A nota publicada abaixo pelo Miguel do Rosário, com a informação de Merval Pereira, fonte nada desprezível – nada desprezível quando se trata de saber o que se passa na mente do conservadorismo, bem entendido – , de que Eduardo Campos também teria a pretensão de convocar Armínio Fraga para o comando da economia está, evidentemente, ligada a outra, que Paulo Moreira Leite aborda, de maneira ferina, em artigo que publica em sua coluna da Istoé.
O que são medidas impopulares no Brasil?
Paralisar o Estado, arrochar servidores e trabalhadores desqualificados, deixar milhões sem saúde, dar a estes uma escola educação que alfabetiza mal-e-mal, sucatear as empresas públicas, endividar o país com juros monstruosos, entregar nossas riquezas nunca foram, do ponto de vista da propaganda, atos impopulares.
Ao contrário, sempre receberam o apoio das elites, de sua máquina de comunicação e da parcela da classe média que ela consegue arrastar consigo.
Fazer o contrário, sim, é que merecia suas críticas – sempre com a ajuda de uns pseudo-esquerdistas – como “populismo”.
Era o “gigantismo” do Estado, os marajás (ainda que a maioria seja fosse de barnabés), a demagogia do “Mais Médicos”´(porque não basta ter um médico, tem de ter um tomógrafo computadorizado em Santana do Aperibé de Cima), escolas faraônicas como o Cieps, empreguismo estatizante, perda de atração aos capitais e xenofobia econômica…
Então, se não são essas, quais são as medidas impopulares que, agitando este soturno “homem da meia-noite” que é Fraga, prometem os dois candidatos de uma oposição, porque Neves e Campos não as faces bífidas de um mesmo retrocesso conservador?
Prometem genericamente, porque mais não dizem nem lhes é perguntado, por uma imprensa que associa a mais completa cumplicidade à mais rematada idiotia econômica, que não consegue ver os controles e a estabilidade macroeconômicas como meios de um processo de desenvolvimento, mas como fins em si mesmos, para que a lauta refeição dada aos capitais os amanse e apascente.
Tudo se resume, como em todo jogo econômico, num processo de transferência de riqueza.
O que se tira dos salários, acresce-se ao lucro; o que se tira do Estado – do burocrático, do assistencial ou do produtivo – transfere-se ao capital (e no Brasil, ao capital financeiro, quase que exclusivamente). Tirando os ganhos de eficiência, que podem ser razoavelmente distribuídos em aumento de produção e – em muito menor escala – redução de preços, a regra é essa.
É por isso que Paulo Moreira Leite faz as perguntas pertinentes sobre o que são “medidas impopulares”.
Seriam menores reajustes do salário-mínimo – e dos demais, em cascata? Redução dos direitos e garantias trabalhistas, abono, seguro-desemprego, para melhorar a saúde das empresas?
Cortes nos gastos sociais, inclusive o Bolsa-Família? Ou nos financiamentos e investimentos em habitação? Ou em infra-estrutura, tudo para melhorar os superávits fiscais e alocar mais dinheiro na conta de juros mais elevados?
A “salvação” da Petrobras, essa certamente virá pelo “alívio” que lhe darão, desobrigando-a deste pesado sacrifício que é ter de endividar-se para investir pesado, pesadíssimo – e aqui nós nunca nos refugiamos num bem-intencionado primarismo de dizer que ela poderia fazer tudo sozinha – nas imensas jazidas do pré-sal.
Não será isso, então o que seria?
Não senão instados a dizer pela imprensa e pela “política”, basta que se refugiem no “fim do populismo” e nos “choques de gestão” genéricos.
É um dever de honestidade para com o nosso povo aclarar isso.
Revelar que não é uma questão de que um governante se disponha a “ficar bem” ou a “ficar mal na fita”, mas para em qual direção vai se deslocar este país, para frente ou para trás.
E discutir se o inferno que nos apontam como logo adiante não está, na verdade, no que ficou para trás e quer voltar, como Fraga, o centurião do capital.
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