“A desigualdade social no Brasil está sendo reduzida nos últimos anos porque o país gasta menos dinheiro para ajudar o setor financeiro e mais dinheiro para ajudar o próprio Brasil”, disse o economista norte-americano James Galbraith no seminário internacional sobre governança global promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Para Galbraith, Brasil atravessa um período de “estado de bem-estar democrático” que revela aos países mais desenvolvidos um caminho diferente daquele proposto pelos dogmas neoliberais.
Maurício Thuswohl
BRASÍLIA – O economista norte-americano James Galbraith afirmou na quinta-feira (16) que o Brasil vem dando ao mundo um exemplo de como enfrentar com sucesso a crise econômica global. Segundo Galbraith, que participou em Brasília de um seminário internacional sobre governança global organizado pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), “a desigualdade social no Brasil está sendo reduzida nos últimos anos porque o país gasta menos dinheiro para ajudar o setor financeiro e mais dinheiro para ajudar o próprio Brasil”.
Ao optar por aumentar os investimentos em infra-estrutura, emprego e renda ao invés de promover arrocho para combater a crise, o Brasil, segundo Galbraith, atravessa atualmente um período de “estado de bem-estar democrático” que revela aos países mais desenvolvidos um caminho diferente daquele proposto pelos dogmas neoliberais: “O Brasil joga na cara do mundo neoliberal que pode haver crescimento social e econômico sustentável ao lado de um processo democrático funcional”, disse.
Galbraith afirmou que “o processo de governança global comandado pelo mercado financeiro e pela ideologia neoliberal desde o final dos anos oitenta foi um fracasso constrangedor”. O economista lembrou seu livro “O Estado Predatório” para afirmar que o maior perigo econômico da atualidade é deixar que as forças do mercado financeiro voltem a dominar as ações de estado: “A prosperidade dos banqueiros geralmente é contrária à prosperidade geral da população”.
A evolução da desigualdade mundial, segundo Galbraith, está diretamente ligada às diversas crises pelas quais passou o capitalismo financeiro nas três últimas décadas: “Aconteceu uma mudança abrupta e dramática a partir dos anos oitenta. As crises na América Latina, a queda do comunismo no Leste Europeu e a crise asiática de 1997 fazem parte de um fenômeno comum, proporcionado pelo domínio do mercado financeiro, que fortaleceu os países mais ricos e as pessoas mais ricas de cada país”, disse.
Essa sucessão de eventos, segundo a análise do economista norte-americano, culminou com a mais recente crise financeira global, iniciada com o estouro da bolha das hipotecas nos Estados Unidos: “Não aconteceu uma crise da Grécia, mas sim um desdobramento da grande crise de 2008, que foi a maior fraude financeira da história. E, devo dizer, não vamos sair desta crise facilmente ou em breve”.
Desmatamento
Durante o seminário, que foi organizado em parceria com a Associação Internacional de Conselhos Econômicos e Sociais e Instituições Similares (AICESIS), o Brasil, graças a sua política de combate ao desmatamento, também mereceu elogios do argentino Eduardo Viola, que é professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.
Viola citou os esforços do país para deter o desmatamento na Amazônia: “De 2004 a 2009, o Brasil reduziu o desmatamento da floresta de 24 mil hectares para sete mil hectares. É um caso único no mundo. Na medida em que o Brasil vai tomando medidas internas acertadas, torna-se um personagem cada vez mais importante nas discussões globais sobre o clima”.
O professor, no entanto, afirmou não acreditar que seja ainda válido o conceito de responsabilidades comuns, porém diferenciadas, entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento estabelecido pelo Protocolo de Quioto: “É claro que os EUA e os países da União Européia tiveram um papel histórico decisivo no aumento das emissões de gases estufa. Atualmente, no entanto, a China aumenta cada vez mais suas emissões”, exemplificou, lembrando que o país asiático_ que lança anualmente na atmosfera seis toneladas per capita de carbono enquanto os EUA emitem 20 toneladas per capita _ ainda tem “espaço” para aumentar suas emissões.
No caso dos EUA, Viola afirmou que o governo de Barack Obama “avançou muito pouco” na luta contra o aquecimento global, apesar da aprovação no ano passado de uma lei de energia e clima: “A lei aprovada é insuficiente e, em caso de vitória do Partido Republicano nas eleições parlamentares de novembro, a possibilidade de aprovação de uma lei do clima mais abrangente certamente será abandonada”, avaliou.
Fotos: Eduardo Seidl
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