Mente vazia, oficina do sistema da mídia golpista

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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Segundo turno?

O jogo complicou-se na reta final. Os institutos detectaram migração de votos de Dilma para Marina e redução significativa da diferença entre os votos na petista e a soma de seus adversários. Ou seja, aumentaram as chances de um segundo turno. 

A minha análise é que houve uma superexposição de Dilma. Ela tornou-se, finalmente, uma figura conhecida nacionalmente, e chegou perto de 60% dos votos válidos. Agora está refluindo (embora marginalmente), com eleitores optando por Marina, Plínio e, em menor escala, Serra. Essas migrações, porém, além de ser mínimas e dentro da margem de erro, são voláteis, e podem reverter-se. As pesquisas indicam que Dilma tem o percentual mais alto de eleitores que afirmam não mudar seu voto. Ela tem uma base firme.

Mas o eleitorado é imprevisível e rebelde. Diante dos números estratosféricos, quase consensuais, que cercaram Dilma por semanas, com jornais, blogs e portais afirmando diariamente que a vitória dela num primeiro turno estaria já garantida, criou-se um cansaço, um protesto silencioso contra o "fato consumado".

O tensionamento entre a candidatura Dilma e a grande mídia gerou, por sua vez, uma situação que pressionou as forças políticas pró-Dilma de tal maneira que as obrigaram a um posicionamento antimídia extremamente duro, que talvez tenha custado alguns pontos percentuais e talvez mesmo a possibilidade da vitória no primeiro turno. Foi uma espécie de sacrifício, mas necessário, pois desta vez não se pretende apenas ganhar as eleições. A ambição da esquerda é maior. É derrotar a mídia. Isso, convenhamos, é bem mais difícil do que derrotar Serra, um xaropão cuja inteligência tem sido seriamente questionada nessa disputa.

Derrotar Serra no primeiro turno parecia relativamente fácil. Vencer a mídia, por sua vez, é uma tarefa bem mais complexa. Mas a esquerda, dessa vez, mesmo a custa de uma vitória no primeiro turno, precisava ir até o fim. Até porque é uma luta antiga. Vemos hoje uma segunda edição do que aconteceu em 1964. A mídia procura vender seus candidatos não através da promoção de suas propostas, e sim pela descaracterização moral do adversário, pintado como antidemocrático e sem ética. A afirmação é repetida sistematicamente, e simultaneamente desencadeia-se uma série interminável de denúncias, as verdadeiras legitimando as falsas, as falsas ampliando o impacto das verdadeiras.

Tenho um amigo que eu considerava um eleitor certo de Dilma, em quem ele havia já declarado voto. Outro dia, conversando com ele, disse-me que votaria em Plinio... e, acrescentou, tranquilamente, em Dilma no segundo turno. Por outro lado, pareceu-me que ele se decidiu por Plínio justamente pela força descomunal exibida por Dilma Rousseff, que lhe deu confiança de poder "forçar" um pouco o voto à esquerda, votando no Psol.

A migração de votos para Marina, por sua vez, eu explico principalmente como resultado da exibição de uma entrevista de 7 minutos com Rubnei Quicoli, ex-presidiário, no Jornal Nacional, fazendo uma série de acusações gravíssimas (e escalafobéticas) contra a Casa Civil, e a subsequente queda da ministra Erenice Guerra, que produziu um grande impacto na opinião pública.

Tudo bem que o Datafolha fez uma coisa ridícula, como incluir a pergunta sobre Erenice no questionário de intenção de voto, transformando a entrevista numa verdadeira tortura psicológica para o eleitor de Dilma, que teve de enfrentar perguntas constrangedoras baseadas em denúncias sobre as quais ainda faltam os devidos esclarecimentos. Quero dizer, Erenice pode ter incorrido em nepotismo (o que não era crime antes do ano passado), mas não tráfico de influência. Seu filho pode ter cometido tráfico de influência, mas não na escala que tentou se alardear. Não se sabe ainda. A atmosfera incendiada do processo eleitoral obnubila qualquer observação isenta. Mesmo assim, mesmo desconfiando do Datafolha, que nesta eleição tem histórico de manipulação, é evidente que houve impacto. O Datafolha, desta vez, tem um pretexto concreto como argumento para a queda das intenções de voto em Dilma Rousseff.

A blogosfera às vezes se esquece que apenas uma minoria lê blogs políticos de esquerda. Já as denúncias exibidas no Jornal Nacional atingem a totalidade da população brasileira. As posições da blogosfera se expandem lentamente, ao longo de dias, semanas, meses, ou mesmo anos. Um factóide bombástico no JN provoca estragos imediatos. A pessoa termina de assistir e já é outra pessoa.

Entretanto, pode dar-se um efeito sanfona. O eleitorado, sobretudo aquele que migrou para Marina ou Plinio, vendo a possibilidade de que Serra vá para o segundo turno, pode considerar isso uma ameaça suficientemente grave para justificar outra mudança de última hora: e regressar para Dilma. O grande trunfo dela, afinal, além do apoio do presidente Lula, que mantém uma popularidade de 80% (não esqueçam desse detalhe!), é a rejeição enorme de um terço do eleitorado em relação a Serra. O tucano sabe disso e não por outra razão decidiu adotar um estilo mais pacato nessa reta final.

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