Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Acordo com o Irã não era bom porque negociado pelo Brasil?

xa
Paulo  Moreira Leite publica em sua  coluna um artigo muito didático sobre  a questão nuclear iraniana, que há alguns anos virou escândalo na mídia, quando o Brasil, com Lula, e a Turquia alinhavaram um acordo com Mahmoud Ahmadinejad, então presidente do Irã.
O ex-chanceler e hoje ministro da Defesa, Celso Amorim, já disse em entrevista que o acordo firmado agora pelos EUA com o novo presidente  Hassan Rowhani é inferior, em matéria de garantias de que não haveria uso militar do combustível nuclear enriquecido.
Agora, o artigo de Marcelo Zero coloca a questão em seu leito histórico, mostrando como, para variar, foram os americanos – e as potências ocidentais  - que levaram o Irã a usar energia e combustíveis nucleares, quando o país vivia sob a ditadura – também por eles instituída – do Xá Reza Pahlevi.
Hipocrisia a 100%
Marcelo Zero
Lord Byron costumava dizer que, na Inglaterra, a única homenagem que se prestava à virtude era a hipocrisia. Mas a frase de Byron pode ser aplicada a qualquer império. Com efeito, nas relações internacionais das grandes potências o que predomina é uma flexível “ética de lupanar”, diriam os analistas mais diretos. “Realpolitik”, diriam os mais elegantes.
O caso do programa nuclear iraniano, objeto de acordo recente, é emblemático.
Pode parecer estranho, mas esse programa não foi desenvolvido pelos aiatolás, religiosos mais afetos às leituras do Corão do que ao desvendamento da intrincada tecnologia ocidental. Tampouco caiu de nenhum dos sete céus nos quais acreditam os muçulmanos. 
Na realidade, ele caiu do colo do Departamento de Estado dos EUA.
Do colo dos EUA para o colo do regime do Xá Reza Pahlevi, ditador tão sanguinário quanto pomposo, que se autoproclamava herdeiro de Dario e Xerxes. De fato, o primeiro reator nuclear iraniano, inteiramente construído pelos EUA, começou a operar já em 1967, com urânio enriquecido a 20%, o mesmo grau de pureza que hoje se proíbe ao Irã. Posteriormente, o Xá firmou um acordo para que os EUA construíssem no Irã nada menos que 23 usinas nucleares até 2000. 
Outras potências se juntaram a esse notável esforço em prol da segurança mundial. A Alemanha firmou, em 1975, acordo com Teerã para a construção de duas grandes centrais nucleares baseadas em água pressurizada, um investimento de US$ 6 bilhões. A França criou com o Irã a Sofidif (Société franco–iranienne pour l’enrichissement de l’uranium par diffusion gazeuse), mediante um investimento de US$ 1 bilhão. Com a sociedade criada, o Irã teria o direito de usar 10% do urânio enriquecido. 
Mas não ficou só nisso. Em 1976, os EUA ofereceram ao Irã uma usina de reprocessamento de material radioativo, que permitiria aos confiáveis descendentes do Império Persa o domínio de todo o ciclo nuclear e a fabricação de plutônio, material com o qual se pode construir uma bomba atômica. Uma bem “suja” e tóxica.
O Xá chegou a virar garoto-propaganda da indústria nuclear internacional. Entre um telefonema e outro para a Savak, sua polícia secreta, responsável pela tortura e morte de milhares de desobedientes vassalos, o Xá achou tempo para pousar, sorridente, em propagandas de fabricantes de reatores nucleares.
É evidente que os EUA, com todas essas ofertas, estavam começando a criar as condições para um possível armamento nuclear do Irã, na época grande aliado dos norte-americanos no Oriente Médio. Relatório da CIA de 1974, já “desclassificado”, indicava claramente essa possibilidade. Segundo o relatório, se o Xá ainda estivesse vivo em meados da década de 1980, e se outros países da região se armassem (notadamente a Índia, como de fato aconteceu) o Irã, “sem dúvida”, seguiria o mesmo caminho. Estranhamente, isso não parecia inquietar muito Washington. 
