Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Tripudiar é preciso
Posted by eduguim on 25/08/10 • Categorized as Opinião do blog
Na edição de hoje do jornal Correio Brasiliense, o sociólogo e diretor do instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, tripudiou sobre a Folha de São Paulo. No último fim de semana, o instituto do jornal paulista chegou, com atraso flagrante, ao resultado que o Vox mostrou muito antes.
O tripúdio é um ato mesquinho, no mais das vezes. Uma atitude menor de quem precisa humilhar aquele que derrotou para a própria vitória ser completa, quando deveria lhe bastar. Contudo, como a vida não pára de nos ensinar, descobre-se que, em determinadas situações, até tripudiar é preciso.
Na situação em que o surgimento da verdade soterra uma mentira que se estendeu por meses a fio, há que martelar essa verdade mesmo depois que todos saibam dela, para que não seja esquecida.
Em 31 de março deste ano, o Vox Populi concluiria uma pesquisa que mostraria Dilma Rousseff em escala ascendente, tecnicamente empatada com José Serra (31% a 34%). Em 9 de abril, o instituto Sensus mostraria a mesma coisa (32,3% a 32,7%). Como o Datafolha, pouco depois, divulgaria pesquisa diametralmente diferente, que mostrava o tucano abrindo 12 pontos de vantagem sobre a petista ( ! ), começou um jogo sujo.
Em 6 de abril, a Folha de São Paulo, dona do Datafolha, atacou covardemente, em sua coluna “Painel”, o primeiro instituto de pesquisas concorrente que divergiu de seus resultados:
GPS 1. Segundo dados fornecidos à Justiça Eleitoral, a pesquisa Vox Populi de intenção de voto para a Presidência recém-divulgada pela Band repetiu o itinerário (incluindo ruas, casas e endereços dos entrevistados) da sondagem anterior do instituto, feita em janeiro. Em ambas, Dilma aparece em ascensão. Na mais recente está tecnicamente empatada com Serra.
GPS 2. De acordo com profissionais da área, voltar aos mesmos lugares para uma nova rodada de pesquisa é procedimento que ameaça “viciar” o resultado. Além disso, pode fazer com que partidos tentem influenciar no campo determinado. Institutos como o Datafolha optam por variar os municípios e/ou os endereços pesquisados.
*
Em 10 de abril, quatro dias depois da primeira reportagem, a Folha volta à carga com a mesma estratégia de desqualificação da concorrência do Datafolha, insinuando, em reportagem, que os institutos concorrentes haviam manipulado o questionário de suas pesquisas para favorecer Dilma:
Questionários de institutos geram polêmica
DA REDAÇÃO
A ordem das perguntas nos questionários de pesquisas e sua possível influência nos resultados vem gerando uma polêmica que envolve os institutos e é tema de discussões na internet. O Instituto Sensus é questionado por pedir que o entrevistado avalie o governo Lula antes de declarar em quem pretende votar para presidente.
Dada a alta aprovação de Lula, o entrevistado poderia se sentir compelido a declarar voto na candidata petista, dizem os críticos.
Ricardo Guedes, sócio e diretor do Sensus, afirma que o questionário seguiu “critérios acadêmicos”. “A metodologia que a gente usa é academicamente legítima, com suporte na literatura.”
Os institutos Datafolha e Ibope abrem a pesquisa perguntando em quem o eleitor pretende votar para presidente, para depois pedir que ele avalie o governo.
O diretor do Sensus diz que o Datafolha já incluiu perguntas antes de pedir que o entrevistado aponte o candidato. Ele citou uma pesquisa feita no Rio Grande do Sul, no final de março. Tratava-se de uma pergunta que questionava o interesse dos eleitores pela eleição de um modo geral, e não de uma avaliação de governo.
No caso do Vox Populi, antes de inquirir sobre a intenção do voto, o instituto apresentou no questionário de sua última pesquisa perguntas sobre o conhecimento prévio do eleitor quanto aos pré-candidatos.
Para João Francisco Meira, diretor-presidente do Vox Populi, perguntar sobre o conhecimento dos pré-candidatos antes que ele responda a intenção de voto “não faz diferença alguma no resultado final” da consulta.
