Flavio Aguiar
Existe um povo que a bandeira empresta
P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!
…
Auriverde pendão da minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança!
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as divinas promessas da esperança!
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteada dos heróis à lança,
Antes de houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!
Castro Alves, o Navio Negreiro.
Em
Brasília há um panteão dos heróis nacionais. Lá estão gravados os nomes
de Zumbi, Sepé Tiaraju, Tiradentes, Anita Garibaldi, dentre outros. Não
duvido de que um dia os nomes de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma
Rousseff lá estarão.
Mas
seria bom, a partir deste 31 de agosto de 2016, quando se consumou o
golpe de estado que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, que se
erigisse ao lado um… bem, não um panteão, mas sim um Hall da Infâmia, já
que todos e todas que perpetraram este golpe são americanófilos e,
portanto, este nome lhes cai melhor.
O
patrono deste Hall é Joaquim Silvério dos Reis, na boa companhia de
Carlos Lacerda, Café Filho, Rainieri Mazzili e Auro de Moura Andrade,
além de todos os signatários do Ato Institucional no. 5, Carlos Alberto
Brilhante Ustra, só para começar.
Bem,
vai ser impossível designar aqui todos os candidatos a terem seus nomes
e fotos, em posições infames, inscritos neste Hall da Infâmia. Além
disto, cuidado! Não basta ter praticado algum ato infame para adentrar
este valhacouto ou covil. É necessário haver um devido processo, que
prove o requinte da infâmia. A seguir, portanto, tratarei apenas de
alguns dos infames declarados, e de alguns outros que são bons
candidatos a terem seu nome perpetuado neste Hall.
Para
começar, descartemos os infames de segunda categoria. Por exemplo: a
caterva de promotores menores, policiais federais, juízes e juízas de
nenhuma relevância, que ajudam o golpe, com milhares de coxinhas idiotas
que foram às ruas achando que estavam lutando para acabar com a
corrupção, ou mesmo de má fé, defendendo a volta da ditadura, por
exemplo. Estes e estas serviriam no máximo para serem incluídos no
tapete de entrada do Hall, pisados e repisados pelos pés dos visitantes
que, na entrada, passariam por um portal da lama para carregá-la
adentro, enlameando os nomes ali eternizados.
Também
eliminemos os concorrentes à Comenda Pôncio Pilatos, como os ministros e
ministras do Supremo Tribunal Federal que sistematicamente se negaram a
se pronunciar - pelo menos até agora - sobre o mérito de um processo
injusto, vazio e iníquo, no estilo daquele que condenou Joana d’Arc à
fogueira. Seu destino seria terem seus nomes e fotos eternizados em
placas de metal que ficariam gravitando em torno do Hall, nele impedidos
de entrar, assim como os omissos, no Inferno de Dante, correm sem parar
junto à sua porta perseguidos por enxames de vespas, moscas, mosquitos,
pernilongos que se saciam na sua carne apodrecente.
Não, no Hall da Infâmia entrarão apenas os eleitos, o supra-sumo da malfeitoria.
Para
começar, lá estarão, desprovidos de dedos, palmas e punhos, com os
braços interligados, apodrecendo juntos por toda a eternidade, Cunha,
Temer e Renan Calheiros. No seu centro, com os olhos na nuca, pois só
pode ver o passado, estará Meirelles, este exterminador do futuro, da
infância e da juventude de nosso país, com seu plano nefasto e nefando
de impedir investimentos em educação e saúde, e outras áreas sociais.
Logo a seguir virá o chanceler José Shell (antes conhecido como Serra
Chevron), com uma peculiaridade: ao invés de mãos terá cascos de cavalo e
em lugar dos pés, patas de rinoceronte. Ao abrir a boca, só sairão dela
bombas de fragmentação, ferindo seus companheiros de Hall, ungido pela
destruição não apenas da política externa independente e altiva de seus
antecessores imediatos, mas também da laboriosa tradição construída
desde Alexandre de Gusmão e os dois Rio Branco, o Visconde e o Barão.
Na
ala da idiotice contumaz estará reinando o senador Aécio Neves, por
declarar que com o golpe perpetrado a Brasil redescobriu a democracia e
recuperou o respeito internacional, quando é exatamente o contrário que
se dá. Terá os olhos e os ouvidos permanentemente tapados, pois assim
agiu neste e em outros momentos.
Já
na ala da hipocrisia e mentira se encontrarão os diretores e arautos da
mídia conservadora, Estadão, Globo, Veja, Folha de S. Paulo, Zero Hora,
Isto É e outros e outras, tendo suas línguas distendidas
permanentemente esfregadas com sabão de sebo cru.
Ao
lado deles, o juiz Gilmar Mendes terá as pálpebras permanentemente
abertas, sem nunca poder fecha-las, condenado, como diz São Tomás de
Aquino, a um choro sem lágrimas e a um soluçar silencioso. Ao tentar
gritar, nenhum som sairá de sua boca, somente um hálito fétido que
empestará a respiração dos demais eleitos do Hall.
Haverá muito mais neste Hall da Infâmia. Convido leitoras e leitores a soltar a imaginação.
Mas há ainda os candidatos que deverão passar pelo crivo de serem examinados em processo.
Por
exemplo, cito alguns casos. Primeiro, o juiz Sérgio Moro. Sabe-se que
se ele atuasse nos Estados Unidos, país que tanto ama, e fizesse o que
vem fazendo, já teria perdido o cargo. É um caso a ser estudado.
Trata-se de paranoia ou mistificação? Com a palavra os psicanalistas e
juristas do futuro. Idem, o caso da trinca Janaína Paschoal, Reale
Júnior e Helio Bicudo. Afinal, a primeira se vendeu por quarenta e cinco
mil dinheiros. É muito pouco. E os demais? Ganharam mais, menos, ou
apenas cederam perante a vaidade e a glória? O mesmo se pode dizer de
agentes de segunda mão, como Cristovam, Marta, Romário, Anastasia…
Seriam farsantes apenas?
Outro a ser estudado é o general Etchegoyen. Estará à altura dos seus antepassados conspiradores e golpistas?
Caso sejam reprovados nos devidos exames, ficarão no tapete de entrada, com os ajudantes do golpe, enlameados como os demais.
Sic transit gloria mundi.
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