Tudo mudou com a queda de Pahlevi. Todos os acordos e contratos foram cancelados ou revistos, mesmo sendo instrumentos jurídicos de Estados, e não de governos. Em alguns casos, o dinheiro dos investimentos iranianos sequer foi devolvido, como aconteceu com a sociedade francês-iraniana para o enriquecimento de urânio. 
Entretanto, como o Irã, ao contrario de Israel, é signatário do TNP, que diz que é “direito inalienável de todas as Partes do Tratado” desenvolverem a energia nuclear para fins pacíficos, “sem discriminação”, os aiatolás acharam que poderiam prosseguir com o programa, sem a devida autorização da superpotência. Ledo engano. Com o tempo, a pretensão do novo regime iraniano foi sendo sepultada por uma série de embargos e duras sanções econômicas.
Os aiatolás foram, quiçá, demasiadamente confiantes. Acreditaram em tratados e contratos. Talvez a mesma confiança que desgraçou o nosso embaixador Bustani, em episódio bem conhecido. Bustani provavelmente também acreditava em tratados e imperativos morais kantianos. Prevaleceram no seu vergonhoso episódio, contudo, os pragmáticos conselhos ao grande Príncipe, que cinicamente o defenestrou, com a hipócrita omissão do governo brasileiro da época. 
Outra vítima desse brutal cinismo foi Lula. Ele também levou a sério o multilateralismo e a construção conjunta da paz. Lula, com o apoio explícito de Obama, fechou um acordo magistral com Teerã sobre o programa nuclear.
Tal acordo, praticamente idêntico ao que havia sido tentado 6 meses antes, sem êxito, pelos EUA, previa o envio de 1.200 quilos de urânio enriquecido iraniano para o exterior e tinha dois efeitos imediatos: a) impossibilitava a construção de qualquer artefato nuclear por parte do Irã, pois para isso seria necessário enriquecer a mais de 90% cerca de 2.500 quilos de urânio levemente enriquecido, sendo que os iranianos ficariam com apenas cerca de 800 quilos, e b) abria as portas para uma cooperação pacífica entre o Irã e as potências ocidentais. El Baradei, ex-diretor da AIEA, uma das maiores autoridades mundiais no tema, deu pleno apoio ao acordo. Gary Sick, que foi membro do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, considerado um dos maiores especialistas norte-americanos em Irã, afirmou que “ter o Brasil e a Turquia trabalhando ativamente para desenvolver uma nova abordagem da questão iraniana era uma enorme vantagem para os EUA”. Essa ação, segundo Sick, tinha “valor incalculável para progressos futuros”.
Mas prevaleceu, de novo, o cinismo imperial. Os EUA, que não esperavam o êxito do Brasil, preferiram sabotar o bom acordo. É que o acordo retirava protagonismo dos EUA numa região estrategicamente sensível. Eles ficaram melindrados com o êxito alheio e receosos quanto a manter o controle absoluto do processo de negociação. Ademais, havia, e ainda há, o interesse em desestabilizar o regime iraniano. 
Tão inesperada quanto essa cínica sabotagem dos EUA foi a hipócrita reação em âmbito interno. Nossa lamentável matilha de vira-latas se regozijou com a sabotagem contra o Brasil e criticou o presidente por sua indevida ingerência nas “brigas de cachorros grandes”. Agora, devidamente autorizados pelo Big Dog, abanam os rabos para um acordo que, como já notaram alguns, é inferior ao obtido pelo Brasil, pois não retira do território iraniano uma única grama do urânio enriquecido a 20% e inviabiliza a produção de isótopos para fins medicinais. 
Uma hipocrisia enriquecida a 100%. 

