Estou bastante preocupado com a real situação política vigente hoje no Brasil. O processo eleitoral que definirá o rumo do país de uma forma que creio permanente está sendo desfigurado por um fenômeno. Enquanto escrevo, não sei se ao terminar este texto ele já terá sido ultrapassado pelos fatos de tal que é a velocidade com que factóides políticos se sucedem na dita grande imprensa.
Quando terminar de escrever este texto, talvez já esteja na praça um novo grande escândalo que fatalmente será contra Dilma Rousseff e contra o PT. Some-se isso ao fato de não haver hipótese de qualquer denúncia contra José Serra surgir e ser veiculada da forma insistente usada contra o PT, que já vai hipnotizando a alguns. E se a denúncia vier desse PT, será tratada como “novo dossiê contra tucanos”.
Nas concessões públicas de rádio e tevê, a família Marinho, dona do poder de alcançar quase cem por cento dos brasileiros com as suas transmissões, manda seus empregados desfecharem ataques virulentos ao presidente da República e à sua candidata. E o que é pior: não só a eles, mas aos seus eleitores.
Integrante do grupo de comediantes Casseta e Planeta chamou o presidente da República de picareta, de ladrão, de burro etc. No boteco da esquina? Não, na Globo – uma concessão pública. Ali, analistas políticos tomam partido escancaradamente de Serra. O jornal Folha de São Paulo, por sua vez, reedita na tevê propaganda dos anos 1990 com o óbvio propósito de comparar Lula a Hitler.
A serpente midiática colocou seu óvulo entre a sociedade civil. Na última quarta-feira, denunciei aqui o efeito maciço que as campanhas difamatórias de Globo, Folha, Veja e Estadão contra Dilma insuflaram em grupos de classe média alta, levando pessoas comuns a promoverem verdadeiros arrastões político-ideológicos intimidando a qualquer um que manifeste opiniões favoráveis à candidata do PT à Presidência.
O fundamentalismo religioso tem sido estimulado pelos grandes meios de comunicação eletrônicos e impressos, gerando milhões de e-mails e de panfletos contendo calúnias sobre a petista. Ataques à sua honra como mulher, acusações de ser homicida, prostituta, ladra se espalham e chegam a atingir, de forma estarrecedora, até a crianças.
Enfim, esta é a campanha eleitoral mais suja que vi. Nem em 1989 houve bombardeio igual. Os grupos religiosos que integram a máquina de difamação tucano-midiática não tinham expressão igual, àquela época. Tanto em número de patrulheiros quanto por falta de um instrumento como a internet. Talvez por conta da tecnologia, portanto, hoje esteja proliferando esse clima de caça às “bruxas comunistas”.
Se o eleitor de Dilma for do povo, será tachado de “desinformado” e de “burro” não só pela militância manipulada entre a sociedade civil como pelos “analistas” dos grupos econômicos do setor de comunicação supracitados; se for de classe média, será qualificado como “esquerdista de boutique” ou acusado de ter algum interesse escuso para assumir aquela posição política.
Enfim, há um processo que mergulha no seio da sociedade, em seu âmago, em cada estrato, em cada região. Nos comentários de leitores sobre o post bullying eleitoral, há relatos surpreendentes sobre as mais diversas formas de constrangimento dos eleitores de Dilma pelos de Serra, os quais superam os da adversária nas classes média-média e média-alta. São justamente os estratos em que está a maioria dos leitores de blogs como este.
Essa máquina difamatória e intimidadora se vê retroalimentada pelo noticiário, usado como “prova” de que Dilma, o PT e seus eleitores seriam todos “criminosos”, “assassinos”, “degenerados” etc.
Mesmo a mídia não dizendo que quem vota e sustenta publicamente seu voto em Dilma é criminoso, nas rodas de discussões mais descompromissadas qualquer um que defenda sua opção política pró-PT é chamado de “petralha”, termo que tem até um livro dando o perfil engendrado pelo autor para difamar qualquer cidadão que faça opção por esse partido.
O alcance desse processo é imprevisível. De um lado, eleitores de Dilma acuados pela propaganda. Em certos meios sociais, começa-se a ter medo de assumir o voto na candidata do PT. Hoje mesmo conversei com uma pessoa que trabalha em uma grande empresa e que pretende parar de escrever no Twitter porque teme ser demitida se descobrirem em quem pretende votar.
Diante de tudo isso, desse processo de inoculação de verdadeiro fascismo na sociedade por Globo, Folha, Veja, Estadão e assemelhados, fico me perguntando como enfrentar essa onda de intolerância, de ódio, de arrogância e de autoritarismo. Agora, se alguém quiser a minha opinião sobre como lidar com esse processo assustador, acho que não será possível fazê-lo com fleuma e produções cinematográficas.
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