebra, o grande sonho de seus dirigentes é filiar o tucano José Serra, a mão que balança o berço do projeto.
Esta manobra eleitoral, tão ao gosto atual da mídia tradicional, diz muito a respeito de seus inventores. O PPS, nascido de um naco do Partido Comunista Brasileiro (PCB), na pia batismal já abandonou qualquer compromisso com o socialismo, apesar de carregar essa intenção no nome. Apoiou Lula em 2002, mas rapidamente se converteu em sócio do bloco de direita. Quando começou a namorar o PMN, houve quem sugerisse que a criatura parida chamasse Esquerda Democrática, ideia logo abandonada para não soar ridícula.
A turma de Roberto Freire, afinal, com poucas e honrosas exceções, fez história de capitulação em capitulação. Os mais antigos, em sua maioria, eram comunistas meio róseos durante a ditadura, entocados depois da derrota de 1964. Quando os trabalhadores voltaram a ser protagonistas da vida política, a partir dos anos 70, não vacilavam em afirmar que aquilo era aventura.
Essa mesma patota ficou contra a greve geral do dia 21 de julho de 1983, a primeira depois do golpe militar. Um de seus comandantes, o falecido Hércules Correa, ex-líder sindical, chegou a declarar que trabalharia “full-time” para impedir a empreitada, no que fracassou de forma retumbante, pois São Paulo parou.
Também ficaram contra a campanha das diretas-já. Quando milhões começaram a se concentrar em gigantescos comícios, aderiram andando de lado. Na primeira oportunidade, se juntaram à transição conservadora, carimbada pela eleição da chapa Tancredo-Sarney no colégio eleitoral forjado pelos militares.
Deram seu voto para Lula, no segundo turno de 1989. Mas aí veio o colapso do socialismo europeu e a desintegração da União Soviética, e foi o Deus-nos-acuda. Açodados por sobreviverem, mudaram de lado a galope. Abandonaram o socialismo, a esquerda e a compostura. Passaram os últimos dez anos de braços dados com os brucutus do neoliberalismo, em selvagem oposição aos governos de Lula e Dilma.
Sequiosos por serem considerados membros dignos do clube conservador, entregaram os dedos até em política internacional. O PPS não piscou, por exemplo, em dar seu apoio, nas duas últimas eleições presidenciais venezuelanas, ao fascistóide Henrique Capriles, além de apoiar golpes em Honduras e no Paraguai.
Reencarnado como MD, o partido de Roberto Freire presta-se a ser, mais uma vez, linha auxiliar da oligarquia. A autópsia do cadáver revela, assim, um dos capítulos mais vergonhosos da recente história brasileira.
Breno Altman é jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.
EXCLUSIVO: O
JANTAR SECRETO
DE CAMPOS E SERRA
Exclusivo: ex-governador José Serra se encontra em Brasília, mais uma vez, com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos; no jantar ao lado do presidente do PPS, Roberto Freire, foram tratados detalhes da entrada de Serra no MD, o novo partido que vai surgir da fusão entre o PPS e o PMN; além de Serra, que deverá carregar consigo dissidentes tucanos e lançar-se candidato a governador de São Paulo pela nova legenda, ajudarão a fundar a agremiação os senadores Cristovam Buarque (PDT), Randolfe Rodrigues (PSOL) e Pedro Taques (PDT)
247 _O ex-governador José Serra encontrou-se secretamente, por uma segunda vez, com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Foi na quarta-feira 16, em Brasília, quando ambos, ao lado do deputado Roberto Freire, presidente do PPS, acertaram detalhes da entrada do tucano no novo partido em formação, o MD - Mobilização Democrática. A legenda será resultado da fusão do PPS com o PMN, fortalecida por políticos saidos do PDT e até do PSOL.
Serra obteve garantias de que poderá ser candidato a governador de São Paulo, em 2014, pelo novo partido. A missão nacional é a de coligar-se, para efeito de palanques e acréscimo de tempo de televisão, à candidatura presidencial de Campos, presidente do PSB. Além de todo o PPS, do PMN completo e dos dissidentes do PSDB que Serra poderá aglutinar, o MD deverá ter suas primeiras fichas de fundação assinadas por senadores como Cristóvam Buarque (PDT-DF), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Taques (PDT-MT). Buarque, que não sabe se seu atual partido irá para a oposição à presidente Dilma Rousseff, entrará para o MD com a intenção de ser candidato a vice de Campos.
O governador Campos deixou o jantar mais do que satisfeito com os resultados das articulações que lhe foram apresentados pelo conterrâneo Roberto Freire. O ex-governador José Serra, que vem sendo defenestrado no PSDB, deverá igualmente ser um dos primeiros integrantes do novo partido. O baralho da sucessão presidencial acaba de ganhar uma nova carta e jogadores poderosos.
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