terça-feira, 20 de julho de 2010

Irã acusa EUA de traírem Brasil e Turquia por rejeição de acordo nuclear

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AE – Agência Estado

O presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, acusou nesta segunda-feira, 19, o governo dos Estados Unidos de ter traído o Brasil na negociação conjunta com a Turquia para obter um acordo sobre troca de material nuclear com Teerã.

“O tratamento dispensado (ao Brasil e à Turquia) é um indicador da arrogância e da atuação desonrada e desprovida de princípios dos Estados Unidos no cenário internacional”, disse Larijani em Genebra, durante a Convenção Mundial de Presidentes de Parlamento.

De acordo com ele, os EUA foram desonestos com Brasil e Turquia ao rejeitarem um acordo inicialmente incentivado pela Casa Branca. Dias depois do anúncio do acordo, os Estados Unidos obtiveram apoio para a aprovação de um novo pacote de sanções contra o Irã no Conselho de Segurança (CS) da Organização da ONU.

Larijani acusou os EUA e outras potências de fazerem uso inadequado das entidades multilaterais e defendeu que a ONU e a União Interparlamentar criem uma nova organização internacional que supere as “históricas limitações” das Nações Unidas e de outras agências.

“A injusta estrutura de poder no cenário internacional levou ao uso instrumental dos órgãos internacionais especializados, situação esta prejudicial ao presente e ao futuro da humanidade”, declarou Larijani. “A atual estrutura de poder não foi apenas incapaz de assegurar a paz e a segurança internacionais, mas levou também ao surgimento do novo fenômeno do terrorismo estruturado de forma muito perigosa e organizada”, prosseguiu o presidente do Parlamento iraniano.

“Não há dúvida de que tal incapacidade deriva da aplicação de diferentes pesos e medidas e de políticas unilaterais por parte das grandes potências, entre elas os Estados Unidos”, concluiu Larijani. As informações são da Dow Jones.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A saudade do servo na velha diplomacia brasileira

3 de junho de 2010 às 12:37

Boff: A saudade do servo na velha diplomacia brasileira
A saudade do servo na velha diplomacia brasileira
por Leonardo Boff, via Tijolaço
O filósofo F. Hegel em sua Fenomenologia do Espírito analisou detalhadamente a dialética do senhor e do servo. O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o servo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de servo. A mesma dialética identificou Paulo Freire na relação oprimido-opressor em sua clássica obra Pedagogia do oprimido. Com humor comentou Frei Betto: “em cada cabeça de oprimido há uma placa virtual que diz: hospedaria de opressor”. Quer dizer, o opressor hospeda em si oprimido e é exatamente isso que o faz oprimido. A libertação se realiza quando o oprimido extrojeta o opressor e ai começa então uma nova história na qual não haverá mais oprimido e opressor mas o cidadão livre.
Escrevo isso a propósito de nossa imprensa comercial, os grandes jornais do Rio, de São Paulo e de Porto Alegre, com referência à política externa do governo Lula no seu afã de mediar junto com o governo turco um acordo pacífico com o Irã a respeito do enriquecimento de urânio para fins não militares. Ler as opiniões emitidas por estes jornais, seja em editoriais seja por seus articulistas, alguns deles, embaixadores da velha guarda, reféns do tempo da guerra-fria, na lógica de amigo-inimigo é simplesmente estarrecedor. O Globo fala em “suicídio diplomático”(24/05) para referir apenas um título até suave. Bem que poderiam colocar como sub-cabeçalho de seus jornais:”Sucursal do Império” pois sua voz é mais eco da voz do senhor imperial do que a voz do jornalismo que objetivamente informa e honestamente opina. Outros, como o Jornal do Brasil, tem seguido uma linha de objetividade, fornecendo os dados principais para os leitores fazerem sua apreciação.
As opiniões revelam pessoas que têm saudades deste senhor imperial internalizado, de quem se comportam como súcubos. Não admitem que o Brasil de Lula ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante como o repetiu, há pouco, no Brasil, o Secretário Geral da ONU, Ban-Ki-moon. Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata. Posso imaginar o quanto os donos desses jornais sofrem ao ter que aceitar que o Brasil nunca poderá ser o que gostariam que fosse: um Estado-agregado como é Hawai e Porto-Rico. Como não há jeito, a maneira então de atender à voz do senhor internalizado, é difamar, ridicularizar e desqualificar, de forma até antipatriótica, a iniciativa e a pessoa do Presidente. Este notoriamente é reconhecido, mundo afora, como excepcional interlocutor, com grande habilidade nas negociações e dotado de singular força de convencimento.
O povo brasileiro abomina a subserviência aos poderosos e aprecia, às vezes ingenuamente, os estrangeiros e os outros povos. Sente-se orgulhoso de seu Presidente. Ele é um deles, um sobrevivente da grande tribulação, que as elites, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca o aceitaram porque pensam que seu lugar não é na Presidência mas na fábrica produzindo para elas. Mas a história quis que fosse Presidente e que comparecesse como um personagem de grande carisma, unindo em sua pessoa ternura para com os humildes e vigor com o qual sustenta suas posições .
O que estamos assistindo é a contraposição de dois paradigmas de fazer diplomacia: uma velha, imperial, intimidatória, do uso da truculência ideológica, econômica e eventualmente militar, diplomacia inimiga da paz e da vida, que nunca trouxe resultados duradouros. E outra, do século XXI, que se dá conta de que vivemos numa fase nova da história, a história coletiva dos povos que se obrigam a conviver harmoniosamente num pequeno planeta, escasso de recursos e semi-devastado. Para esta nova situação impõe-se a diplomacia do diálogo incansável, da negociação do ganha-ganha, dos acertos para além das diferenças. Lula entendeu esta fase planetária. Fez-se protagonista do novo, daquela estratégia que pode efetivamente evitar a maior praga que jamais existiu: a guerra que só destrói e mata. Agora, ou seguiremos esta nova diplomacia, ou nos entredevoraremos. Ou Hillary ou Lula.
A nossa imprensa comercial é obtusa face a essa nova emergência da história. Por isso abomina a diplomacia de Lula
Leonardo Boff é Teólogo e autor de Nossa ressurreição na morte, Vozes 2007