“Eu quero saber qual o percentual dos eleitores que nunca ouviu falar de Marina Silva, de Dilma Rousseff, de José Serra ou de Ciro Gomes. Porque quem nunca ouviu falar de um candidato raramente vai declarar voto nele”, disse Meira.
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Em 23 de abril, diante de denúncias como essas da Folha contra o Vox Populi e o Sensus e das contra-denúncias da imprensa alternativa contra o Datafolha e o Ibope, o Movimento dos Sem Mídia impetrou representação na Procuradoria Geral Eleitoral pedindo que TODAS as pesquisas fossem investigadas.
Pois não é que, em 26 de abril, a Folha volta a atacar os concorrentes em uma matéria absolutamente desonesta, que tentava revestir de fundamento científico uma farsa gritante? Abaixo, a matéria:
Institutos divergem sobre metodologia
Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi explicam critérios para seus levantamentos sobre a intenção de voto do brasileiro
Pontos de discordância são a definição do universo pesquisado e a formulação e ordem das perguntas mostradas no levantamento
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
De 30 de março a 18 de abril, o pré-candidato a presidente pelo PSDB, José Serra, apareceu em quatro pesquisas de intenção de voto. Suas taxas variaram de 33% a 38%. No caso da ex-ministra Dilma Rousseff (PT), os percentuais foram de 28% a 32%. A diferença entre o tucano e a petista chegou a ser de um a dez pontos pontos percentuais nesse período.
Há várias razões para essa discrepância entre Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi, os institutos mais conhecidos do país. Entre as mais visíveis estão duas. Primeiro, a data de coleta de dados não foi exatamente a mesma. Segundo, a metodologia usada é diferente entre as quatro empresas.
Há grande divergência entre os institutos a respeito de qual é a melhor forma de coletar dados sobre intenção de votos. A Folha fez uma lista de perguntas e enviou para as quatro empresas detalharem seus procedimentos. A íntegra das respostas pode ser acessada por meio de link no final deste texto.
Os pontos principais de discordância são a definição do universo pesquisado (como escolher o grupo socioeconômico mais representativo do eleitorado) e a formulação e ordem das perguntas apresentadas.
O Datafolha faz sua escolha de universo a ser pesquisado mesclando dados do TSE (número de eleitores existentes em cada cidade) e do IBGE (sexo e faixa etária). “Não usamos cotas para variáveis como escolaridade ou renda familiar mensal pois não há dados atualizados para os municípios brasileiros”, diz o diretor-geral do instituto, Mauro Paulino.
Para não ocorrer distorção, o Datafolha controla algumas variáveis (renda e escolaridade) conforme o histórico de sua ampla série pesquisas.
Já o Ibope usa um sistema “de cotas proporcionais em função das variáveis sexo, idade, grau de escolaridade e setor de dependência econômica”, diz Márcia Cavallari Nunes, diretora-executiva de Atendimento e Planejamento.
Para o diretor do Sensus, Ricardo Guedes, “os dados da divisão socioeconômica geográfica do IBGE representam adequadamente o país”. O Vox Populi, de acordo com seu diretor-presidente, João Francisco Meira, “usa os dados censitários do IBGE”.
Ordem das perguntas
Apenas um dos institutos abordados nesta reportagem, o Datafolha, começa suas pesquisas sobre eleição presidencial sem “esquentar” o entrevistado. Trata-se do jargão usado no meio para designar as perguntas que oferecem algum tipo de estímulo antes de indagar sobre intenção de voto.
“A ordem das perguntas pode influenciar as respostas dos entrevistados. Dependendo dos assuntos colocados antes da pergunta central da pesquisa, seja ela sobre a aprovação do governo ou confiança no político, a resposta pode ser afetada”, diz Mauro Paulino.
Quando faz levantamentos regionais e o contratante pede uma pergunta “quebra-gelo” (outro sinônimo para “esquentar”), o Datafolha escolhe temas que não suscitem um juízo de valor sobre os candidatos.
Numa pesquisa sobre intenção de voto realizada no final de março no Rio Grande do Sul, por exemplo, o Datafolha perguntou qual era o interesse dos entrevistados pelo processo eleitoral. Só depois indagou sobre a intenção de voto. O Ibope há vários anos faz algumas perguntas de “quebra-gelo”. No último levantamento sobre voto para presidente, concluído no dia 18, indagou sobre o interesse do entrevistado pelo processo eleitoral e sobre a satisfação em relação “à vida que vem levando hoje”.
