Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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sexta-feira, 11 de março de 2016

O mico internacional dos promotores de São Paulo nos fez chorar de rir; mas também deveria ser motivo de indignação

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por Luiz Carlos Azenha
Foi uma noite de deboche, especialmente no twitter, depois que os promotores Fernando Henrique Moraes de Araújo, Cássio Conserino e José Carlos Blat pediram a prisão preventiva do ex-presidente Lula com uma bizarra argumentação.
É possível resumir com os memes que reproduzimos acima.
A frase “Marx e Hegel” chegou aos trending topics mundiais do twitter depois que os confusos promotores reservaram para o gran finale do pedido de prisão — certos de que estavam abafando — a suposição de que Marx e Hegel estariam profundamente decepcionados com Lula.
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Uma dupla bizarrice, já que Lula nunca se disse marxista e Marx nunca foi parceiro de Hegel, mas de Engels.
Para salvar os promotores, o Jornalistas Livres até brincou, tirando com as teorias de conspiração que fazem a cabeça da direita nas redes sociais: “Hegel morreu em 1831 e Marx nasceu em 1818. 1831 menos 1818 é igual a 13. Só não enxerga quem não quer”.
Mas o que feriu realmente a lógica foi a argumentação do promotor Conserino de que o crime de ocultação de bens não deixa provas e, portanto, mesmo sem provas Lula deve ser preso agora — dentre outros motivos por ter, em certo vídeo, mandado enfiar algo em certo lugar.
A deputada Jandira Feghali, que gravou o vídeo, levou a sério:
O pedido de prisão preventiva do ex-presidente Lula não tem qualquer base legal que o sustente. Não passa de um amontoado de inconsistências coroadas pelo item 127, que trata de vídeo por mim gravado. Sobre isso tenho a dizer que:
1. O ex-presidente Lula não dava, naquele momento, declaração à mim. Ele também não se dirigia ao público, não se tratava de uma coletiva;
2. Lula estava entre amigos, desabafando sobre as ilegalidades cometidas contra ele quando, para tranquilizar a militância, gravei um vídeo sem a intenção de captá-lo, o que acabou acontecendo sem seu conhecimento.
3. Lula usou expressão informal em sua conversa;
4. O ex-presidente Lula não se referiu ao processo, mas sim ao acervo presidencial.
5. Indignação não é crime. O uso do vídeo mostra a má fé e a falta de qualquer prova contra ele.
O documento do MP paulista causou consternação mesmo em estrangeiros. O correspondente do Los Angeles Timesno Brasil, Vincent Bevins, tuitou as menções “bizarras” a Nietzsche e Marx/Hegel no documento. Perguntou: “Foi o Sean Penn brasileiro que escreveu?”.
Mesmo direitistas desancaram a peça apresentada pelos três promotores como imprestável.
O fato é que o MP paulista se tornou descartável. Ele prestou enquanto serviu para demonizar Lula na campanha de desmoralização pública do ex-presidente que atingiu o ápice nos últimos dias.
Os argumentos do promotor Conserino, reunidos agora em denúncia e pedido de prisão, são os mesmos que a mídia disseminou insistentemente nas últimas semanas. Só que tinham sido apresentados com a gravidade que só um jornalista sabe conferir a um texto. Conserino e seus dois colegas, escrevendo a sós, floparam!
As ações de Conserino em parceria com a Veja e a Globo já exerceram o seu efeito prático: mobilizar a direita que nunca leu Marx, muito menos os irmãos Marx — e que acha que Lula é marxista — para as manifestações do 13 de março.
Agora, o trabalho do promotor paulista foi assumido pelo juiz Sergio Moro, que já na semana passada havia tentado prender Lula, depois de um vazamento parcial na revista IstoÉ, programado para acontecer na véspera da condução coercitiva do ex-presidente. O vazamento, como sabemos agora, concentrou-se em Lula e Dilma e, surpresa!, poupou o tucano Aécio Neves.
Os próceres do PSDB, com a ajuda da tabelinha mídia/Justiça, chegaram onde queriam chegar: a base da presidente Dilma está esmigalhada, o afastamento do PMDB é iminente e há delações premiadas em série com o potencial de acrescentar denúncias contra Lula e o Planalto.
O impeachment é uma possibilidade no horizonte; a condenação de Lula por Moro, outra.
Numa nota um pouco menos hilária que a de Conserino, o juiz da Lava Jato Sergio Moro se declarou apartidário num evento promovido pelo candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, João Dória.
O lado trágico do mico internacional do MP paulista é que, como agora está fartamente demonstrado, a instituição foi utilizada descaradamente para fins partidários, reproduzindo uma relação tradicional entre promotores e jornalistas, que se alimentam mutuamente.
Basta consultar quem frequenta os bastidores de uma redação para descobrir a troca promíscua: carreiras decolam no MP depois da exposição de promotores na mídia, justamente aqueles que estabelecem canais de vazamento ou adotam como suas investigações de jornalistas. A palavra final do que é impresso ou vai ao ar é, sempre, do patrão.
Esta relação espúria foi explorada de uma forma como talvez nunca tinha sido anteriormente contra Lula, notadamente pela TV Globo, que assumiu o papel de articuladora de um golpe judiciário.
Os irmãos Marinho sabem que seus próprios negócios não sobreviveriam à transparência supostamente inaugurada pela Operação Lava Jato.
Não é por acaso que promoveram a campanha contra a PEC 37, que limitaria o poder investigatório dos promotores. Não é por acaso que premiaram o juiz Sergio Moro. Não é por acaso que tentaram intimidar blogueiros e agradar a jornalista Mirian Dutra, amante do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que afirmou que a emissora foi beneficiada pelo BNDES em troca de tê-la mantido como correspondente no Exterior, como comprovamos aqui.
A Globo não é a única, mas é a maior beneficiária de um golpe paraguaio que lhe dê amplo acesso aos cofres públicos em troca da criminalização da esquerda, do MST, de sindicatos e da imprensa alternativa — abrindo caminho para a adoção da política econômica da coalizão PMDB-PSDB.
Sem o Jornal Nacional, Moro morrerá de inanição e será descartado como foram Conserino ontem e, antes dele, Joaquim Barbosa.
Abaixo, a polarização: intervenção no Jornal da Globo, faixa na Rocinha e um dos promotores que denunciaram Lula, Fernando Henrique (!), em manifestação pró-impeachment
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