Derrotada na campanha contra a Copa do Mundo, a publicação abraça uma nova causa perdida e argumenta que o Plano Real, que completa 20 anos nesta segunda, corre o risco de ser destruído por uma inflação galopante; ocorre que o problema da economia brasileira hoje é outro: o desaquecimento, que provocou no último mês a maior deflação já registrada em 11 anos; nessa mesma edição de Veja, o jornalista José Roberto Guzzo admitiu, um tanto contrariado, o fiasco da campanha anti-Copa e alertou que o risco para uma imprensa que erra muito é a perda de leitores; o aviso será ouvido?
247 - Você pode ainda não ter se dado conta, mas o Plano Real, que amanhã completa 20 anos, pode ser destruído. Essa é a tese da nova capa de Veja, que substituiu as velas de aniversário por uma bomba-relógio. "O plano que matou a hiperinflação, estabilizou a economia e fez do Brasil um país sério corre o sério risco de explodir", alerta a revista.
Antes que você corra para os supermercados e estoque alimentos com medo de uma inflação galopante, calma: é mentira. Aliás, é mais uma mentira de uma publicação que, nos últimos anos, se deixou cegar pela obsessão política que turvou seu jornalismo.
A mais recente notícia sobre inflação, na verdade, vai na direção contrária. O Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), que corrige os valores dos aluguéis, registrou deflação de 0,74% em junho, segundo informou a Fundação Getulio Vargas (FGV), na última sexta-feira. Foi a maior queda em 11 anos, o que mostra que a economia brasileira tem outro problema: a perda de dinamismo, que contém a alta de preços. "O índice está devolvendo as fortes altas registradas ao longo do ano passado e início deste ano", disse o economista Salomão Quadros.
Em seu editorial, Veja argumenta que a inflação só não estourou o teto da meta porque os preços estariam sendo contidos artificialmente. E parece defender um ajuste, que teria fortes custos sociais. "Tudo perdido? Não. Mas, se nenhum erro fatal e irreparável foi cometido pelo governo até agora, substituir por medidas corretas todos os remendos vai ter um custo social alto que se manifestará na forma de estagnação econômica duradoura, com queda de investimentos produtivos e aumento do desemprego", diz o texto do editorialista Eurípedes Alcântara.
Curiosamente, na mesma Veja, a última página da revista traz um artigo do fundador da publicação, José Roberto Guzzo, que alerta sobre o risco enfrentado por uma empresa que erra muito. "A Copa de 2014 é uma boa oportunidade para repetir que a imprensa erra, sim - mas erra em público, à luz do sol, e se errar muito acabará morrendo por falta de leitores, ouvintes e telespectadores", diz ele (leia mais aqui). Será que o alerta será ouvido?
CHEFÃO DA ABRIL: "IMPRENSA PECOU FEIO. É
A VIDA"
Jornalista José Roberto Guzzo, membro do conselho editorial da Editora Abril e um dos responsáveis pela linha editorial de Veja, que previu estádios prontos apenas em 2038, reconhece a pisada de bola; "É bobagem tentar esconder ou inventar desculpas: muito melhor dizer logo de cara que a imprensa de alcance nacional pecou de novo, e pecou feio, ao prever durante meses seguidos que a Copa de 2014 ia ser um desastre sem limites. O Brasil, coitado, iria se envergonhar até o fim dos tempos com a exibição mundial da inépcia do governo", diz ele; "deu justamente o contrário", lamenta, antes de um conformado "é a vida"; de fato, a Abril perdeu de goleada ao apostar no mau humor
247 - A revista Veja deste fim de semana traz um mea culpa de um dos homens fortes da Editora Abril, o jornalista José Roberto Guzzo, que já dirigiu Veja e Exame, pertence ao conselho editorial da casa e é um dos responsáveis pelas políticas editoriais do grupo. O texto, chamado "Errando à luz do sul", confirma a tese da presidente Dilma Rousseff, que na sexta-feira, falou que a imprensa nacional errou bastante ao prever um desastre na Copa (leia mais aqui).
Sem rodeios, Guzzo vai direto ao ponto. "É bobagem tentar esconder ou inventar desculpas: muito melhor dizer logo de cara que a imprensa de alcance nacional pecou de novo, e pecou feito, ao prever durante meses seguidos que a Copa de 2014 ia ser um desastre sem limites. O Brasil, coitado, iria se envergonhar até o fim dos tempos com a exibição mundial da inépcia do governo para executar qualquer projeto desse porte, mesmo tendo sete anos para entregar o serviço", diz ele.
"Deu justamente o contrário. A Copa de 2014, até agora, foi acima de tudo o triunfo do futebol", diz ele. "Para efeitos práticos, além disso, tudo funcionou: os desatinos da organização não impediram o espetáculo, os 600 000 visitantes estrangeiros acharam o Brasil o máximo e 24 horas depois de encerrado o primeiro jogo ninguém mais se lembrava dos horrores anunciados durante os últimos meses. É a vida", lamenta.
Guzzo reconhece ainda o risco das apostas erradas, como fez Veja ao prever que os estádios só ficariam prontos em 2038. "A Copa de 2014 é uma boa oportunidade para repetir que a imprensa erra, sim - mas erra em público, à luz do sol, e se errar muito acabará morrendo por falta de leitores, ouvintes e telespectadores. Ao contrário do governo, que jamais reconhece a mínima falha em nada que faça, a imprensa não pode esconder suas responsabilidades".
Na última linha, porém, ele faz um alerta. "Esperemos, agora, a Olimpíada do Rio de Janeiro". Será que Veja vai liderar o movimento #naovaiterolimpiada?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
comentários sujeitos a moderação.