Apesar de todas as melhoras que o Brasil experimentou ao longo de mais de uma década sendo governado pelo PT, há muita gente que se recusa a reconhecê-las. Tudo que ocorreu de bom no país nesse período é creditado ao governo federal do PSDB (1995 a 2002), enquanto que tudo de ruim que ocorreu a partir de 2003 é debitado só ao PT.
Este post tem como ponto central uma questão política, mas, antes de discorrer sobre ela, vale a pena dar um exemplo de como política e economia andam muito mais juntas do que se pensa. E, de quebra, explicar uma questão sobre a economia que muitos não entenderam.
Na edição de terça-feira (25/3) do Jornal da Globo, o comentarista de economia Carlos Alberto Sardemberg deu um bom exemplo dessa retórica maniqueísta e manipuladora da mídia. Ele falava sobre a ausência de turbulência no mercado financeiro após o rebaixamento da nota do Brasil pela agência americana de classificação de risco Standard & Poor’s.
Veja trecho da locução desse comentarista:
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“(…) Em economia, você leva tempo para construir as coisas e leva tempo, também, para estragar. Vejam, por exemplo: o Brasil entrou num novo regime monetário, num novo regime de estabilidade, a partir de 94 com a revolução do real e a sequência de reformas econômicas. Só em 2008, portanto 14 anos depois da introdução da nova moeda, é que o Brasil ganhou o grau de investimento (…)”
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Não houve turbulência no mercado financeiro com o rebaixamento da nota do Brasil por apenas uma das três principais agências de classificação de risco (Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch Rating) que elevaram a nota brasileira a partir de 2008 para a “zona de risco” conhecida como grau de investimento – que atesta que o país que detém tal nota não oferece risco de calote – porque esse rebaixamento está sendo visto mais como político do que como produto de maiores problemas na economia do país.
Os analistas de mercado entenderam o rebaixamento da nota brasileira como “um aviso” de setores do mercado financeiro internacional para a presidente Dilma Rousseff. Que aviso é esse? É para que o governo volte a produzir um superávit primário em torno de 3% do PIB.
Superávit primário, vale explicar, é o que o Brasil corta de seu orçamento com Saúde, Educação etc. e reserva para pagamento de suas dívidas internacionais.
Enfim, como o governo anunciou recentemente que em vez dos 3,1% do PIB exigidos pelo mercado irá cortar “apenas” 1,9%, a Standard & Poor’s decidiu dar esse “aviso” de que se o Brasil não se submeter aos ditames do mercado poderá perder o grau de investimento.
Mas para que serve o tal grau de investimento? Por mais que muitos digam que as agências de classificação de risco não servem para nada porque estão desacreditadas pelos muitos erros que já cometeram, o aval delas serve para baratear os juros que o Brasil ou que empresários brasileiros pagam em empréstimos contraídos no exterior.
Contudo, a exigência de que um país que tem quase 400 bilhões de dólares de reservas economize mais algumas dezenas de milhões de reais para atingir o percentual de superávit primário exigido pelos mercados, chega a ser ridícula.
Por isso não houve turbulência nos mercados, ainda que Sardemberg tenha dado uma explicação marota de que o rebaixamento brasileiro já estaria “precificado”, ou seja, que o Brasil já estaria pagando mais juros por economizar menos para pagar suas dívidas.
Tudo besteira. Na mesma semana do rebaixamento pela S&P o Brasil fez captações no exterior com os menores spreads (taxas de risco) de sua história.
Mas voltemos à questão política, porém ainda nos mantendo no comentário de Sardemberg no Jornal da Globo. Sua tese sobre o grau de investimento atingido em 2008 ser produto do plano real é uma piada. Ele simplesmente pulou a história brasileira entre 1998 e 2002, quando o Brasil literalmente quebrou.
Omitiu que a barbeiragem de Fernando Henrique Cardoso na economia provocou em 1999 uma fuga de capitais que praticamente reduziu pela metade o valor do real e deixou o país sem um centavo de reservas cambiais.
Sardemberg omitiu, por exemplo, que o risco-Brasil, hoje em torno de 200 pontos, com FHC chegou a 2436 pontos.
