Relutei em divulgar a informação que darei a seguir por conta de um conflito ético. Seria correto divulgar fato da esfera íntima de envolvidos no caso da máfia dos fiscais em São Paulo, mas que é amplamente comentado por servidores da Prefeitura e que é conhecido pela mídia, pelo Ministério Público e pela própria administração do prefeito Fernando Haddad?
Devido a um dos envolvidos nesse fato estar fazendo acusação ao secretário de Governo da gestão Haddad, Antonio Donato, de que teria recebido doação eleitoral com recursos oriundos da roubalheira na gestão Gilberto Kassab, e devido à mídia ter dado crédito a essa acusação sem deixar claro que a pessoa que acusou não apresentou provas e tem interesse em envolver a gestão Haddad, torna-se justo divulgar a informação.
Em depoimento ao Ministério Público, a servidora da prefeitura Paula Sayuri Nagamati disse ter ouvido de um auditor preso que teria havido uma “colaboração” à campanha de Donato à Câmara Municipal de SP, em 2008, com “dinheiro fruto da fiscalização”. O caso foi revelado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.
Mas quem é Paula? Por que uma sua afirmação sem provas contra a gestão que investigou e desbaratou a quadrilha – a gestão Haddad – foi comprada pela mídia como se contivesse a menor evidência de ser verdadeira? Afinal, Paula não apresentou provas, não deu o nome de quem acusou Donato, enfim, apenas acusou.
E a acusação precária virou manchete de jornal. Como se não bastasse, foi tratada pelas tevês como se fosse fato. Matéria do Bom Dia Brasil (Globo) sobre a acusação de Paula tem o seguinte título: Suspeitos de fraude financiaram campanha de secretário de Haddad. Essa acusação peremptória se baseia em que Paula “ouviu falar”.
Quem é Paula? Como se sabe, ela foi chefe de gabinete do ex-secretário de Finanças Mauro Ricardo, ligado ao ex-prefeito José Serra (PSDB). Nesta semana, Haddad a exonerou do cargo que ocupava na supervisão técnica da Secretaria de Desenvolvimento e Assistência Social.
A demissão de Paula foi criticada pela imprensa paulista após o Ministério Público de SP – aquele do “eminente” procurador Rodrigo de Grandis – ter dito que ela não é investigada, que seria “apenas testemunha”. A Folha de São Paulo, por exemplo, deu manchete de primeira página para a demissão insinuando que ela foi afastada por Haddad porque denunciou seu secretário.
Conforme tem sido divulgado pela imprensa, o chefe do esquema de corrupção na prefeitura durante a gestão Kassab era Ronilson Bezerra Rodrigues, subsecretário de Finanças, o segundo do secretário Mauro Ricardo (homem de Serra) na Secretaria de Finanças municipal.
Então há uma trinca, aí, em um esquema que movimentou, ao que se sabe até agora, MEIO BILHÃO DE REAIS durante a gestão Gilberto Kassab. Essa trinca era composta pelo ex-secretário Mauro Ricardo, pelo ex-subsecretário Ronilson Bezerra Rodrigues e pela chefe de gabinete do ex-secretário, Paula Sayuri Nagamati. Os três trabalhavam juntinhos.
Antes de prosseguir, uma informação: a quantidade de dinheiro movimentado pelo esquema de corrupção na prefeitura de São Paulo, até agora, já se aproxima do que a prefeitura de São Paulo deixará de arrecadar por ter voltado atrás no aumento de vinte centavos no preço das passagens de ônibus, após as manifestações de junho.
Como é possível que a prefeitura de São Paulo não tivesse dado falta dos 500 milhões de reais que deixaram de entrar nos cofres públicos por conta do esquema de corrupção em tela?
Mas a relação de Paula com os envolvidos nesse esquema não para por aí. Segundo o Blog apurou com servidores da prefeitura, “todos sabem” de suposta relação amorosa dela com Ronilson, apresentado pela imprensa como “chefe” do esquema criminoso. E, para complicar, ambos – Paula e Ronilson – são casados – mas, evidentemente, não um com o outro.
Até se pode entender que a imprensa não divulgasse informação tão sensível por Paula, oficialmente, não estar sendo investigada. Porém, quando ela faz uma acusação gravíssima e sem provas contra uma das pessoas responsáveis pela investigação do grupo suspeito que ela integrou, sua relação com aquele que é tido como “chefe” da máfia dos fiscais se torna vital.
Se Paula faz uma acusação gravíssima ao secretário Donato por ter “ouvido falar” e esse “ouvir falar” vira manchete de jornal, chegando a ser tratado pela imprensa como suspeita contra o auxiliar do prefeito Fernando Haddad, não seria justo que o “ouvir falar” da relação dela com Ronilson também seja conhecido?
A gestão Haddad respondeu com meias palavras à acusação de Paula de que Donato teria tido sua eleição para vereador em 2008 financiada pelo esquema criminoso surgido na administração de seu adversário político (Kassab). Disse apenas que ela e Ronilson tinham uma relação “muito próxima”. Esse pseudo bom-mocismo, porém, não cabe na investigação de um crime.
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