Cerca de 40 intelectuais e professores universitários reuniram-se em São Paulo nesta 2ª feira, à convite de Carta Maior. Havia um sentimento de urgência no ar. Em pauta, as possibilidades e os riscos da travessia história vivida pelo país; o papel da universidade e dos intelectuais na encruzilhada de uma Nação que ainda não dispõe de um arsenal de ferramentas democráticas à altura das reformas cobradas pelo seu desenvolvimento. Mas que terá que realiza-las; renunciar seria ceder ao retrocesso. Um consenso do encontro: o torniquete do monopólio da comunicação interdita o debate e veta as soluções requisitadas pelo passo seguinte da nossa história. Leia nesta página o relato de Maria Inês Nassif sobre esse primeiro encontro, que aspira alcançar a abrangência de uma proposta de agenda nacional dos intelectuais e da universidade para impulsionar as reformas que a Nação reclama. A reforma política, por certo. Mas não só. A universidade pode ser uma alavanca, entre outras, para romper a crosta conservadora que represa o futuro brasileiro. O encontro promovido por Carta Maior coincidiu com a divulgação do salto do IDH nos 5.565 municípios do país. De um padrão 'muito baixo', em 1991, evoluiu-se para outro,' alto', em 2010. O período abrange os governos Collor (91/92), Itamar (93/94), FHC (95/02) e Lula (03/10). Mas foi no ciclo do PT que se deu o ganho real de 60% do salário mínimo (extensivo à massa dos aposentados), bem como a chegada do Bolsa Família a 12 milhões de lares. Não por acaso, os maiores avanços no indicador do PNUD/ONU, que cruza renda, educação e longevidade, ocorreram no Norte e Nordeste, onde a incidência dessas políticas foi maior. Estamos falando de dinâmicas que fixaram um divisor na luta contra a desigualdade, mas que reclamam agora um novo impulso histórico para avançar. Quem o fará? Um novo impulso envolve novos protagonistas e novos desenhos de políticas públicas para o desenvolvimento. A Universidade terá que rediscutir sua contribuição nesse processo. Uma possibilidade pulsa na matriz do programa 'Mais Médicos', que guarda potencial para ser o 'Bolsa Familia' da saúde pública brasileira. A adesão maciça de 3.511 municípios demonstra a pertinência de se buscar um novo escopo de políticas públicas associadas às universidades, que terão que se reformar para exercer esse papel. É esse ambiente de urgências emancipadoras que deveria estar sendo discutido hoje. E não o casulo do interesse corporativo, que se insurge contra elas. A construção dessa agenda de engajamento e desassombro, é justamente o que anima Carta Maior a dar sequência ao encontro desta 2ª feira, estendendo-o a outras capitais do país.
Intelectuais e professores debatem rumos políticos do Brasil
O encontro foi promovido pela 'Carta Maior' em São Paulo. Ideia é que esse debate possa contribuir para o entendimento da realidade do país, num momento em que manifestações populares tomaram as ruas. Meta é criar uma agenda comum, que deve ser colocada como uma contribuição ao debate das forças de esquerda do país.
Maria Inês Nassif
São Paulo - Cerca de 40 intelectuais e professores participaram, na noite desta segunda-feira (29), de um primeiro ensaio para a definição de uma agenda comum, que deve ser colocada como uma contribuição ao debate das forças de esquerda do país. O encontro foi promovido pela Carta Maior e a ideia é que esse debate possa contribuir para o entendimento da realidade do país, num momento em que as manifestações que tomaram as ruas a partir do mês de junho provocam certa perplexidade, e também produza consensos para uma ação política transformadora e reformadora, contra a tentativa de setores conservadores de apropriação e capitalização de reivindicações populares.A grande preocupação, presente na maioria das falas, era com a necessidade de preservar os avanços proporcionados pelos dez anos de governo do PT, entre Lula e Dilma. Ainda assim, nenhum dos presentes deixou de citar, em maior ou menor grau, as amarras que fazem com que esses avanços sejam insuficientes ou, ainda, na avaliação de alguns, com que o governo seja incapaz de comprar certos enfrentamentos.
Nesse sentido, a maioria dos presentes falou da necessidade de se pressionar os poderes por reformas que sejam capazes de transformar as estruturas de poder, sendo as principais delas uma reforma político-eleitoral que acabe com o poder econômico nas eleições e a democratização da comunicação.
O grande balizador das falas, e tema razoavelmente controverso, foram as manifestações que tomaram as ruas. Tido por todos como fator que alterou a conjuntura de fato, a sensação generalizada era de que, se não houver uma resposta à altura pelo governo, a situação para o campo mais progressista da sociedade ficará pior ainda. Este seria um momento propício para mudanças, uma oportunidade para o governo avançar ainda mais. Para os participantes, resta saber se o governo fará a opção, diante dos fatos, de avançar em uma política progressista.
Ao final da reunião, depois de um debate sobre a capacidade de um grupo com essa configuração influenciar os rumos da política, definiu-se que será elaborado um documento com temas mais relevantes e com a ideia de que o que veio das ruas não pode ser apropriado pelo setor conservador. Nos próximos dias haverá mais uma reunião, que será aberta. Os professores interessados, de São Paulo e de outros Estados, podem entrar em contato com a Carta Maior, através do e-mail J29@cartamaior.com.br, para receber informações de como participar.
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