“É um tema polêmico”, diz Márcia Cavallari, do Ibope. “A única forma de comprovarmos se a ordem do questionário faz diferença seria realizarmos duas pesquisas com a mesma metodologia amostral e mesmo período de tempo, apenas com questionários diferentes”.
Para Ricardo Guedes, do Sensus, “é lícito ter perguntas que repliquem o processo natural de escolha do eleitor”. Pelo seu argumento, na hora do voto, as pessoas fazem algum tipo de reflexão sobre o desempenho do governo. Na pesquisa, portanto, seria natural buscar um comportamento semelhante.
O Sensus foi o único dos quatro institutos cuja pesquisa apontou empate técnico entre José Serra, com 33%, e Dilma Rousseff, com 32%. É também o instituto que faz mais extensivamente perguntas para “esquentar” o entrevistado.
No questionário do Sensus, antes de apurar a intenção de voto, o entrevistado é questionado sobre como avalia “o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva”. Em seguida, outra pergunta: “Por quê?”. Só depois de o entrevistado refletir sobre esse assunto é que vêm as perguntas sobre sua intenção de voto.
João Francisco Meira, do Vox Populi, acha que um instituto pode “desejar reproduzir determinada situação que vai influir na hora do voto”. Para ele, “o questionário é relevante, mas não existe um jeito mais ou menos correto”, afirma.
O Vox Populi faz primeiro a pergunta de intenção de voto com resposta espontânea (sem mostrar os nomes dos pré-candidatos). Mas antes de começar as perguntas com estimulação de resposta (mostrando os nomes de quem vai concorrer), apresenta duas indagações.
A primeira tenta aferir se o entrevistado conhece cada candidato. Em seguida, pergunta sobre cargos ocupados pelos principais políticos na disputa presidencial. O eleitor, portanto, é instado a refletir sobre quem são os candidatos antes de declarar o seu voto.
Há um outro aspecto metodológico a ser considerado: a consistência dos formulários ao longo da série de pesquisas de cada instituto.
No caso do Datafolha, o formulário se mantém inalterado ao longo de todo o processo eleitoral. O instituto também não faz pesquisas para partidos ou para políticos.
Todos as outras empresas de pesquisa aceitam serviços de partidos ou de políticos. E há também pesquisas comparadas como se fossem da mesma série, mas cujos formulários de coleta de dados são diferentes.
No caso das duas pesquisas Sensus deste ano, há diferença nas perguntas formuladas. Em janeiro, o instituto fez o seu tradicional levantamento para a CNT (Confederação Nacional do Transporte) no qual começa a coleta de dados com mais de dez perguntas sobre a situação do país, incluindo as áreas de saúde, emprego, educação, segurança pública e renda. Pergunta sobre a avaliação do governo Lula e só depois passa para o bloco de intenção de voto.
Já em abril, o Sensus fez nova pesquisa – desta vez para um sindicato de São Paulo. As perguntas prévias foram apenas sobre preferência partidária e avaliação do governo Lula, mas com uma novidade: pedia ao entrevistado que elaborasse uma resposta sobre a razão de aprovar ou desaprovar a administração do petista. É nesse levantamento que Serra e Dilma surgiram empatados.
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O resto da história, todos conhecem. Com cerca de 2.300 comentários neste blog em apoio à representação do MSM, os quais foram juntados à peça, a Procuradoria Geral Eleitoral acolheu o pedido da ONG e dos leitores do Cidadania e determinou abertura de inquérito na Polícia Federal contra os quatro institutos de pesquisa. Na pesquisa seguinte do Datafolha, feita duas semanas depois, a vantagem de Serra caiu de 12 pontos para… Zero!
É preciso tripudiar sobre o desmascaramento da Folha, sim. Marcos Coimbra fez muito bem. Pena que poucos estejam fazendo a mesma coisa. Quanto mais se divulgar os fatos que relato acima, mais se evitará que coisa igual se repita.
Não importa se você gosta ou não do Eduardo Guimarães ou do MSM. Se quer um país melhor, com uma política mais limpa, com eleições sem golpes baixos, esqueça o pessoal e pense no coletivo. Conte esta história a tantos quantos puder. Em nome da verdade, tripudie.
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