por Luiz Carlos Azenha
Muito já se falou sobre o artificialismo da campanha de José Serra na TV: da favela cenográfica, do locutor que tem a voz parecida com a do Lula, da voz da Elba Ramalho que não é da Elba Ramalho.
Dos dois professores por sala-de-aula, que ele promete levar de São Paulo para o Brasil, faltou dizer que, em São Paulo, eles não existem, como denunciou Conceição Lemes.
Muito já se falou, igualmente, das manchetes que parecem especialmente produzidas para aparecer na propaganda do PSDB.
No exemplo mais recente, para o qual um leitor me chamou a atenção, Folha, Estadão e O Globo abriram grandes manchetes para a pesquisa recém-divulgada do IBGE sobre os número do esgotamento sanitário no Brasil.
Objetivamente, a pesquisa disse, conforme escreveu Verena Fornetti, na página 7 do caderno Cotidiano 2 da Folha de S. Paulo, dia 21.08.2010:
O número de domicílios do país com acesso a rede de esgoto passou de 33,5% em 2000 para 45,7% em 2008.
Qual foi a manchete da reportagem?
Metade das casas ainda não tem esgoto
Acho que é mesmo um problema terrível e que deveria estar na manchete de todos os jornais do Brasil.
No Estadão, no mesmo dia 21.08.2010:
No País, 34,8 milhões de pessoas vivem sem coleta de esgoto
Na página 25:
Brasil tem 34,8 milhões de pessoas que vivem sem coleta de esgoto
No mesmo dia, em O Globo, primeira página:
Governo Lula não mudou a calamidade no saneamento
Na página 3:
Retrato de subdesenvolvimento
Na página 10:
Doze milhões de casas sem água
Ou seja, a campanha de Serra tinha várias opções para escolher ao tratar de saneamento. E escolheu a de O Globo, na propaganda de 24.08.2010:
Independentemente de discutir se as manchetes foram ou não produzidas para a campanha, é curioso que todas elas enfatizaram os dados ruins — que são, de fato, apavorantes. Por mim, este assunto seria manchete todos os dias.
Mas, qual o motivo da campanha de Serra ter escolhido a manchete de O Globo?
Talvez porque, no mesmo programa, outras três manchetes apareceram. Adivinhem de quem: Folha, Estadão e Veja.
A da Veja desta semana, que promove crise entre Dilma Rousseff e o presidente Lula:
As chances dessa crise decolar são tão grandes quanto as minhas na São Silvestre.
Outra manchete a campanha foi buscar num Estadão relativamente velho, 06.08.2010: Dirceu e Palocci já duelam por espaço em eventual governo.
Mas a que mais me chamou a atenção foi a da Folha de 23.08.2010: Dilma já discute ministério.
A argumentação da campanha de Serra é de que Dilma está de salto alto, já briga com Lula e já escala o ministério.
Porém, a manchete realmente publicada pela Folha, na página A6 do dia 23.08.2010, foi: Dilma já discute ministério com Lula.
O problema, para a campanha, é que não pegaria bem dizer que Dilma estava se desentendendo com Lula e, a seguir, dizer que a candidata discutia com ele o suposto futuro ministério.
O que a campanha fez, então? Simplesmente cortou a manchete:
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