sábado, 22 de maio de 2010

OPINIÃO – Fracos não têm vez nem credibilidade



Paulo Ricardo da Rocha Paiva

Coronel de Infantaria e Estado-Maior, é doutor em ciências militares
Foi só roubarem a cena do principal protagonista na condução do processo Irã & Contras do Oriente Médio e já o irmão do norte, mordido no seu ego intocável, resolve dizer um não à iniciativa do Brasil e da Turquia, que podem até serem acusados de crédulos de carteirinha, mas, jamais, de omissos na busca de uma solução menos radical, sem potencial de ameaças a um país que, até provas em contrário, como fez o Iraque, afirma não ter armas de destruição em massa e não estar empenhado em sua produção.
Afinal de contas, os foguetes balísticos testados pelas forças iranianas, em verdade, não constituem meios de grande poder letal, embora incomodem os atores que ameaçadoramente, próximo ao litoral iraniano, fazem singrar aeródromos agressivos plenos de caças supersônicos, os mesmos empregados no desmantelamento de cidades vizinhas.

Não é novidade: do século 21 em diante a vida no mundo passou a girar em torno dos desígnios das grandes potências militares. Ao final da 2ª Guerra Mundial, já poderios nucleares se alçaram acima do bem e do mal, encastelados no Conselho de Segurança da ONU, com direito de veto sobre toda e qualquer iniciativa que viesse a contrariar seus interesses.
Quem esperava que Rússia e China fossem respaldar o acordo obtido sem o aval de Washington por certo não avaliou: que a primeira já está visualizando seu futuro ameaçado pela segunda e um natural alinhamento com a Otan frente ao “tsunami amarelo” que se agiganta debruçado sobre a Sibéria; que à segunda, pelo menos por enquanto, não interessa antagonizar os Estados Unidos, pois, ao que tudo indica, estes já deglutiram o fato de que chineses podem até fingir, mas de modo algum vão pressionar pela desnuclearização da Coreia do Norte, a ponta de lança destes frente ao Japão, principal aliado dos americanos na Ásia. Fica a pergunta: mas, e se o acordo tivesse sido logrado por outras potências atômicas daquele “quinteto viciado”, como teria reagido a diplomacia de Tio Sam?
O desfecho que vai tomando a questão está a provar de novo que, quando se coloca em xeque os interesses dos poderosos, não há força de diplomacia que consiga suplantar a diplomacia de força, sendo ingênuo acreditar que os “arrasa-quarteirão” surgidos após 1945 já não mandem neste mundo ainda tão desigual.
Que não se duvide, queiramos ou não e por mais que machuque a verdade, hoje no planeta, além das grandes potências tradicionais, só detêm soberania plena em condições reais de manutenção aquelas nações que pelo seu poder de dissuasão definitivo são capazes de dirimir ameaças, evitando, em consequência, a necessidade de lutar.
Não é preciso ser muito cordato para se aceitar o fato de que, se a Amazônia fizesse parte do território da Índia, os todo-poderosos não se sentiriam à vontade em proclamá-la “patrimônio da humanidade” nem os indianos assimilariam tal idiossincrasia como o fazem alguns brasileiros malgerados, indignos daqueles bem-nascidos que colocam a pátria, ainda que indefesa, acima de tudo.
Fragilizados não têm vez, o que não quer dizer todavia que estejam impedidos de vir a constituir um dia a bola da vez. Em sendo assim, admitir que um emergente detenha tecnologia revolucionária para o enriquecimento de urânio, muito mais em conta do que a deles, é demais para os senhores da guerra, visto que, simplesmente, não vão sossegar enquanto não aceitarmos entregar mais esse trunfo nacional em prol do bem da humanidade. Ainda há tempo para se fazer o dever de casa estratégico?
Acorda, Brasil!