Cheguei ao número 901 da avenida Paulista por volta das 11 horas da última sexta-feira 13. A frente da sede da Petrobras na capital paulista estava tomada por balões de gás com a sigla da Central Única dos Trabalhadores (CUT) estampada.
Em terra firme, os primeiros ativistas da CUT a chegar ao local do ato da entidade em defesa da Petrobrás vieram do interior de São Paulo. Eram agricultores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Ao corresponder a apertos de mão de manifestantes que me reconheceram e disseram-se leitores desta página, senti as peles ásperas e calejadas de pessoas que lutam pela sobrevivência a cada minuto de seus dias extenuantes.
Eis que me vem à mente ameaças de violência contra o MST – entre outros – que vêm circulando pela internet.
A Central Sindical tomou providências. Grupos de homens grandes e fortes que levavam uma tira curta de pano verde presa ao ombro da camisa garantiram ao blogueiro que a segurança estava a cargo da Polícia Militar, mas era óbvio que estavam ali para a eventualidade de haver confronto físico.
Todavia, graças ao descumprimento da ameaça do grupo “Revoltados On Line” de ir para o local enquanto a CUT estivesse lá, não houve violência e, muito pelo contrário, o que imperou foi uma alegria quase infantil de manifestantes que cantavam, dançavam e riam.
Mas nem tudo era alegria e alívio por, finalmente, o lado amordaçado pela mídia corporativa poder se manifestar. Havia gente, ali, cujo espírito parecia menos amistoso. Por exemplo, pesquisadores do instituto Datafolha que entrevistaram militantes da CUT que, por sua vez, alegaram terem se sentido pressionados durante as entrevistas.
Segundo relato que me foi passado pela repórter da TV dos Trabalhadores (TVT) que se identificou como Talita, os pesquisadores do Datafolha pareciam querer extrair respostas positivas a perguntas sobre se a presidente Dilma Rousseff está envolvida em corrupção.
Diante dessa informação, o blogueiro tratou de interpelar um dos pesquisadores daquele instituto. Porém, o funcionário do Datafolha empurrou agressivamente a câmera deste blogueiro-repórter enquanto o filmava.
Outro grupo com jeito e atitudes de poucos amigos foi – ó, que surpresa! – a Polícia Militar. Em primeiro lugar, havia muito pouca polícia. O contingente tinha expressão zangada no rosto e, ao ser inquirido pelo blogueiro sobre o que fazia lá, um soldado disse que sua missão era apenas filmar os manifestantes.
Em busca de novas emoções, o blogueiro decidiu ir à outra parte da manifestação, que ocorria no vão livre do Masp. Milhares e milhares de professores faziam assembleia para decidir se entrariam em greve, pouco antes de se juntarem às outras categorias filiadas à CUT.
Deliberaram pela greve ao som de uma “sonora vaia a Alckmin”, conforme as palavras da mulher que conduzia o evento do alto de um carro de som.
Infelizmente, entre os professores havia um grupo de militantes do PSTU que destoou da esmagadora maioria dos presentes, que apoiaram o ato da CUT e marcharam até o centro da cidade com as outras entidades filiadas à central sindical.
Com essa faixa, a minoria da Apeoesp carimbou o ato da entidade com a sua visão, pois quem passava pelo local via o “nem-nem” do PSTU.
Diante disso, fui procurar alguém da oposição à diretoria da Apeoesp para explicar o que significava aquela faixa.
Descobri que a divergência dos militantes do PSTU com o sentido daquele ato público ia ainda mais longe. Uma jovem professora filiada ao partido chegou a defender, em alguma medida, o ato golpista de domingo, 15 de março, separando os mais golpistas dos supostamente menos golpistas, como se golpismo envolvesse gradação.
Apesar disso tudo, o ato da CUT foi um sucesso. E como uma imagem vale mais do que mil palavras, eis, abaixo, vista aérea do que se passou na avenida Paulista naquela tarde chuvosa de março.
Por volta das 17 horas, a CUT deixou o local para se reunir com os professores que estavam no Masp e, juntos, marcharem até o centro da capital paulista. Pouco depois, cerca de 30 membros do grupo “Revoltados On Line” chegaram à frente do prédio da Petrobras.
Estranhamente, com eles a atuação da Polícia foi muito diferente. Além de não terem sido filmados, havia muito mais policiais e estes se postaram de prontidão junto aos manifestantes, sugerindo que estavam ali para protegê-los sabe-se lá do que, pois ao não fazerem provocações não havia possibilidade de haver confronto.
Só restava mesmo, portanto, entrevistar os “Revoltados”. Apesar de ter feito quatro entrevistas, o vídeo curto que o Blog apresenta, ao fim do texto, só reproduz parte de uma delas porque a bateria da câmera acabou.
O entrevistado se disse ligado ao grupo de “Revoltados” e, apesar de negar inicialmente, acabou admitindo que se o Congresso Nacional não quiser deliberar sobre o impeachment da presidente da República, que venha o golpe militar. Isso após se dizer “democrático”.
Infelizmente, parte muito engraçada da entrevista ficou de fora. Perguntei ao entrevistado o que ele achava de o vice-presidente Michel Temer suceder Dilma caso ela seja derrubada. O “revoltado” não gostou da hipótese e disse que também tentariam derrubá-lo.
Diante do inusitado de alguém pregar que se instale um impeachment crônico no país, perguntei se ele aceitaria que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, sucedesse Temer; o homenzarrão “revoltado” disse que tentaria derrubá-lo também.
Por fim, perguntei o que ocorreria se o presidente do Senado, Renan Calheiros, assumisse a Presidência. A situação já ficara tão ridícula que o “revoltado” finalmente sorriu. Mas fechou a cara em seguida e disse que talvez o melhor mesmo fosse o golpe militar de uma vez.
Como já não havia mais bateria nem paciência para entrevistar aquela gente, fui-me embora. Caminhei sob a chuva agora fina até o condomínio em que resido, a vários e vários quarteirões de distância.
No percurso para casa, refleti que, de alguma forma, há uma boa dose de semelhança entre o “revoltado” golpista e a jovem, bem-intencionada e equivocada professora que condescende com mentalidade de quem quer dar golpe de Estado “constitucional” ou “tradicional”.
Abaixo, o vídeo que deu origem à narrativa acima.
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