Ou seja, ao dizer que o grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco é produto do governo FHC, o comentarista da Globo contou uma das maiores piadas sobre economia da história recente do jornalismo econômico.
Menos insensato teria sido Sarndemberg dizer que as vitórias conseguidas pelo governo Lula na economia ao longo da década passada foram postas em risco por sua sucessora. Contudo, ainda assim estaria distorcendo os fatos.
Não houve nenhum grande problema na economia brasileira, o que houve foi uma decisão do governo Dilma de reduzir o percentual que o governo economiza para pagamento de seus compromissos internacionais. E ela tomou tal decisão simplesmente porque estamos com os bolsos cheios de dólares, mais do que suficientes para pagar toda a nossa dívida externa e ainda nos deixar com um belo saldo.
Mas o mercado, ah, o mercado… Sempre quer mais e mais e mais.
Seja como for, se a mídia, parte da sociedade civil e do espectro político se recusam a reconhecer os avanços do Brasil sob o PT, ao menos têm que reconhecer que nenhum outro partido é mais confiável no poder do que o PT.
Sim, é isso mesmo que você leu. Só o PT é confiável, quando ocupa o poder, porque só esse partido é fiscalizado pela mídia e, em caso de se envolver em algum escândalo, só esse partido é investigado de verdade pelo Legislativo, pelo Ministério Público e pelo Judiciário.
E, em caso de condenação judicial, só sendo petista ou aliado do PT para ser punido.
Neste momento mesmo podemos ver isso acontecendo. Em São Paulo, por exemplo, os governos do PSDB, entre 1998 e 2012, deixaram ocorrer uma imensa roubalheira no Metrô e na CPTM. As somas envolvidas nesse escândalo superam em muito as envolvidas no caso Petrobrás/Pasadena. Porém, o PSDB paulista consegue impedir qualquer CPI contra si.
No Judiciário, acabamos de ver o ex-presidente do PSDB e ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo saindo impune do escândalo conhecido como mensalão tucano, pois o mesmo STF que julgou petistas sem foro privilegiado no julgamento do mensalão do PT acaba de se declarar incompetente para julgar Azeredo, que renunciou para que seu processo voltasse à primeira instância.
Voltemos ao caso Petrobrás: compare, leitor, as acusações que a mídia tem feito à presidente Dilma Rousseff pelo negócio fechado com a refinaria norte-americana. Alguém viu a mídia acusar diretamente Geraldo Alckmin, José Serra e Mário Covas por terem assinado os contratos com Alstom, Siemens etc?
Claro que não. O máximo que a mídia fez foi citar que as negociatas envolvendo compra e reforma de trens e construção de estações do metrô paulistano ocorreram sob os governos desses tucanos.
Dilma, por conta de um negócio sobre o qual as provas de irregularidade ainda são inconclusivas, tem sido chamada pela mídia, no mínimo, de “incompetente”. E o mesmo PSDB que abafa CPIs em São Paulo posa de indignado no plano federal, exigindo CPI. E conseguindo, inclusive.
Ora, por que votar em um partido como o PSDB – ou similares -, que consegue abafar qualquer investigação contra si e que, mesmo sendo flagrado, escapa pela tangente?
Vejam que a mídia noticiou fartamente que 12 executivos das empresas metidas nos carteis paulistas tiveram pedido de prisão decretado, mas não disse um A sobre os políticos que negociaram com esses executivos compras ou reformas de trens e construção de estações do Metrô.
E os casos de racionamento envolvendo a esfera estadual paulista e a esfera federal? Quantas acusações Dilma e Lula sofreram por um suposto racionamento de energia que nunca ocorreu e que ninguém garante que irá ocorrer? Enquanto isso, o racionamento real de água que já ocorre em São Paulo praticamente não rendeu acusação ou crítica alguma a Alckmin na mídia.
Eis uma das razões pelas quais o signatário desta página pretende continuar votando no PT. Com esse partido no Poder, a certeza de fiscalização e de punição, em caso de comprovação de irregularidades, é líquida e certa. Já com o PSDB, pode fazer o que quiser que sempre acaba ficando impune, o que o estimula a cometer erros e atos de improbidade.
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