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quarta-feira, 16 de março de 2011

O “déficit zero” não tinha sido um sucesso?


O povo gaúcho – em especial, o leitor de Zero Hora – foi bombardeado nos últimos quatro anos por notícias que anunciavam e elogiavam a fantástica recuperação das finanças do Rio Grande do Sul, façanha maior do governo tucano de Yeda Crusius, o badalado “déficit zero”.
Não é preciso ser técnico em finanças, qualquer cidadão bem informado sabe que o “déficit zero” foi uma fórmula fantasiosa criada para esconder a desordem financeira estrutural que surgiu e se agrava no estado. Essa desordem tem inúmeras causas, todas decorrentes de decisões insensatas e imprudentes de quase todos gestores públicos estaduais das últimas quatro décadas e que resultaram numa enorme dívida fundada e num imenso passivo judiciário. Dívida contratual, aliás, cujas condições – extremamente prejudiciais -, foram negociadas por um governador ex-funcionário da RBS, portanto íntimo da casa e à época o número 1 na lista dos “queridinhos de ZH”. Além disso, há uma grande despesa com os aposentados – hoje representam mais de 50% da folha – que significa um crescente déficit previdenciário. Nada disso avançou um milímetro no governo Yeda.
O que Yeda fez foi obter uma pequena melhora no equilíbrio receita-despesa à custa do desvio de bilhões e bilhões de reais que deveriam ser destinados à saúde e à educação e não o foram; à custa de um forte arrocho salarial e do sucateamento dos serviços essenciais. Só nas áreas da educação e na saúde o número de servidores ativos diminuiu 10%.
Yeda que, até o último minuto de seu governo, insistiu na absurda tese do “déficit zero” tentou um “grand finale”, um golpe de mestre, verdadeiro “fecho de ouro” para seu desastrado governo. Ao rufar de tambores e ao som de fanfarras, anunciou a herança bendita: deixava 3,6 bilhões em caixa para o novo governo que assumia! Os desavisados e mal informados soltaram foguetes e festejaram o “milagre”.
Ledo engano, farsa barata. Poucos dias depois o secretário da Fazenda que assumia anunciava o quadro real: déficit orçamentário, dívida de bilhões no caixa única e cofres zerados. A farsa do “déficit zero” virou fumaça.
ZH – em especial a sua página 10 – dá agora um giro de 180 graus. Passa a anunciar, com destaque e constante repetição a “novidade”: a crise das finanças estaduais! Nas entrelinhas, subliminarmente passa a ideia de que com o novo governo surge uma nova realidade, que maus ventos começam a soprar nos céus do Rio Grande. Mas o déficit zero não tinha sido um sucesso?
Paulo Muzell

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